JRIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Rio de Janeiro registrou o maior número de pedidos de internação em UTIs para a Covid-19 em toda a pandemia. O recorde foi atingido no último domingo (14), quando 176 pessoas precisaram de transferências no estado, marca superior à dos picos de maio e dezembro da doença.
A segunda maior quantidade foi no dia anterior: 168, sendo que as solicitações diárias por vagas de terapia intensiva haviam chegado, no máximo, a 165 na primeira onda e a 151 na segunda.
Agora também é possível observar uma inversão no tipo de leito solicitado. No início da pandemia, as vagas de enfermaria eram as mais buscadas, mas, hoje, têm sido as de UTI, podendo indicar um agravamento dos casos.
Os fluminenses ainda vivem uma situação menos dramática do que estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rondônia, mas já veem os atendimentos na rede básica dispararem e a fila de espera por leitos voltar a crescer. Segundo especialistas, isso indica que é só questão de tempo para um terceiro colapso.
“O Rio de Janeiro está seguindo o esperado diante do que está acontecendo no resto do país, Não tem nenhum motivo para o estado não ter aumento nas internações como os outros lugares. Estão crescendo os casos e, naturalmente, vão crescer as hospitalizações”, diz Diego Xavier, epidemiologista da Fiocruz.
A taxa de ocupação de UTIs tem subido rapidamente no estado, passando de 68% para 79% em apenas dez dias, de 6 a 16 de março. A fila por transferência também cresce, tendo disparado de 34 pacientes para 171 no mesmo período.
Se no início do mês um paciente aguardava uma hora, em média, para conseguir um leito de Covid de enfermaria ou de terapia intensiva, agora precisa esperar três e seis horas para cada tipo de vaga, respectivamente.
Xavier lembra que, em relação aos números de casos e mortes, ainda estamos olhando para o retrovisor, portanto, a tendência é a de que a situação seja muito pior. E com o agravante de o colapso estar atingindo os estados ao mesmo tempo desta vez, sem a possibilidade de remanejo de profissionais e pacientes.
A Secretaria Estadual de Saúde, da gestão Cláudio Castro (PSC), divulgou uma nota nesta segunda (15) afirmando que a rede pública não está em colapso e tem leitos disponíveis. “Colapso ocorre quando a capacidade de atendimento da rede é extrapolada. E este não é o atual cenário da pandemia no estado”, justificou.
“Ainda que alguns municípios estejam com sua lotação máxima, a pactuação da central de regulação unificada permite internação em qualquer leito SUS disponível, independentemente do município de origem. Em fevereiro, a rede SUS do Rio de Janeiro recebeu 79 pacientes de Manaus e Rondônia”, disse.
A pasta ressaltou que nem todos os leitos dos municípios, porém, estão disponíveis para a regulação unificada realizada pelo estado, e que recomendou que eles se unam em uma força-tarefa para abrir as vagas e disponibilizá-las nesse sistema.
Na capital fluminense, 91% dos leitos de UTI continuam cheios, apesar das tentativas feitas pela prefeitura de Eduardo Paes (DEM) para abrir vagas. A ocupação de enfermarias saltou de 67% para 86% em oito dias, e a fila que estava zerada hoje indica 96 pacientes aguardando.
Xavier, da Fiocruz, destaca que as cidades não podem agir como ilhas. “O município acha que consegue resolver o problema dele sozinho, mas é preciso pensar num planejamento conjunto. Se o Rio decide aumentar as restrições, precisa que as cidades da Baixada, Niterói etc. também o façam. O vírus não segue limites administrativos.”
No início do mês, Eduardo Paes impôs restrições, como a proibição da permanência nas ruas das 23h às 5h e o fechamento de bares e restaurantes às 17h. Na última quinta (11), porém, decidiu flexibilizar algumas dessas regras, voltando a permitir ambulantes nas areias e ampliando o horário dos estabelecimentos para 21h.
O governador, de maneira geral, estendeu as mesmas medidas para o resto do estado –liberou bares e restaurantes até as 23h, mas deixou maiores limitações a cargo de cada município. Questionado sobre a demora nas restrições, Castro respondeu que “só agora a [área] técnica disse que era hora de fazer uma intervenção”.
“Os gestores estão querendo remediar o problema depois que ele já está instalado. A solução não está em abrir leitos, e sim em diminuir o número de casos. Além disso, a abertura de leitos não é infinita. Você pode montar a estrutura de um dia para o outro, mas você não forma profissionais de saúde de um dia para o outro”, afirma Xavier.
Os hospitais federais do Rio são um exemplo dessa situação. Um terço dos leitos geridos pelo Ministério da Saúde na cidade estão bloqueados (851 até a última quarta-feira), metade deles por falta de funcionários (397).
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