SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A crise dos refugiados na fronteira da Belarus com a Polônia ganhou contornos dramáticos nesta sexta (12), com o anúncio de que Rússia e Reino Unido enviaram tropas para apoiar seus respectivos aliados.
Não que haja intenções de lado a lado de algum tipo de confronto entre Moscou e membros da Otan (aliança militar ocidental), mas o risco de a situação sair do controle aumenta exponencialmente.
Por outro lado, a presença de militares das potências que apoiam as partes em conflito pode ajudar a coibir a belicosidade dos milhares de soldados poloneses e belarussos deslocados para as regiões de fronteira nesta semana.
Segundo o Ministério da Defesa em Londres, um “pequeno time” foi enviado à Polônia para “avaliar a situação em curso na fronteira com a Belarus”. Em comunicado, a pasta afirma que o apoio será focado em missões de engenharia militar.
O governo do premiê Boris Johnson tem tentado ser mais assertivo no exterior: enviou até o Pacífico seu novo porta-aviões em demonstração de força para a China e viu um navio de guerra seu ser alvo de tiros de advertência russos na costa da Crimeia.
Já em Moscou, o Ministério da Defesa informou que um grupo de paraquedistas foi enviado em um avião de transporte Il-78 para a região de Grodno, onde estão concentrados talvez 4.000 dos 15 mil refugiados de países do Oriente Médio e do sul da Ásia que chegaram nos últimos meses a Belarus.
A chegada foi acidentada. Dois paraquedistas morreram quando se engalfinharam na descida ao solo, segundo a agência Tass. O grupo fará exercícios de “preparo de combate” e, depois, voltará à Rússia.
Os aliados vêm aumentando a frequência de suas manobras militares desde que o ditador belarusso, Aleksandr Lukachenko, enfrentou protestos por ter fraudado mais uma eleição, em 2020. O recrudescimento da repressão interna levou a União Europeia a aplicar sanções contra o país, que se voltou ao protetor no Kremlin, Vladimir Putin.
Ao longo dos anos, Lukachenko jogou com a necessidade russa de tê-lo como aliado para manter um tampão estratégico entre as forças de Moscou e da Otan, mas agora o ditador está nas mãos do colega.
Em meados deste ano, Belarus se tornou um ponto focal para refugiados de países afetados por guerras. Segundo a UE e a Otan, a atração visou criar uma situação de instabilidade nas fronteiras de vizinhos pertencentes aos blocos. “O Conselho do Atlântico Norte condena fortemente a contínua instrumentalização da migração irregular criada artificialmente pela Belarus como parte de ações híbridas direcionadas à Polônia, à Lituânia e à Letônia”, afirmou a Otan em nota nesta sexta.
A Turquia, ponto de partida de diversos imigrantes, determinou nesta sexta que cidadãos do Iraque, da Síria e do Iêmen não poderiam mais voar do país para a Belarus. As empresas que fazem a rota, a Turkish e a Belavia, suspenderam esses embarques imediatamente.
Ancara estava sob pressão de parte de seus colegas da Otan e também temendo sanções ocidentais, pela suspeita de que apoiava veladamente o plano atribuído a Lukachenko -ou, de forma mais clara, como fez o governo polonês, a Putin.
Na segunda (8), o caldo entornou com uma série de tentativas de invasões por parte de refugiados junto à Polônia. Segundo o governo de Belarus, 2.000 já foram devolvidos ao país. Com dificuldade diante das evidências, a ditadura belarussa nega que tenha estimulado o movimento e denuncia a violência com que poloneses tratam quem consegue entrar em suas fronteiras.
O Ministério da Defesa de Belarus afirmou, também nesta sexta, que a Polônia e seus vizinhos estão procurando uma desculpa para iniciar um conflito. Assim, a tensão europeia se alastra, criando condições para erros táticos que impliquem risco de escalada. Nesta sexta, dois bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear russos Tu-160 foram interceptados no mar do Norte, rumando ao canal da Mancha.
Os gigantescos aviões, modelos iguais aos que foram empregados por Putin em voos sobre Belarus na quinta para mostrar apoio à ditadura, foram interceptados primeiro por F-16 belgas e, depois, por Eurofighters britânicos. Esse tipo de ação é corriqueira, mas o clima está mais acirrado do que o normal.
Os EUA afirmaram nesta semana que temem uma tentativa de invasão russa da Ucrânia, país envolvido numa disputa com Moscou desde 2014, quando Putin anexou a Crimeia.
Há cerca de 90 mil soldados deslocados a áreas russas próximas das fronteiras do Donbass, região do leste ucraniano que tem governo autônomo pró-Rússia desde a guerra civil iniciada após a anexação da península. O objetivo do Kremlin é evitar a integração de Kiev com estruturas ocidentais, notadamente a Otan. Assim como a Belarus, a Ucrânia é vista como uma área que dá profundidade estratégica a Moscou contra forças oponentes.
O Kremlin nega ter intenção de atacar o vizinho, assim como em episódio semelhante em março, e descarta a participação na concepção da crise dos refugiados.
Nesta sexta, o chanceler russo, Serguei Lavrov, conversou com seu colega francês para discutir o aumento de atividade de forças da Otan no mar Negro, que banha a Rússia e a Crimeia anexada.
Há ainda considerações econômicas. Lukachenko já ameaçou cortar o fornecimento do gás russo que passa pelo Iamal, um ramo de gasoduto que liga a Rússia à Polônia por seu território, responsável por 27% do total do produto vendido à Europa.
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