Queiroga compara máscaras a preservativos ao criticar uso obrigatório

MATHEUS ROCHA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O ministro Marcelo Queiroga criticou nesta sexta (8) a obrigatoriedade no uso das máscaras para combater a transmissão do coronavírus. Em evento no Piauí, Queiroga, que é médico, afirmou considerar ineficazes as leis que obrigam o uso do equipamentos de proteção.

“Tem que acabar com essa narrativa. O nosso problema não é máscara. A gente tem é que desmascarar determinadas pessoas aí, que ficam com narrativas que não se sustentam”, disse o ministro.
Em seguida, para justificar o seu ponto de vista, o ministro fez uma comparação do uso de máscara com o de preservativos.

“Preservativos diminuem doenças sexualmente transmissíveis, mas vou fazer uma lei para obrigar as pessoas a usá-los? Imagina.”

Não é a primeira vez que o ministro se diz contrário à obrigatoriedade do uso das máscaras. Durante entrevista em agosto ao Terça Livre, canal bolsonarista investigado por disseminar fake news, ele afirmou não concordar com a legislação que obriga o uso do utensílio.

“O Brasil tem muitas leis e as pessoas, infelizmente, não observam. O uso de máscaras tem de ser um ato de conscientização.”

Especialistas, no entanto, afirmam que a obrigatoriedade do uso das máscaras é essencial para conter a transmissão do coronavírus. Uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA expôs 139 pessoas a dois cabeleireiros infectados pela coronavírus. Todas os participantes da pesquisa usaram máscara. Como resultado, nenhum deles contraiu o vírus.

Virologista da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Maurício Nogueira afirma que a obrigatoriedade do uso das máscaras é crucial para combater a pandemia.

“Elas diminuem a transmissão, o que é fundamental para manter a pandemia sob controle e promover a retomada da economia, algo tão desejado”, diz ele, reforçando que a importância das máscaras já foi comprovada por diversos trabalhos científicos. “Não existe dúvida científica sobre isso.”
Nogueira acrescenta que a postura negacionista do governo Bolsonaro contribuiu para o agravamento da pandemia, que já matou mais de 600 mil pessoas no Brasil.​

“Nós vacinamos muito pouco no começo. Se nós tivéssemos vacinado mais, teríamos tido um menor número de mortos no pico da pandemia, que foi em maio e abril deste ano”, diz o especialista. “Ao negar as vacinas, o uso de máscaras e promover o tratamento precoce, o presidente promoveu também a pandemia no Brasil”​

Apesar dos benefícios do uso da máscara, o governo Bolsonaro tenta desestimular o uso da peça. Em junho, o mandatário disse que Queiroga preparava um parecer para desobrigar o uso da proteção por quem já foi vacinado contra a Covid ou quem já se infectou com o vírus.

No entanto, mesmo pessoas vacinadas ou que já tenham sido infectadas podem transmitir o Sars-CoV-2.

Além de criticar a obrigatoriedade no uso de máscaras, Bolsonaro também já investiu contra as medidas de isolamento social. Em maio, ele acionou o STF para derrubar as medidas restritivas adotadas no Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraná. O ministro Barroso, porém, negou o pedido, argumentando que os estados e munícipios têm a prerrogativa para adotar as determinações.

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