(FOLHAPRESS) – Em suas recentes falas públicas, o presidente do Banco Central disse que, em breve, brasileiros vão utilizar apenas um superapp para realizar todas as suas transações financeiras com diferentes instituições.
“Em algum momento, talvez daqui a um ano e meio, dois anos, você não vai ter mais um app do Itaú, ou do Bradesco, ou do Santander, você vai ter um app que a gente chama de agregador. E aquele app vai, por meio do open finance, integrar tudo nas suas contas”, disse no último dia (10).
A fala, desacompanhada de maiores explicações, causou estranheza no primeiro momento, mas, segundo integrantes do setor, os superapps são inevitáveis.
“O superapp já é uma realidade. Quando Campos Neto fala disso, ele fala da busca da principalidade, o que já uma realidade”, diz Wagner Martin, vice-presidente da empresa de tecnologia bancária Veritran, que participa do grupo de trabalho do open finance.
Principalidade é o indicador de que determinado banco é o principal utilizado por um cliente que tem conta em determinadas instituições. Hoje, a briga no setor não é mais por correntistas, e sim por melhores índices de principalidade.
Com o open finance, o cliente já pode compartilhar seus dados com diversas instituições financeiras. No futuro próximo, além de agregar informações, os aplicativos de bancos vão permitir que os clientes mexam no dinheiro que está em outro banco.
“As pessoas passam a comparar dados que elas têm em diferentes bancos. Então, estamos numa era que os aplicativos vão ter um upgrade para terem novas funcionalidades. Vão virar marketplace. Quem tem mais de uma conta, eventualmente, vai poder preferir por um aplicativo”, disse Campos Neto.
O presidente disse ainda que os bancos estão com um alto investimento em tecnologia para desenvolver marketplaces em seus apps. “Há empresas privadas que também podem querer desenvolver esses superapps”, disse Campos Neto.
Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o gasto com tecnologia da maioria do setor em 2023 deve ser de R$ 45,1 bilhões, 29% a mais que o ano passado e um salto de 128% em relação a 2018. Os dados são referentes a 16 instituições, que representam 84% dos ativos do setor bancário no país.
“Os bancos estão fazendo muita força, muito gasto em tecnologia para desenvolver esses marketplaces, mas isso é uma coisa natural. É razoável imaginar que a briga, que sempre foi por produto, será por canal”, afirmou Campos Neto.
Varejistas tentaram capitanear este movimento no Brasil, juntando a venda de produtos com a oferta de serviços financeiros nos seus aplicativos. Com a rápida alta de juros nos últimos anos, de 2% para 13,75%, o braço bancário dessas empresas passou de alavanca à âncora, com maiores provisões contra calotes e endividamentos.
Na China, as bigtechs Alibaba e WeChat tiveram sucesso na implementação de aplicativos com 1.001 funções, integrando ecommerce e sistemas de pagamento.
“Não vimos um superapp competitivo em nenhum país, a não ser na China “, diz Marcelo Flora, sócio do BTG. Para ele, o sucesso desses aplicativos se deve à baixa circulação de moeda no país combinada à baixa penetração do cartão de crédito. “China foi direto para o QR Code”, afirma o executivo.
“Não vejo o WhatsApp fazendo o mesmo que os chineses. Os maiores bancos estão em posição privilegiada para buscar principalidade e agregar serviço. Não rola um superapp nascer do nada”, diz Martin, da Veritran.
Aplicativos financeiros já mesclam marketplace de produtos bancário de terceiros e de lojas do varejo. É o caso do Nubank.
“As instituições que conseguirem oferecer soluções mais completas, com experiências de uso superiores, atendimento de qualidade, focadas em resolver problemas reais do consumidor e trazendo impacto positivo com melhores ofertas e potencial de produtos inovadores, serão bem-sucedidas nessa corrida”, disse o banco por meio de sua assessoria de imprensa.
Não são só os bancos digitais que já iniciaram essa jornada. A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, disse que quer que o app do BB seja “o app dos apps”.
Ao apresentar o balanço do terceiro trimestre, o novo presidente da Caixa, Carlos Vieira, disse que o banco agora vai investir em tecnologia para aumentar o seu índice de principalidade.
“Existe uma evolução do sistema bancário como um todo, que passa por etapas. Se o estado final vai ser esse, nós vamos estar juntos nessa posição”, disse Vieira, quando perguntado sobre o surgimento de superapps, em entrevista sobre os resultados do banco, na última terça (15).
Para Flora, do BTG, há alguns problemas que podem acompanhar o superapps em seu nascimento. “Em app único, cliente reclama com quem? Quem irá ressarci-lo por perda? Quando há fraude, você baseia sua decisão no histórico do cliente. Às vezes, do ponto de vista legal, ele não deveria ser ressarcido, mas instituições arcam com esse ônus para que ele fique satisfeito. Em um superapp consolidador, essa é a primeira questão a ser avaliada.”
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