Rival da Zara, Mango volta ao Brasil pelas mãos da Dafiti

DANIELE MADUREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bolhas, lambreta ou manga? A última opção foi a escolhida pelo empresário turco Isak Andic Ermay, nacionalizado espanhol, para batizar a sua loja de roupas, lançada em 1984 em Barcelona. Andic já tinha registrado os nomes “Bubbles” e “Scooter”, mas uma viagem de férias às Filipinas no início dos anos 1980 o fez experimentar a manga -e a fruta o encantou.

Hoje, a Mango, rede de fast fashion presente em 115 mercados, com faturamento na casa de 2,69 bilhões de euros (R$ 14,9 bilhões) e uma das maiores rivais da também espanhola Zara, está prestes a voltar a ser vendida no Brasil, agora pelas mãos da varejista de moda online Dafiti. A loja online da marca de roupas casuais será oficialmente inaugurada nesta segunda-feira (13), com uma campanha digital.

Há dez anos, em janeiro de 2013, a Mango fechou a sua última loja física no país, no Rio. Depois de somar pouco mais de uma dezena de lojas, desistiu de continuar no Brasil, reclamando da burocracia e dos impostos de importação. A varejista espanhola tentou enveredar pela venda online, mas a pouca familiaridade do brasileiro com a modalidade na época não ajudou os planos.
Em 2023, depois que a pandemia forçou os consumidores a expandir seu consumo digital, inclusive de moda, a Dafiti aposta que a empreitada terá sucesso.

“Interessa à Dafiti fazer parte de um grupo internacional de moda, que ofereça um sortimento estratégico, complementar às marcas que já oferecemos no país”, disse Fábio Fadel, diretor geral da Dafiti no Brasil. Foi a brasileira quem procurou a espanhola há cerca de nove meses, para dar início a uma parceria. A Dafiti será a responsável pela curadoria das peças no Brasil.

A varejista de moda online, que também tem operações na Argentina, na Colômbia e no Chile, já trabalha no país com exclusividade as marcas internacionais Forever 21 (moda jovem), GAP (moda básica) e Ralph Lauren (acessórios e luxo).

A Mango será uma “marca premium de entrada”, segundo Fadel, voltada a mulheres maduras das classes A e B, dispostas a pagar em torno de R$ 300, em média, por peça (a coleção tem modelos de R$ 150 a R$ 500). O que já será um desafio para a Dafiti, a julgar pelos dados do relatório Webshoppers 47 elaborado pela NielsenIQ Ebit e obtidos com exclusividade pela Folha.

De acordo com o levantamento, em 2022, o tíquete médio gasto na categoria moda e acessórios no Brasil foi de R$ 192, alta de 9% sobre os R$ 176 de 2021 (valores nominais). A categoria representou 4% do faturamento bruto do comércio eletrônico no ano passado, o equivalente a R$ 10,5 bilhões. Estes dados não consideram os varejistas online estrangeiros (crossborders), como a Shein, que se tornou um fenômeno de vendas no Brasil.

No ano passado, a varejista asiática gerou filas nas duas lojas pop-up que abriu em São Paulo e no Rio. Para este ano, promete novos pontos de venda temporários. A concorrência com a popular Shein, que oferece fast fashion a preços agressivos, não deve incomodar a Mango, na opinião de Fadel.

“A cliente da Shein busca uma roupa com alguma informação de moda, que acaba sendo substituída com facilidade”, diz o executivo. “Já a cliente da Mango não quer nada tão perecível e sazonal e paga por itens de maior qualidade.”

No ranking de faturamento do comércio eletrônico, a categoria moda e acessórios caiu do sexto para o sétimo lugar em 2022, atrás das categorias de eletrodomésticos, telefonia, casa e decoração, informática, eletrônicos e esporte/lazer. Já no ranking de número de pedidos, a categoria caiu da quarta para a sexta posição, atrás de perfumaria e cosméticos, casa e decoração, alimentos e bebidas, saúde e eletrodomésticos.

Segundo o relatório Webshoppers, as mulheres respondem por 77% dos pedidos online da categoria moda e acessórios. Em 2022, 63% dos pedidos de moda e acessórios começaram nas redes sociais ou nos mecanismos de busca. Não por acaso, cerca de dois terços dos pedidos foram feitos pelo celular.

Fadel, ex-Pernambucanas, acredita que a pandemia ajudou o brasileiro a se acostumar a comprar pelo Instagram e pelo WhatsApp. Houve uma desaceleração nas compras online no último ano, com o retorno mais forte das lojas físicas, mas agora a tendência é o cliente se acomodar “entre os dois mundos.”
“Vivemos a bolha digital, depois tivemos o retorno forte ao físico, agora vamos explorar o melhor dos dois canais de venda”, diz ele.

Em um primeiro momento, serão oferecidas peças Mango apenas ao público feminino, em dez vezes sem juros -mesma condição adotada para todas as marcas comercializadas pela Dafiti. “A depender do resultado, vamos trazer coleção masculina e infantil também”, diz Fadel.

No Brasil, haverá apenas a importação das peças Mango. Por enquanto, o acordo entre Dafiti e a marca espanhola não contempla a produção local de peças, o que já é adotado com a Forever 21. A marca de moda jovem fechou suas lojas físicas no Brasil no ano passado -mesma época em que a Dafiti passou a comercializar a marca no ambiente online.

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