SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pela primeira vez associou as duras sanções econômicas e políticas a que seu país tem sido submetido desde que ele invadiu a Ucrânia a uma “escalada da situação”.
Falando em uma reunião ministerial que foi parcialmente televisada, o líder disse: “Não temos más intenções acerca dos nossos vizinhos. Eu gostaria também de aconselhá-los a não escalar a situação, a não introduzir nenhuma restrição. Nós vamos cumprir nossas obrigações e vamos continuar a cumpri-las”.
Ele se referia provavelmente ao fornecimento de gás e petróleo a países europeus, uma preocupação econômica mundial, já que 40% do que o continente consome do primeiro produto é russo, e cerca de 1/3 no caso do segundo.
A questão é que diversos países já estão cortando seus negócios futuros com hidrocarbonetos de Moscou devido à guerra, como Suécia e Finlândia, que não vão mais refinar óleo russo. As condições de compra e transporte tão estão em caos, devido às ameaças dos Estados Unidos de vetar negócios do tipo com a Rússia.
Putin foi cuidadoso em não fazer uma ameaça militar, mas esse é um perigoso corolário do isolamento a que ele está sendo submetido. “Todas nossas ações, se elas surgirem, sempre serão em resposta a ações não amigáveis contra a Rússia”, disse.
Até aqui, o líder falava por meio do porta-voz, Dmitri Peskov, que buscava criticar as sanções ocidentais e dizer que o país se viraria mesmo com elas. Mas ninguém antecipava que as ações incluiriam atacar as reservas internacionais geridas pelo Banco Central russo, em US$ 640 milhões as quartas no mundo.
Isso está tornando a defesa do rublo quase impossível, noves fora a pressão específica sobre membros da elite que mantém uma relação de mutualismo com a presença de Putin no Kremlin, e a vida real nas ruas moscovitas. Não se usa mais meios eletrônicos de pagamento com facilidade, cartões serão limitados e o país está cancelado politicamente.
A novidade aqui é a associação que Putin faz. O temor crescente de que o conflito na Ucrânia transborde as fronteiras e envolva a Otan, aliança militar ocidental, colocou o tema de uma Terceira Guerra Mundial de volta à ordem do dia.
Só que há consenso, até aqui, que isso só envolve a dimensão militar. Assim, há risco de incidentes no fornecimento de armas que a Europa está promovendo pela fronteira polonesa a Kiev, mas em nenhum momento há a previsão de uso direto de forças da Otan na guerra.
Até para sublinhar isso, Putin tem balançado seu arsenal nuclear, o maior do mundo ao lado do dos EUA, como lembrança do risco que todos correm. No domingo (27), colocou em alerta de combate suas forças estratégicas, gerando protestos no Ocidente.
Buscando reforçar sua posição, a Otan também nesta sexta discutiu e rejeitou formalmente o pedido da Ucrânia de buscar estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre o país invadido. Fazer isso significaria declarar guerra à Rússia, pois colocaria sistemas de defesa antiaérea e pilotos de ambos os lados frente a frente.
Isso já estava dado, até porque foi rejeitado desde o começo pelo chefe real da Otan, o presidente dos EUA, Joe Biden. Mas coube ao secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, reafirmar isso em público.
No mais, ele repetiu a condenação à agressão russa e ao ataque que tomou a usina nuclear de Zaporíjia e provocou um incêndio controlado nesta sexta.
Afirmou que os russos estão usando bombas de fragmentação, que são proibidas por tratado a que nem Moscou, nem Kiev, são aderentes. São armas terríveis, pois um projétil espalha várias bombinhas por uma grande área, e muitas não explodem, ficando expostas para incautos -muitas vezes crianças- detoná-las sem querer.
Disse novamente que os reforços de tropas, 22 mil até agora, em países no Leste Europeu pertencentes à aliança visa defender cada pedaço do território da Otan.
É a dissuasão possível, mas também o limite do Ocidente nessa disputa. Há discussões inclusive sobre até qual ponto a entrega de mísseis antiaéreos portáteis e antitanque será ignorada pela Rússia. A aposta mais sombria é: até eles começarem a fazer alguma diferença clara em campo.
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