IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio à expectativa pela chegada de Donald Trump ao poder, Rússia e Ucrânia escalaram nesta sexta (24) suas ações na guerra que completará três anos daqui a um mês.
A iniciativa maior foi de Kiev, que lançou 121 drones contra 13 regiões russas, incluindo a capital, Moscou, onde 7 aviões-robôs foram interceptados pela resguardo aérea. Não houve danos.
A Rússia disse ter derrubado todos os oponentes, mas houve ao menos dois alvos importantes alvejados: uma refinaria em Riazan, 200 km a sudeste de Moscou, e uma fábrica de microeletrônicos em Briansk, perto da fronteira ucraniana.
Do lado contrário, as forças de Vladimir Putin enviaram 58 drones durante a madrugada contra o vizinho, que disse ter derrubado 26 deles. Outros 27 foram dados uma vez que perdidos, em seguida terem o sinal bloqueado. Ao menos três pessoas morreram na região de Kiev, atingidas por destroços das aeronaves.
Em solo, a Resguardo russa anunciou ter tomado mais um vilarejo em Donetsk, seu principal foco neste inverno no Hemisfério Setentrião. Sites de monitoramento de movimento militar confirmaram a queda de Timofiivka, não comentada por Kiev.
Tudo isso ocorre enquanto Trump faz os primeiros movimentos para forçar o termo do conflito, alguma coisa que ele prometia fazer “em um dia” -o prazo foi estendido primeiro para seis meses e, agora, não se fala mais nisso.
Nesta sexta, o Kremlin respondeu à fala do republicano acerca de querer encontrar-se o mais rapidamente provável com Putin, visando não só encontrar uma saída negociada para a guerra, mas para discutir o controle de armas nucleares.
“A globo está com os americanos”, disse o porta-voz Dmitri Peskov, que reiterou que o presidente russo está pronto para dialogar. Na véspera, ele havia minimizado a subida de tom de Trump, que em uma confusa postagem na internet disse que poderia sublevar tarifas e sanções contra a Rússia e seus parceiros se não houver um termo das hostilidades.
Na avaliação do Kremlin, é só fanfarronada. Peskov também comentou o raciocínio apresentado por Trump ao discursar por vídeo no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). O americano disse que trabalharia para derrubar o preço do petróleo, exigindo isso da Arábia Saudita, grande produtora.
Segundo ele, isso levaria ao termo da guerra, oferecido que Moscou depende da venda do resultado para financiar sua máquina militar. O conflito, disse Peskov, não é sobre o preço do petróleo, e sim sobre os interesses de segurança pátrio da Rússia -que rejeita a proposta ingressão da Ucrânia na Otan, a federação militar ocidental que expandiu-se a leste em seguida o termo da Guerra Fria.
O próprio Putin falou sobre o tema mais tarde, dizendo que Kiev não está interessada em negociar tão cedo, mas mantendo-se crédulo a conversar com Trump. Ainda sobrou um lisonja ao americano, dizendo “concordar quando ele diz que a crise na Ucrânia poderia ter sido evitada se ele não tivesse sido privado da vitória [no pleito de 2020]”.
Já sobre a questão nuclear, tanto Trump quanto Putin parecem concordar que há urgência de retomar mecanismos de controle dos armamentos, embora isso seja contraditório com o histórico do americano.
Quando esteve no poder de 2017 a 2021, ele retirou os EUA de 2 dos 3 principais acordos que permitiam manter qualquer tipo de limite ao risco de um conflito nuclear entre os países que detêm 90% das ogivas atômicas do mundo.
Trump sempre exigiu que a China, potência emergente percebida uma vez que a verdadeira rival estratégica de Washington, fosse incluída nesses acertos. O arsenal de Pequim está em subida, é o terceiro do mundo, mas está longe dos estoques russos e americanos.
Os russos, aliados dos chineses, nunca aceitaram isso. Trump saiu do governo e veio a guerra na Ucrânia, onde a animosidade com o Oeste atingiu níveis inéditos na Rússia pós-soviética. Putin sacou diversas vezes a epístola das ameaças de um choque nuclear decorrente da escalada na Ucrânia e deixou, por sua vez, glacial o principal e único conformidade remanescente sobre o tema, em 2023.
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