SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo da Rússia anunciou que afastou a tiros e bombas um destróier britânico da costa da Crimeia. Se confirmado em seus detalhes, o incidente é inédito desde a Guerra Fria e foi o mais grave entre forças da Otan (aliança militar ocidental) e de Moscou desde que Vladimir Putin anexou a península da Ucrânia em 2014.
O episódio ocorreu neste mês, em uma data não revelada, segundo o Ministério da Defesa da Rússia informou, disse a agência de notícias Tass. O adido militar britânico em Moscou foi chamado a dar explicações.
Já o Ministério da Defesa em Londres minimizou o incidente, afirmando que os tiros eram parte de um exercício naval russo e não foram direcionados a seu destróier. “O navio da Marinha Real está passando de forma inocente por águas territoriais da Ucrânia”, afirmou.
Segundo o relato russo, o destróier HMS Defender, que acompanhava o grupo de ataque liderado pelo porta-aviões HMS Queen Elizabeth no Mediterrâneo, destacou-se e foi conduzir manobras no mar Negro. Ele foi visto atravessando o estreito de Bósforo no dia 14 passado.
Num desses movimentos, chegou perto de águas que os russos consideram suas em torno da Crimeia. Ele foi advertido por um navio da guarda costeira russa de que deveria mudar de direção, mas segundo Moscou não respondeu.
O navio russo então disparou tiros de advertência na direção do HMS Defender e, de forma ainda mais dramática, um jato Su-24 da Frota do Mar Negro jogou quatro bombas no caminho presumido da embarcação britânica.
O HMS Defender, disse o ministério, deixou então a área sem nenhum tipo de reação, sempre segundo o relato russo.
Em abril, durante a crise na qual Putin concentrou tropas perto da fronteira da Ucrânia para deter uma suposta reabsorção das áreas rebeldes pró-Rússia no leste do país, o Kremlin fechou trechos do mar Negro a navios estrangeiros por seis meses.
Desde que anexou a Crimeia, na esteira da derrubada do governo pró-Mosou em Kiev, Putin militarizou crescentemente a península –que já sediava, mediante um acordo, a Frota do Mar Negro em Sebastopol.
A Ucrânia, que com a crise desde então não conseguiu integrar a Otan como seu novo governo desejava, passou a fazer exercícios frequentes com forças ocidentais. Putin já disse que seu imperativo é impedir que a aliança absorva o vizinho e estabeleça uma nova e grande fronteira com seu território.
Interceptações de navios e aeronaves são extremamente comuns nas áreas de atrito estratégico entre Moscou, forças da Otan, da China e de aliados americanos no Pacífico.
Na Europa, os mares Negro e Báltico são os teatros de operações mais ativos. Na semana passada, por exemplo, um grupo de bombardeiros e caças russos foi interceptado por aviões da Otan e da Suécia, um aliado ocidental que não integra a aliança, ao longo da costa báltica.
Mas é desconhecido um episódio recente com tal gravidade, a ser preciso o relato divulgado pelos russos. No ano passado, um destróier americano quase foi abalroado por outro russo perto de Vladivostok, sede da Frota do Pacífico de Moscou, mas não houve tiros envolvidos.
No mar Negro, a tensão está alta desde 2014, e a reunião de cúpula da Otan na semana passada não ajudou a esfriar os ânimos.
Nela, a primeira com a presença do presidente Joe Biden, a aliança reafirmou que considera a Rússia de Putin a maior ameaça à sua segurança. A China, aliada de Moscou, também foi incluída pela primeira vez no rol de potencial risco.
O fato de o navio envolvido na ação ser britânico demonstra uma tentativa americana de evitar uma escalada direta de tensões –Biden teve uma tensa reunião com Putin na quarta (16).
O HMS Queen Elizabeth está fazendo sua primeira viagem operacional, e depois de agir no Mediterrâneo irá para o Índico e o Pacífico, em um sinal claro para Pequim.
O porta-aviões, contudo, não carrega apenas aeronaves britânicas. Há 18 aviões furtivos ao radar F-35B, de uso naval, tanto de Londres quanto dos Fuzileiros Navais americanos a bordo. Nesta semana, eles fizeram o primeiro ataque a partir do navio, contra posições remanescentes do Estado Islâmico na Síria.
É o maior deslocamento de forças navais de Londres desde a Guerra das Malvinas, em 1982, ainda que observadores independente sejam céticos acerca da capacidade financeira de o Reino Unido manter tal tipo de poder no mar.
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