SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pela primeira em quase seis anos, a Selic deve voltar a subir, ampliando a rentabilidade da renda fixa.
O mercado espera uma alta na taxa básica de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) na quarta-feira (17) entre e 0,25 a 0,75 ponto percentual. Hoje, a taxa é de 2% ao ano.
Apesar de a renda fixa render mais com juros mais altos, especialistas apontam que a Selic não deve ser o único fator a considerar na hora de tomar decisões de investimento.
No momento, o risco fiscal e a pandemia são os principais fatores de atenção e levam o mercado a esperar que o juro suba para 4% ao final do ano, segundo o boletim Focus do Banco Central, que reúne estimativas do setor.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), tido como a inflação oficial do país, porém, deve ser ainda maior, com alta de 4,10%. Ou seja, caso as expectativas se concretizem, o juro real em 2021 será negativo, pois fica abaixo da inflação.
Dessa forma, investimentos em renda fixa devem considerar o longo prazo. Para 2024, se espera uma Selic a 6%, bem acima da inflação esperada para o ano em questão, de 3,18%.
Por enquanto, porém, a poupança segue perdendo para a inflação. De acordo com dados da Economatica, no mês de fevereiro a poupança se desvalorizou 3,21%, se considerada a inflação medida pelo IPCA no mês passado.
Tamanha queda de poder aquisitivo não era registrada desde setembro de 2003 quando o investimento mais popular do Brasil teve desempenho semelhante.
Para preservar o poder de compra das economias, especialistas recomendam o investimento em produtos que têm o ganho atrelado à inflação, como o título do Tesouro IPCA+.
“Os títulos ligados à inflação perdem um pouco da atratividade em um momento de alta de juros, mas é importante tê-los na carteira para garantir ganho real”, afirma Paula Zogbi, especialista da Rico Investimentos.
Para se proteger da inflação de curto prazo, ela indica o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026.
Os juros devem subir justamente para conter a forte inflação, fruto da alta do dólar e do preço internacional das matérias-primas.
Por outro lado, títulos pós-fixados e atrelados a Selic ficam mais vantajosos com a lata nos juros.
Paula também recomenda fundos de renda fixa que tenham debêntures na composição –o que amplia o retorno por serem mais arriscados–, além de CDBs de boa avaliação de crédito com prazo de vencimento de dois anos, que podem ser encontrados com uma rentabilidade de 135% do CDI.
Antonio Van Moorsel, diretor da Acqua Investimentos, também recomenda ter CDBs na carteira.
Para investidores mais arrojados, ele aponta uma oportunidade em títulos prefixados. No caso deste produto, quanto maior a taxa de juros, menor o preço do papel. Com a expectativa de alta na Selic, o preço do papel tem caído.
Van Moorsel, no entanto, vê um certo exagero no movimento, o que levaria o preço dos títulos a subirem em uma eventual correção do mercado. A operação é de alto risco, pois o ganho está na variação do preço do papel no mercado e não na remuneração que ele paga.
“Hoje, os juros futuros precificam um cenário catastrófico e o mercado espera uma correção, especialmente após reunião do Copom”, diz ele.
Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. São a principal referência para o custo de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.
Em um sinal de aversão a risco do mercado e de alta da Selic no curto prazo, os juros futuros têm ficado mais altos.
Além da renda fixa, ações de bancos e seguradoras também podem se beneficiar de juros mais altos. Por outro lado, empresas de varejo e construção civil podem ter queda no faturamento. Companhias com uma dívida elevada também podem ser impactadas negativamente por uma Selic maior.
Segundo Guilherme Wertheimer, consultor da Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros), mesmo com juros voltando para 5% ou 6%, a Bolsa brasileira tem um potencial de valorização com a expectativa de retomada da economia.
Ele aponta empresas ligadas a commodities, bancos e empresas que são mais impactadas pela pandemia, como shoppings e companhias de turismo, como setores mais favorecidos por uma recuperação econômica.
A escolha a dedo de ações por quem não tem formação profissional, porém, não é indicada. “Escolher ações requer uma análise muito profunda e necessita da ajuda de profissionais”, diz Wertheimer.
Tanto a Planejar, como o assessor da corretora e o gerente de bancos podem oferecer ajuda na alocação.
Para deixar o aporte em ações na mão dos especialistas, o investidor também pode comprar cotas de fundos de ações ou multimercados de gestão ativa. O portfólio destes fundos está em constante mudança, de modo a ampliar os ganhos dos cotistas.
Os analistas alertam, porém, que o desempenho da economia, e consequentemente a valorização das empresas, vai depender da velocidade da vacinação no Brasil que, por enquanto, anda a passos lentos.
Especialistas também recomendam a presença de ativos ligados a outras economias na carteira para fugir do chamado “risco Brasil”, como dólar, euro e ações no exterior, via BDRs (recibo depositário de ações, na sigla em inglês) ou ETFs (fundo de índice). O ouro também é apontado como ativo de segurança.
Independente do cenário, é imprescindível que investidores diversifiquem a carteira, de modo a reduzir os riscos.
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COMO SABER SEU PERFIL DE INVESTIDOR
Antes de investir, é necessário descobrir qual o seu perfil, para determinar que riscos está disposto a correr -e, a partir daí, definir os ativos de sua carteira.
O perfil é obtido por questionários e avaliação financeira de bancos, corretoras e casas de análise. Para ter uma boa parte da carteira em ações, como no perfil arriscado, por exemplo, é preciso ter sangue frio para lidar com eventuais desvalorizações do mercado.
Conservador
Preza estabilidade do investimento. Quer saber o rendimento ao fim do mês, sem arriscar perder dinheiro ou ter surpresas no meio do caminho. No passado, mantinha toda a carteira em renda fixa, mas, com a queda da rentabilidade, analistas recomendam uma pequena alocação em fundos multimercado.
Moderado
Aceita mais oscilações nos investimentos, especialmente a longo prazo, mas também preza a garantia do retorno. Sua carteira tem mais espaço para a renda variável.
Arrojado
Está mais disposto a correr risco em nome do retorno maior. Tem mais tranquilidade para lidar com oscilações bruscas na renda variável, que ocupa boa parte da carteira.Agressivo
Não tem medo de perder em algumas aplicações para ganhar em outras. Tem sangue frio para aguentar o tranco de uma queda brusca de ações.
COMO DIVERSIFICAR INVESTIMENTOS
A diversificação depende do apetite ao risco. Conservadores devem ter a menor parte da carteira em ações, por exemplo. Veja diferentes tipos de investimento:
Pós-fixados
Acompanham a taxa de juros. Se ela sobe, a rentabilidade aumenta; se cai, o ganho diminui. São os investimentos mais seguros, e mesmo os mais arrojados têm uma parte do dinheiro nesses produtos.
Opções: poupança, CDBs, LCA e LCI, Tesouro Selic e fundos DI. A aplicação é de longo prazo, e o dinheiro fica parado até o vencimento.
Prefixados
Têm uma taxa de juros combinada no momento da aplicação, que não muda mesmo que a Selic seja alterada. Há risco em caso de venda antecipada e é o primeiro patamar de diversificação.
Opções: Tesouro prefixado e CDBs de bancos pequenos
Inflação
São investimentos que pagam uma taxa de juros fixa mais a variação da inflação. Como mudam de preço todo dia, o investidor precisa mantê-los até o vencimento para evitar risco de perdas.
Opções: Tesouro IPCA+ e CDBs de bancos pequenos
Fundos multimercados
Investem em mais de um tipo de ativo. Geralmente combinam aplicações conservadoras, como títulos públicos, com ativos mais arriscados, que podem ser dívidas de empresas (no Brasil ou no exterior) e ações. Para saber no que um fundo investe, é preciso ler o informativo.
Ações
Ações são a menor fração de capital de uma empresa, podendo ser negociada em Bolsa. Esse tipo de investimento é indicado para pessoas de perfil arrojado. É possível escolher papéis individualmente ou investir por meio de fundos de ações ou que acompanham um índice (ETFs).
GLOSSÁRIO
CDBs, LCAs e LCIs – os principais investimentos de renda fixa de bancos. Quanto maior o banco, menor a remuneração, porque o risco de calote é menor. As letras de crédito são isentas de IR. Em caso de calote, há cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira
Debêntures – títulos de dívida emitidos por empresas para financiar investimentos. Quem compra uma debênture corre o risco de calote da empresa, já que não há garantia do FGC. Quando o dinheiro é destinado a obras de infraestrutura, há isenção de Imposto de Renda
Prefixado – investimento cujo rendimento é conhecido na hora da aplicação. É vantajoso quando há expectativa de queda de juros. Como os títulos mais longos consideram que as taxas vão subir mais do que a expectativa do mercado, há chances de rendimento maior em outros tipos de renda fixa
Tesouro IPCA+ – título público emitido pelo Tesouro Nacional que paga uma taxa de juros fixa mais a variação da inflação. Garante o poder de compra do dinheiro em aplicações de longo prazo, mas pode sofrer oscilações de preços e gerar perdas em caso de resgate antes do vencimento
CDI – taxa de juro que acompanha a Selic e costuma ser referência para remuneração de investimentos de renda fixa emitidos por bancos
ETFs – fundos que replicam um índice de ações, como o Ibovespa. O ganho será, ao final de um período, o mesmo registrado pela média das ações que compõem o índice. Como é um fundo passivo (não há um gestor tomando decisões de investimento), tem taxas mais baixas
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