KATNA BARAN
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Com uma parte dos espaços de lazer e esportes ainda fechados pela pandemia, as práticas de montanhismo e trilhas têm sido uma alternativa encontrada por pessoas que procuram ambientes abertos, com menos risco de contaminação pela Covid-19.
Porém, a alta demanda pelas atividades e a falta de fiscalização têm gerado aglomerações nesses locais, causando transtornos aos praticantes e risco ambiental.
Segundo a Federação Paranaense de Montanhismo (Fepam), a circulação por trilhas e morros do estado aumentou cerca de 40% nessa época, mesmo com vários períodos em que os acessos foram fechados. Parques famosos da Grande Curitiba tiveram crescimento de até 60%.
Em Santa Catarina também houve um “boom” da atividade, de acordo com a Federação de Montanhismo e Escalada do estado (Femesc). Porém, como relata Ricardo Garcia, diretor desportivo da entidade, muitos locais não têm controle de acesso, dificultando a contagem.
Presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), Marcio Hoepers, 46, aponta que a procura pelas trilhas já vinha numa crescente antes da pandemia, mas que as restrições no período fizeram aumentar a velocidade de ascensão.
“As pessoas ficaram muito tempo presas e os parques urbanos também ficaram fechados, por isso elas acabaram procurando essa atividade”, afirmou.
Na Grande Curitiba, tem sido comum a formação de filas nos pés das montanhas aos finais de semana. Na pandemia, o governo estadual reduziu em 50% a capacidade máxima de visitação aos parques e o acesso só é permitido pelas entradas oficiais, com cadastro e uso de máscaras. Apenas no Pico Paraná, o maior do Sul, com subida mais longa e difícil, é possível acampar.
Porém, como alertam fontes ouvidas pela Folha, a dificuldade e a falta de fiscalização dos espaços tem facilitado o descumprimento das regras.
“Foi estipulado um número de visitantes por dia, mas, em alguns locais, esse número é atingido em poucas horas, aí tem que esperar alguém descer para poder subir. Muita gente não usa máscara. Há trechos, como nos degraus para subida e descida nas rochas, em que há gargalo de tanta gente”, contou Hoepers, que também preside a Fepam.
Ele aponta que propriedades privadas também são usadas para acessar áreas de proteção enquanto parques estão fechados ou mesmo para burlar o controle de entrada.
A química Alessandra Honjo Ide, 31, sempre gostou de atividades na natureza, mas a pandemia foi o fator que a “empurrou” para as trilhas. Ela já fez mais de dez passeios e, depois de experiências ruins em locais com aglomerações, prefere hoje reservar um horário para a atividade fora dos finais de semana e buscar espaços menos visados.
“Quando fui em um domingo, estava muito cheio, com um público mais complicado, aqueles que adoram música alta e bagunça”, contou a curitibana sobre uma visita ao Morro do Anhangava, na região metropolitana da capital.
Para a cirurgiã Amanda Blanski de Castro, 28, de Ponta Grossa, trilhas são um escape do estresse no trabalho na linha de frente da pandemia. “É cansar o corpo para descansar a mente, é como se tivesse me recarregando”. Ela também busca horários e dias alternativos para fugir das aglomerações.
Ambas procuraram a Quintal de Casa Ecoturismo para auxílio nas atividades. A demanda da empresa aumentou 50% no último ano, segundo o sócio Dennis Julian, 47.
Ele relata que muitos grupos têm se reunido de forma amadora para subir os morros, o que representa perigo não só de contaminação pela Covid-19 mas de aumento acidentes e de maior degradação ambiental dos espaços.
“As pessoas estão praticando uma atividade sem nenhum tipo de ajuda, causando um risco gigante na parte ambiental, sanitária e de segurança. Acidentes continuam acontecendo com frequência. Deveria haver mais ações de educação, fiscalização e multa, se necessário”, disse.
Em Santa Catarina, nas trilhas dentro e fora de espaços de preservação, o controle é falho, segundo Garcia, da Femesc. “As pessoas entram nos locais de qualquer jeito, mesmo quando estavam fechados, e isso causou muita degradação de trilhas e acessos.”
Ele conta que a entidade está tentando recuperar alguns espaços, como na Pedra do Urubu, na Grande Florianópolis. “Ali, de um ano para o outro na pandemia, a alteração do leito da trilha foi descomunal, de metro para baixo. Mesmo com chuva, é algo fora do comum”, afirmou.
A preocupação é compartilhada pela bióloga e coordenadora do Cosmo (Corpo de Socorro em Montanha) Barbara Nogueira, 32. Ela aponta que a entidade já vinha alertando as autoridades do Paraná sobre o aumento no fluxo de visitação das montanhas mesmo antes da pandemia, mas que pouca coisa foi feita.
“A ausência de manejo e do órgão que regula e fiscaliza dificulta muito que essas trilhas sejam utilizadas para a sua finalidade. Queremos que as pessoas as usem, mas estamos falando de ambientes muito frágeis”, disse.
Em nota, o Instituto Água e Terra (IAT), que gerencia atividades em áreas de conservação do Paraná, informou que estabeleceu regras e controla a visitação, seguindo rigorosamente a capacidade de público reduzida para 50%, “mas que é preciso conscientização por parte de algumas pessoas” que burlam acessos oficiais.
Segundo a entidade, a Polícia Ambiental ajuda na fiscalização para conferência de visitantes sem pulseira de acesso e autos de infração já foram aplicados.
O Instituto afirmou estar trabalhando para maior controle dos espaços privados e para aumentar as autuações.
“Os visitantes devem se cadastrar nas bases oficiais do IAT para garantir sua segurança. Lá, os visitantes recebem orientações e são conferidos os seus equipamentos, assim como calçados e vestimentas adequadas para a prática da atividade. Mas estamos falando de ambientes naturais com obstáculos, podendo sim ocorrer acidentes, infelizmente”, afirmou na nota.
O Instituto de Meio Ambiente de Santa Catarina (IAM) afirmou que os parques estaduais ficaram fechados por um grande período durante a pandemia, o que impedia a entrada de visitantes, e que muitas áreas afetadas não estão sob proteção da entidade.
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