‘Sexting’ melhora comunicação e satisfação sexual de casais, diz estudo

DANIELLE CASTRO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Aquela mensagem de texto picante ou mesmo um nude ocasional podem ser o começo de uma comunicação melhor e mais satisfação sexual entre casais.

A constatação é de um estudo norte-americano feito com pessoas de 18 a 75 anos que estavam em relacionamentos monogâmicos. De acordo com a pesquisa, a prática frequente do “sexting” (envio de mensagens digitais de teor erótico) traz resultados positivos ao relacionamento.

Casais que trocavam de mensagens com teor sexual também tiveram índices melhores de comunicação sobre sexo e maior satisfação pessoal com seu envolvimento romântico.

Foram considerados sexting: conteúdo sexual e flertes digitados, conversas sobre sexo e intimidades, e envio de fotos com nudes e seminudes, além de vídeos (de si mesmo ou pornográficos) via mensagens eletrônicas.

A amostra considerou 465 entrevistas anônimas preenchidas por meio de questionário online, dos quais 86,2% dos participantes moravam com o parceiro.

O trabalho “Sexual Relationships: is sexting a relationship enhancer in intimate partner relationships?” (“Relacionamentos sexuais: o sexting é um potencializador de relacionamento em relacionamentos de parceiros íntimos?”), da pesquisadora Amanda Baker, foi apresentado ao programa de doutorado da Widener University em abril deste ano e os resultados foram publicados em artigo de mesmo nome em agosto na revista científica internacional The Journal of Sexual Medicine.

Baker afirma que a prática impacta pilares que ajudam a construir o relacionamento. “Os resultados deste estudo podem ajudar profissionais clínicos e educadores a entenderem como o sexting afeta as relações românticas”, escreve a pesquisadora.

Baker avaliou também o efeito da pandemia nos casais. Cerca de 60% dos participantes relatou um impacto negativo em seu relacionamento, sendo que 27% afirmou que a crise sanitária os aproximou e 14% relatou diminuição do sexo ou da satisfação com o relacionamento.

“O estudo descobriu que os participantes achavam que as mensagens de texto eram mais importantes do que sexting em seu relacionamento durante a pandemia”, relatou Baker.

O ativista e apresentador Cairo Still, 33, e o namorado estão juntos há 6 anos. Começaram a utilizar o sexting há 2 anos após uma crise no relacionamento. Para Still, o recurso ajudou a enfrentar o momento mais difícil da crise do coronavírus. “Acabou sendo uma redescoberta para nós. Ficamos mais juntos e próximos. Sempre que sentimos que precisamos, voltamos para o WhatsApp e combinamos como será a noite”, afirma Still.

Ele relata que já teve problemas com um nude vazado, mas que resolveu o problema melhorando a comunicação entre os dois. “Colocamos como regra: qualquer imagem que fôssemos enviar, não deixar o rosto à mostra, ou alguma parte com tatuagem”, diz o apresentador.

O estudo também mostrou que 14% dos entrevistados usaram o sexting quando estavam separados por longos períodos de tempo e 10% disseram usar como preliminar. Em contrapartida, 8% sentia-se desconfortável com a prática e não o utilizavam, e 8% mencionou que por morar junto não sentiam necessidade.

A musicista e influenciadora Nathália Rodrigues, 25, namora há 3 anos e viu no sexting um aliado para não deixar o relacionamento esfriar, além de superar o excesso de tempo junto durante os confinamentos da pandemia.

“Começamos em 2021 e continuamos usando até hoje. Apimentou mais nossa relação. Começamos pelo tradicional, de enviar apenas fotos, mas com o passar do tempo descobrimos os vídeos”, conta.

O médico Gerson Lopes, 67, coordenador do setor de medicina sexual da rede Mater Dei de Saúde, afirma que no Brasil, as mulheres e jovens tendem sempre a ser mais abertos ao novo, mas que esperava uma mudança mais significativa no padrão dos casais após a crise sanitária.

“Sexo ainda é tabu, por isso os desafios ainda são grandes para quem recorre ao sexting e outras ferramentas tecnológicas. Infelizmente, se fala mais do que na intimidade se tolera”, disse Lopes.

O médico publicou um estudo em 2020 sobre relacionamentos durante as fases de confinamento da Covid-19 e constatou que para sobrevivência da relação é preciso que parceiros que vivem separados renovem seus critérios amorosos e sexuais.

“Para quem mora junto, recomendamos a necessidade de fortalecer a intimidade. Posso dizer que sexo repetitivo, monótono, do mesmo jeito e em mesmo local, acaba estriando o desejo sexual, particularmente de mulheres”, afirma Lopes.

Já Bárbara Lucena, psicóloga e terapeuta sexual, percebeu uma intensificação da paquera por meio das redes sociais e da troca de mensagens instantâneas com conteúdo erótico e sexual.

“É importante considerar que, na atualidade, muito da comunicação acontece virtualmente. De certa forma, é natural que todas as formas de se relacionar [para trabalho, afetivamente e sexualmente] também se adaptem a esta modalidade”, afirma.

Além dos riscos à privacidade, a especialista diz que a pessoa deve estar atenta às consequências sociais e emocionais, como sentimento de culpa, arrependimento, vulnerabilidade ou insegurança. Lucena também frisa que é importante entender se esta troca de mensagens é algo que realmente se quer fazer e se conhece o parceiro a ponto de aproveitar todos os benefícios da prática.

“O sexting pode favorecer a intimidade do casal, o senso de confiança um no outro e facilitar o aspecto lúdico do sexo, fomentando a imaginação. Além disso, pode potencializar a excitação e comunicação sexual, servindo como uma forma de explorar a própria sexualidade”, pontua a psicóloga.

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