Quando, na terça-feira, Park Joo-seok se juntou a centenas de pessoas em uma sintoma em frente à Tertúlia Pátrio pelos direitos das pessoas com deficiência, ele estava longe de imaginar que o presidente sul-coreano declararia lei marcial poucas horas depois.
Naquele 3 de dezembro, o ativista de 29 anos estava marcando o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, mas acabou unindo-se a uma segunda desculpa: a destituição do presidente Yoon Suk-yeol.
“Viemos para a estação de metrô da Tertúlia porque queríamos passar a noite cá. Às 23h [horário local], o presidente decretou lei marcial ao vivo na TV. Alguns ficaram preocupados com a chegada de tanques, já que pessoas com deficiência teriam dificuldade em se movimentar, mas decidimos permanecer em nome da democracia”, contou ele à Lusa no terceiro dia de manifestações.
Em um exposição que surpreendeu o país, Yoon justificou a imposição da lei marcial uma vez que necessária para “erradicar forças pró-Coreia do Setentrião e proteger a ordem constitucional”, acusando a oposição de intrigar contra o Estado e planejar uma “rebelião”.
Poucas horas depois, o líder, director do governo da Coreia do Sul, uma democracia presidencialista, declarou a suspensão da lei marcial, que já havia sido revogada pelo parlamento.
“A destituição de Yoon é necessária”, afirma Park, membro da associação Solidariedade Contra a Discriminação das Pessoas com Deficiência, que mantém uma barraca na estação de metrô da Tertúlia Pátrio.
“Lei marcial só nos livros da escola”, reage Seung Hee-ko, que passava pelo lugar a caminho do parlamento. Com 18 anos, estudante do ensino médio e indecisa entre estudar Sociologia ou Filosofia, ela admite que nunca esperou que o país “chegasse a esse ponto”.
“Vivo em uma democracia. Mesmo sabendo que governos anteriores já fizeram coisas não democráticas, uma vez que exprobação, nunca achei que a Coreia do Sul seria tão pouco democrática”, observa.
Seung, que defende a queda de Yoon, aponta a prevaricação uma vez que a maior mancha no governo do presidente, citando escândalos envolvendo sua esposa e sua sogra.
“Quero viver em uma país democrática, porque quero que meus sonhos e meu horizonte sejam baseados na democracia e no que os cidadãos desejam, não no que um ditador quer”, afirma.
Ao trespassar da estação de metrô, uma povaréu de todas as idades se reúne. Em um alto-falante, toca “Do You Hear the People Sing?”, um dos temas principais do músico Les Misérables, usado uma vez que hino nos grandes protestos antigovernamentais de 2019 em Hong Kong.
Por volta das seis da tarde (nove horas a menos em Lisboa), na avenida Uisadang-daero, que leva à Tertúlia Pátrio, ouvem-se gritos de ordem contra Yoon Suk-yeol.
A temperatura é de dois graus Celsius, mas o insensível não afasta ninguém.
“Rebelde, prendam-no já”, gritam repetidamente. No caminho para o parlamento, cartazes de Yoon estão no solo, pisados por centenas de manifestantes que pedem sua prisão. Pessoas seguram velas artificiais, erguem cartazes, e uma mulher carrega uma bandeira dos Estados Unidos.
“Precisamos prender Yoon”, junta-se ao coro Youn Sik-choi, de 26 anos. “Estou cá porque tenho susto de que o presidente declare lei marcial novamente”, diz ele à Lusa, já do outro lado da avenida.
Depois, o sinal de pedestres fica virente, a polícia autoriza a passagem, e uma povaréu atravessa a avenida. Não há tensão no ar.
“A maioria da população apoia a destituição, até mesmo a polícia”, acredita Yu Hyun-mi, ilustradora formada em literatura inglesa, por volta dos 50 anos, que está participando da sintoma pela segunda noite para se juntar a essa “reunião histórica”.
Na terça-feira, ela veio “proteger o parlamento”. “Porque precisamos”, justifica Yu, que acredita que Yoon declarou lei marcial “para proteger a si mesmo e sua esposa”.
“Isto é um contra-senso, nunca esperei. Uma vez que ele teve essa ousadia?”, questiona.
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