BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), confirmou a decisão de colocar todo o estado sob a onda roxa, a fase mais restritiva do plano que orienta medidas contra o coronavírus, a partir de quarta-feira (17), devido ao aumento de casos, mortes e à pressão crescente na demanda por leitos.
É a única fase em que a adesão às medidas é obrigatória a todos os municípios. Ela prevê ações como toque de recolher entre 20h e 5h e restrição à circulação de pessoas.
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Hotéis só podem receber trabalhadores de serviços essenciais, pessoas que os utilizam como residência ou caso seja local para isolamento se houver suspeita ou confirmação de Covid-19. Barreiras sanitárias devem ser instaladas, com modelo ainda em discussão.
Zema lembrou que essa é a medida mais extrema adotada em um ano de pandemia do novo coronavírus em Minas e disse que a decisão foi tomada para evitar cenas que só são vistas em filmes de horror, com pessoas pedindo atendimento sem vagas suficientes.
“Num momento como esse, qualquer pessoa contaminada a mais pode ser um óbito a mais, porque o estado não tem mais capacidade de atendimento. Nós estamos vivendo um momento excepcional e ele exige medidas excepcionais”, afirmou Zema a jornalistas nesta terça-feira.
“Se não adotarmos essas medidas, esse número só tende a aumentar. Então, é uma questão humanitária, todos precisamos ter consciência. Quem sai na rua desnecessariamente, quem faz aglomeração, na minha opinião, pode ser tachado de assassino”.
A chamada onda roxa do Minas Consciente, que orienta a flexibilização das atividades na pandemia, foi criada no início de março, quando regiões do estado passaram a enfrentar cenário de colapso na rede de saúde. As medidas são válidas e revisadas a cada 15 dias, tempo comum para avaliar efeitos de infecção e internação, segundo o governo.
Até então, quatro macrorregiões do estado e quatro microrregiões estavam seguindo as determinações da fase, que tem medidas de lockdown. O anúncio de que todo o estado teria que segui-la foi anunciado na noite de segunda por Zema, depois de reunião com prefeitos.
O novo secretário estadual de saúde, Fábio Baccheretti, afirma que nem nas regiões sob a onda roxa a população tem respeitado as orientações para aumentar o grau de isolamento social -desde outubro, as taxas de isolamento em Minas tiveram queda, chegando a 30%.
“É difícil, todo mundo cansado, mas temos que entender que são 15 dias de grande sacrifício para que os hospitais consigam respirar e a gente consiga progredir dentro do Minas Consciente”, afirmou ele.
Baccheretti assumiu o cargo na última segunda-feira (15), depois que seu antecessor foi demitido após denúncias de fura-fila da vacinação envolvendo servidores da pasta – o próprio secretário foi um dos imunizados. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais e em uma CPI instaurada na Assembleia Legislativa. Nesta terça, Zema voltou a afirmar que não tinha conhecimento sobre a imunização de servidores.
O governador falou ainda sobre a ocupação de leitos no estado, um dos motivos que levou à adoção de medidas mais duras agora. A ocupação disparou em março, em Minas, em uma velocidade muito maior do que a capacidade de resposta da rede para ampliar as vagas. A maior dificuldade, segundo o governo, está em conseguir recursos humanos para garantir o atendimento.
“Estamos vivendo um momento de alta taxa de incidência e ocupação de leitos. É a primeira vez que as unidades de saúde de todas as regiões estão sobrecarregadas. Não temos mais capacidade de transferir pacientes de uma macrorregião para outra, e isso faz com que a gente adote medidas mais duras”, explicou o secretário de Saúde.
Como a onda roxa é impositiva, mesmo municípios que não seguiam o Minas Consciente têm que adotar as medidas. Zema citou que casos em que haja resistência devem ser tratados pelas instituições de Justiça, como ocorreu em outros momentos da pandemia, em que o Ministério Público interveio.
O governador deixou a critério dos prefeitos a adoção ou não das medidas recomendas pelo plano criado pelo estado, no decorrer da pandemia, e chegou a criticar várias vezes, em entrevistas, as medidas adotadas por Alexandre Kalil (PSD), em Belo Horizonte, que optou por manter parte do comércio fechado por alguns meses.
A prefeitura de Belo Horizonte, que desde o início da pandemia teve protocolo próprio, orientado por um comitê de especialistas, salientou que a fase não depende de adesão e que conta com a Polícia Militar para fiscalizar as novas medidas de restrição de circulação previstas na onda roxa.
A gestão Kalil já vinha endurecendo as medidas na capital desde o dia 6 de março, quando o prefeito anunciou o fechamento de atividades e afirmou que a capital havia voltado à estaca zero.
No anúncio desta terça, Zema afirmou ainda que o governo está correndo atrás de cinco tipos de vacinas e garantiu que, se os laboratórios oferecerem lotes para estados e municípios, Minas irá adquirir doses próprias.
Ele também afirmou que pediu uma avaliação à Secretaria da Fazenda sobre setores que serão impactados com a paralisação das atividades e que ações podem ser adotadas para compensação.
Na tarde de terça, Zema anunciou nas redes sociais que eventos esportivos, mesmo sem público, estão suspensos no estado a partir da próxima segunda-feira, devido às medidas da onda roxa. Jogos da SuperLiga de Vôlei e do Campeonato Mineiro, programados para domingo, irão ocorrer com protocolos de segurança e observando o horário do toque de recolher.
Nesta terça, a ocupação de leitos de UTI Covid do SUS em Minas chegou a 81,6% – somando todos os leitos de UTI públicas da rede estadual, não apenas aqueles voltados à pandemia, a ocupação total é de 83,9%. O estado teve 28 mortes confirmadas entre segunda e terça e 6.903 novos casos, segundo o boletim epidemiológico.
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