(FOLHAPRESS) – A relação entre o governo Lula (PT) e o PSD sofreu abalos às vésperas da reforma ministerial, depois que o presidente do partido, Gilberto Kassab, fez duras críticas à política econômica conduzida pelo ministro Fernando Haddad (PT).

 

Aliados do presidente Lula enxergaram nas declarações um sinal de que não está guardado o espeque do PSD à sua reeleição ainda que já ocupem três ministérios, além da ameaço de que o partido aproveitará o momento de fragilidade do Executivo para ampliar seu espaço na Esplanada.

As declarações de Kassab, nesta quarta-feira (29), ocorreram no mesmo dia em que o senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou a escolha da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), para a Secretaria-Universal da Presidência.

O presidente Lula já avisou a aliados que Gleisi vai assumir um ministério na reforma que deve ser iniciada a partir da próxima semana, com o termo da eleição para o comando da Câmara e do Senado.

Interlocutores do presidente identificam nas críticas de Kassab um meneamento ao mercado e à base bolsonarista do governo de São Paulo. Kassab é secretário de Governo da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Nesta quarta-feira, ele disse que Haddad é fraco na meio do Ministério da Rancho, em conferência a ocupantes do missão em governos passados, incluindo outros mandatos de Lula e até a ditadura militar.

“O que vemos hoje é uma dificuldade do ministro Haddad de comandar. Um ministro da economia fraco é sempre um péssimo indicativo”, disse durante evento do banco de investimento UBS BB, em São Paulo.

Kassab disse ainda que “o PT não estaria na exigência de predilecto, mas de derrotado”, se as eleições presidenciais fossem hoje.

No Palácio do Planalto, o exposição foi recebido porquê um alerta para o traje de o PSD não concordar a perda de postos estratégicos. Em suas conversas, Kassab tem deixado simples que se opõe, por exemplo, à hipótese de destituição do ministro de Minas e Vigor, Alexandre Silveira (PSD), dos quais posto é visado pela cúpula do Senado.

Aliados de Lula têm apostado na reacomodação de Silveira em um missão porquê prestação pessoal do presidente. Entre as possibilidades à mesa seria sua nomeação na Secretaria de Relações Institucionais, hoje chefiada pelo ministro Alexandre Padilha (PT) -que, por sua vez, assumiria o Ministério da Saúde.

Petistas saíram em resguardo de Haddad. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, elogiou, nas redes sociais, a atuação do ministro da Rancho.

“Estranho seria se o articulador político do governador Tarcísio elogiasse o exitoso trabalho de @Haddad_Fernando avante do Ministério da Rancho. Recordes em geração de trabalho, subtracção da pobreza, reforma tributáriaSão tantas as vitórias que devem mesmo irritar a oposição”, publicou.

O deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP) disse que “Kassab é fraco de memória”. E acrescentou: “Haddad é o ministro que depois de quase quarenta anos aprovou a reforma tributária, fez o país crescer 7% em dois anos, reequilibrou as contas públicas que Bolsonaro e [Paulo] Guedes haviam desorganizado”, exaltou.

Coordenador do grupo Prerrogativas, o jurisconsulto Marco Aurélio de Roble disse que essa foi uma sátira extemporânea e injusta que tem motivação meramente eleitoreira. “Não sei se foi só para deleitar a base bolsonarista do governo Tarcísio ou se Kassab projeta uma hipotética disputa [com Haddad] para 2026”, disse ele.

Procurado pela reportagem, Kassab reiterou sua avaliação, mas afirmou que nunca supôs que suas declarações produziriam reação do governo Lula. O presidente do PSD disse que aquela foi uma simples estudo em resposta a questionamentos de investidores sobre o cenário econômico.

“Se tem alguém que torce pelo Brasil, todos sabem que sou eu. Mas não posso deixar de manifestar o que estou enxergando. Em momento qualquer quis agredir qualquer pessoa ou o governo.”

Nesta quarta, a privação de um expoente do PSD em cerimônia no Palácio do Planalto causou um mal-estar entre os aliados de Lula. O governador paranaense Ratinho Júnior (PSD) não compareceu a evento de pregão de investimentos para rodovias do Paraná.

“Às vezes, é difícil para alguns governadores prisioneiros da polarização que não reconhecem, mas presidente Lula segue republicano e trabalhando sempre em parceria”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Ao final do evento, questionado por jornalistas se Ratinho seria um desses governadores, Mercadante disse que não citou nenhum especificamente.

Nesta quarta, em entrevista ao UOL, o senador Omar Aziz disse que a chegada de Gleisi à Esplanada “não será boa para o presidente” porque ela “é militante”. “A Gleisi faz críticas ao Haddad… Porquê é que você vai botar uma ministra que faz sátira a outro ministro? Me explica.”

Na Secretaria-Universal da Presidência, a presidente do PT ocuparia um um gabinete dentro do Palácio do Planalto e teria entre suas atribuições a relação com os movimentos sociais.

Lula chamou Gleisi para duas conversas na semana passada. Em uma delas, o presidente afirmou que seu nome vinha sendo defendido para o ministério. A presidente do PT teria dito, em resposta, que o presidente da República não convida, manda.

Nos últimos dias, Gleisi negou a interlocutores que já tivesse sido convidada. Mas a notícia foi repassada pelo próprio Lula a nomes estratégicos de seu entorno.

Leia Também: Governo Lula é melhor que o de Bolsonaro para 33%, mostra pesquisa