SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O médico responsável pela equipe que atendeu o papa Francisco, Sergio Alfieri, afirmou em uma entrevista publicada nesta terça-feira (25) pelo jornal italiano Corriere della Sera, que o pontífice esteve em “situação perdida” e foi salvo por algo “como um milagre”.

 

O líder do time médico do hospital Agostino Gemelli, de Roma, contou que o pior momento da internação foi o fim do dia 28 de fevereiro, quando Francisco teve uma crise respiratória, com broncoespasmo e falta de ar. Naquele momento, segundo o relato de Alfieri, as pessoas que o acompanhavam demonstraram apreensão com lágrimas nos olhos.

“Estávamos todos cientes de que a situação havia piorado ainda mais e que havia o risco de ele não sobreviver”, afirmou. O médico detalhou que a equipe precisou decidir entre “parar [os esforços] e deixá-lo ir ou forçá-lo e tentar todos os medicamentos e terapias possíveis, correndo o risco muito alto de danificar outros órgãos”.

A decisão final sempre foi do Santo Padre, segundo ele, por meio de Massimiliano Strappetti, assistente pessoal a quem o pontífice delegou essa tarefa. A orientação, nas crises, sempre foi “tente de tudo, não desista”.

Por desejo próprio, o papa esteve ciente de seu quadro clínico durante todo o tempo no hospital. Mesmo nos momentos de crise, segundo Alfieri, o pontífice permaneceu consciente. É a isso, inclusive, que o médico atribui parte do sucesso no tratamento -para ele, “sua consciência também foi a razão que o manteve vivo”.

A segunda crise de Francisco -o pior momento, segundo Alfieri- aconteceu quando o papa comia uma pizza, engasgou e inalou um pedaço do alimento. Havia risco de morte súbita, segundo o médico. “Foi terrível, realmente achamos que não conseguiríamos”, afirmou.

Além dos esforços técnicos que a equipe médica empregou, Alfieri credita o desenrolar exitoso também às orações voltadas ao papa. “Há uma publicação científica segundo a qual as orações dão força aos doentes; neste caso o mundo inteiro começou a rezar”, afirmou o médico. “Posso dizer que duas vezes a situação foi perdida, e então aconteceu como um milagre.”

O médico ainda ressaltou que o papa permaneceu, durante todo o tempo, cooperativo com a equipe, inclusive ao decidir se internar. Em 14 de fevereiro, “quando ele começou a respirar cada vez mais com dificuldade, percebeu que não podia mais esperar”, relatou.

A cooperação se estendeu a outros pacientes do hospital, que testemunharam os momentos de melhora com Francisco andando pelos corredores e demonstrando o que o médico afirmou ser “a mente de um homem de cinquenta anos”.

Para os próximos dois meses, Alfieri prescreveu um período de convalescença protegida -tempo em que o pontífice deve se recuperar das intercorrências, evitar grandes esforços e contato com enfermos, crianças ou grandes grupos de pessoas. Com as orientações de precaução, a visita oficial do rei Charles 3º, do Reino Unido, e de sua esposa, Camila, ao Vaticano, prevista para abril, foi adiada “em comum acordo”, segundo o Palácio de Buckingham.

O médico afirmou ter conversado com Francisco e relatou a promessa de “não desperdiçar o esforço que fizemos”. Ao contar sobre o momento que mais o marcou, ele contou: “Quando o vi sair do quarto no décimo andar do Gemelli vestido de branco. É a emoção de ver o homem se tornar papa novamente”.