O estado de São Paulo ultrapassou neste sábado (8) a marca de 100 mil mortos pela Covid-19, uma epidemia que começou concentrada na Grande São Paulo e depois se espalhou para as demais regiões. Segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde, o total de mortes decorrentes do coronavírus desde o início de março passado chegou a 100.649 óbitos.
Em oito desses mais de 13 meses de mortes, a doença se mostrou mais letal no interior e no litoral do estado, que aplicou políticas regionalizadas, promoveu a abertura mesmo contra recomendações do centro de contingência para a pandemia do próprio governo e enfrentou dissidência de prefeitos –muitos dos quais desobedeceram as recomendações estaduais, ainda que alguns tenham tomado medidas ainda mais rígidas que as propostas pela gestão Doria.
Em abril do ano passado, 16% dos óbitos pela doença aconteceram em cidades fora da região metropolitana da capital. Um ano depois, esse percentual subiu para 53%.
Segundo dados do governo de São Paulo, 56% dos mortos pela doença no estado são homens e 71% têm 60 anos ou mais, perfil semelhante ao observado no país. Entre os pacientes internados no território paulista, a taxa de cura é de 68%.
O estado concentra 24% das mortes ocorridas no Brasil por causa da Covid. Se fosse um país, em números absolutos São Paulo seria hoje o nono no ranking mundial de óbitos pelo coronavírus, atrás de EUA, Brasil, Índia, México, Reino Unido, Itália, Rússia e França. O interior e o litoral paulista, por sua vez, seriam o 18º.
Já a Grande São Paulo, com 39 municípios e 47% da população do estado, reúne ainda mais vítimas, quando considerado todo o período da pandemia, devido sobretudo ao impacto dos meses imediatamente após a chegada do vírus. São cerca de 51% do total de óbitos registrados até o momento.
Em países asiáticos, como China e Vietnã, o aumento de casos em alguma localidade levava a uma forte restrição de movimentação de pessoas para outras localidades, o que evitou que a Covid-19 se espalhasse rapidamente.
Mas políticas rígidas nesse formato não foram tomadas no Brasil, e o vírus encontra mais condições de circular.
O aumento dos casos no interior e litoral paulista pressiona um sistema de saúde com menos recursos físicos e humanos e que, quando lotado, deságua nos hospitais da capital.
Embora o estado tenha a menor desigualdade entre capital e interior no país, o número de médicos é consideravelmente menor fora da Grande São Paulo.
Segundo o estudo Demografia Médica no Brasil de 2020, a capital tem uma proporção de 5,61 médicos para cada mil habitantes. Nas demais regiões, essa razão cai para 2,31.
Também há menos leitos de UTI. Dos cerca de 13 mil reservados para pacientes de Covid nesta semana, cerca de 5.800 (45%) ficam foram da Grande São Paulo.
Contudo, nos últimos quatro meses, alguns dos piores de toda a pandemia, houve mais óbitos nas cidades interioranas que na Grande São Paulo.
Na maior parte de abril, todas as regiões do interior tiveram mais de 80% de ocupação de UTIs, com a maioria delas ultrapassando os 90%.
Na região de Bauru, a lotação das UTIs chegou a 98%, embora novos leitos tenham sido criados. Na quarta (5), segundo o governo do estado, 9 a cada 10 vagas de terapia intensiva estavam preenchidas.
A pandemia tem sido um grande ponto de atrito entre a prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota), e o governador João Doria (PSDB). Contrária a medidas severas de restrição ao comércio, ela cobra do governo estadual a ampliação do sistema de saúde do município, que também atende cidades vizinhas.
A gestão municipal chegou a editar um decreto que ampliava o leque de atividades consideradas essenciais, flexibilizando medidas impostas pelo governo. A lei, depois suspensa pela Justiça, permitia o funcionamento, por exemplo, de shoppings, bares e salões de beleza.
Rosim também participou de uma manifestação, crítica a Doria, que pedia a abertura do comércio na cidade. O governador, por sua vez, disse que a prefeita fazia “vassalagem” ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em vez de adotar medidas para frear a Covid.
Entre as 16 regiões fora da Grande São Paulo, a que mais concentra mortes é a de Campinas. Cerca de 10% dos óbitos no estado ocorreram na região.
A cidade de Campinas é a terceira em número de mortes, com mais de 3.000 vítimas. Perde apenas para a capital e Guarulhos, as outras duas cidades mais populosas do estado.
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