SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os estados do Sul e do Centro-Oeste são os campeões de bem-estar no país, de acordo com o “índice de infelicidade” (indicador que soma os dados de inflação com os de desemprego). Já os do Nordeste dominam o ranking dos mais “infelizes”.
Os dados são de um levantamento do pesquisador Daniel Duque, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas), divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo.
Mais diversificada, a economia da região Sul domina as melhores posições nos últimos oito anos, sendo quanto mais baixo o indicador, maior é o bem-estar. O destaque no período é Santa Catarina (10%). Em seguida, aparecem agora o Rio Grande do Sul (13%) e o Paraná (13,6%).
O levantamento considera a taxa de inflação acumulada em quatro trimestres para cada estado e a média da taxa de desemprego nos últimos quatro trimestres, explica o economista.
“O Sul é também uma região com grande participação da agropecuária, além de pequenas e médias indústrias. O setor formal na região também, em geral, é alto e costuma ser mais resistente aos períodos de crise”, avalia Duque.
Os números mostram catarinenses, gaúchos e paranaenses são beneficiados pela desocupação mais baixa que a média do país, uma situação parecida com a de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
No caso do Centro-Oeste a sensação de bem-estar se deve aos reflexos do bom desempenho das commodities, sobretudo a soja, que experimentam um novo ciclo de alta de preços embalado pela retomada da China após atravessar a pandemia do novo coronavírus.
Entre abril de 2020, quando o ciclo de alta ficou mais visível, e junho deste ano, o índice CRB (Commodity Research Bureau), indicador que acompanha a variação de preços de uma cesta de produtos básicos, mais que dobrou. Para a soja, em que os estados da região se destacam na produção, o aumento no índice foi de 75% no período.
Na contramão dessa tendência, nove entre os dez estados considerados mais “infelizes” são da região Norte e Nordeste, com destaque para Bahia (24,7%), Alagoas (24,3%) e Sergipe (23,9%) nas piores posições do ranking, sobretudo devido ao alto patamar de desocupação.
Duque recorda que não há atalhos para melhorar a situação desses estados. “Não há solução mágica, apenas maiores compensações financeiras, por meio de transferências diretas para região. O auxílio emergencial tem tido esse papel, mas o Bolsa Família também pode ajudar.”
A crise de 2015 e 2016 e a debacle provocada pela pandemia de Covid-19 ajudaram a piorar a sensação de bem-estar dos brasileiros. Com desemprego recorde e inflação em alta, uma reportagem recente da Folha de S.Paulo apontava que o “índice de infelicidade” dos brasileiros era o pior em cinco anos.
No primeiro trimestre, quando a taxa de desemprego atingiu 14,7%, pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, e o país atravessava a segunda onda da pandemia, o índice de infelicidade atingiu 19,83%, maior nível desde 2016.
Ao se olhar para os preços, a pressão da energia elétrica fez a inflação acelerar em maio, pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo). Em 12 meses, a alta foi de 8,06% (acima do teto, de 5,25% para este ano).
Entre 2013 e 2021, houve uma piora impressionante do Rio de Janeiro no ranking. O estado ocupava a 13ª posição há oito anos (na metade do ranking) e agora está na quinta pior colocação.
“No caso do Rio, ocorreu uma conjugação de fatores políticos e econômicos que, nos últimos anos, tem afetado o Estado desproporcionalmente em relação ao resto do país”, lembra o pesquisador.
Já São Paulo ficou praticamente estagnado no período, passando do 16º para o 15º lugar na lista. Segundo Duque, apesar de ser o estado mais rico do país, a economia local depende em grande parte do setor de serviços, que teve o emprego duramente afetado nos últimos anos.
Na comparação com os países que fazem parte da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil aparece na segunda pior posição do ranking de infelicidade, atrás apenas da Turquia, com 26,28%.
Na lista com 38 países, as melhores posições no primeiro trimestre ficaram com Japão (2,4%), Finlândia (4,40%) e Eslovênia (4,80%).
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