IGOR GIELOW (FOLHAPRESS) – O presidente Vladimir Putin reagiu ao embargo dos Estados Unidos ao petróleo e ao gás natural de seu país anunciando que vai proibir ou limitar o comércio de matérias-primas da Rússia até o fim deste ano.
A lista de produtos e países que serão afetados será elaborada em até dois dias, segundo o decreto presidencial divulgado pelo Kremlin. Com isso, a Rússia nem venderá, nem comprará produtos básicos.
A ação do presidente americano, Joe Biden, coordenada segundo ele com seus aliados ocidentais, visa punir a Rússia pela guerra que iniciou ao invadir a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro. Ela se soma a uma série de duras sanções econômicas.
Os principais bancos do país foram desconectados do sistema internacional de pagamentos, cerca de 250 empresas estrangeiras deixaram a Rússia e mesmo o acesso do Banco Central aos US$ 640 bilhões de reservas cambiais foi degradado.
A principal retaliação russa deverá ocorrer contra a Europa.
Na segunda-feira (7), o vice-premiê Alexander Novak disse que o gasoduto Nord Stream 1, que leva até 55 bilhões de metros cúbicos do produto todo ano da Rússia para a Alemanha, poderá ser fechado.
Há anos os EUA criticam os europeus pela ligação energética com Putin, e empresas sócias do Nord Stream já sofreram sanções de Washington.
Já a proibição de exportação de petróleo deverá atingir todos os países da lista de nações consideradas hostis na crise ucraniana pelo Kremlin, como os 27 integrantes da União Europeia, Japão e Austrália.
O Brasil não está nessa lista, e provavelmente poderá até auferir algum ganho na crise exportando produtos que serão proibidos a outros países
Isso não compensará os choques, evidentemente, do uso da chamada “bomba atômica das sanções” por parte dos EUA, visando punir Putin pela guerra. O mesmo Novak chegou a prever que o barril de petróleo poderá acabar na casa dos US$ 300, ante os já altos US$ 130 desta terça.
Com as maiores reservas (24%) do mercado, Moscou é a maior exportadora de gás natural do mundo. Tem a oitava maior reserva de petróleo (4,8%), mas é a segunda maior exportadora, atrás da Arábia Saudita.
Não por acaso, o governo brasileiro já analisa medidas para tentar segurar o preço dos combustíveis.
FABRICANTES RUSSOS BUSCAM SOLUÇÕES PARA MANTER EXPORTAÇÃO DE FERTILIZANTES
Os fabricantes russos de fertilizantes estão buscando alternativas para manter a exportação para países como o Brasil, apesar da recomendação do governo de Vladimir Putin para que o trabalho seja suspenso devido às sanções ocidentais em retaliação à guerra na Ucrânia.
Na sexta (4), o Ministério da Indústria e Comércio em Moscou divulgou a recomendação, citando que isso colocaria em risco “milhões de pessoas” e a segurança alimentar do mundo.
O objetivo era o de pressionar as grandes transportadoras marítimas, como a Maersk, que pararam de operar em portos russos por temer os efeitos vinculantes das sanções determinadas por Estados Unidos, União Europeia, Japão e outros países.
Segundo a reportagem ouviu em Moscou, empresários do setor entenderam que o veto à exportação é apenas uma recomendação neste momento, então se houve alternativas de uso de navios de países dispostos a enfrentar o risco de sofrerem sanções, elas serão usadas.
China e Índia, que se recusam a condenar a ação russa na Ucrânia, estão no centro das conversas. Já a operação em portos, uma vez que os navios estejam disponíveis, tendem à normalidade, ou quase.
A Acron, líder do mercado russo de fertilizantes, que vende 32% de sua produção para o Brasil e outros países na América Latina, opera dois portos. Um deles na Rússia e dois na Estônia, país da Otan (aliança militar ocidental) que se opõe ao Kremlin, mas até aqui não interrompeu esse negócio.
Como há cerca de três meses de estoques de fertilizantes, nitrogenados e fosfatados, no Brasil, a expectativa no meio diplomático é de que a situação se resolva antes de chegar a um ponto crítico. Mas a pressão política sobre Bolsonaro segue, principalmente se houver aumento de preços devido à escassez dos insumos, que já vinham rareando devido às quebras de cadeias logísticas na pandemia.
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