Projeções de gastos com Previdência têm alta de R$ 31 bi ao longo do ano

ADRIANA FERNANDES
BRASÍLIA. DF (FOLHAPRESS) – As projeções de despesas com a Previdência Social subiram R$ 31 bilhões ao longo deste ano, apesar do programa em curso de pente-fino e melhoria da gestão dos gastos com o pagamento dos benefícios implementado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

A subida leva em conta o previsto na lei orçamentária e os dados do 5º Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas do Orçamento de 2024, enviados ao Congresso nesta sexta-feira (22). O valor dos gastos do INSS (Instituto Pátrio do Seguro Social) do Orçamento são aprovados pelo Congresso, mas essencialmente definidos pelo Executivo.

Entre o 1º e o 5º relatórios, o salto das estimativas dos gastos com benefícios previdenciários foi de R$ 25,4 bilhões, de consonância com os dados oficiais.

“Está havendo em 2024 um erro grosseiro das projeções. É uma variável que no pretérito se acertava muito de perto”, afirma o pesquisador associado do Ibre-FGV (Instituto Brasílio de Economia da Instalação Getulio Vargas), Fabio Giambiagi.

O pesquisador lembra que ele e outros especialistas em contas públicas alertaram desde o início do ano para os dados subestimados das despesas da Previdência Social e a urgência de medidas para sustar seu propagação.
“Falamos que era impossível [chegar aos números do governo]. Não estamos falando do sexo dos anjos. Uma vez que é que quem está de fora do governo está vendo e quem está de dentro não vê? “, diz.

Para ele, a imagem do Ministério do Planejamento fica comprometida com o erro em mais de R$ 30 bilhões nas projeções.

É com base nos dados dos relatórios bimestrais (março, maio, julho, setembro e novembro) que o governo aponta a urgência de bloquear despesas para o cumprimento do teto de gastos, e contingenciar a término de não estourar a meta fiscal de resultado das contas públicas.

O novo aumento nas despesas com a Previdência, retratado no relatório, reflete uma realização de gastos supra do esperado e uma redução nas estimativas dos impactos financeiros das ações de melhoria de gestão dos benefícios –uma das principais apostas do governo para sustar a trajetória dessa despesa.

No início do ano, o governo esperava uma economia de R$ 10 bilhões com o programa, valor que caiu para R$ 9 bilhões, em julho, e depois a R$ 6,8 bilhões, em setembro. Os dados de novembro só serão conhecidos na segunda-feira (25).

“Houve um erro e espero que não se repita em 2025, porque é muito ruim para o sistema de planejamento”, diz. Para o ano que vem, o governo já anunciou uma economia de R$ 25,9 bilhões em despesas com benefícios sociais, que passarão por um pente-fino e aperto nas regras.

Outrossim, um pacote de contenção do propagação de gastos está em elaboração no governo e deve ser anunciado na semana que vem, em seguida seguidos adiamentos.

Profissional em Previdência Social, Giambiagi vê também negligência do Ministério da Previdência no controle do auxílio-doença, o chamado mercê por incapacidade temporária.

“O auxílio-doença foi uma variável que fugiu completamente ao controle e certamente a responsabilidade é do Ministério da Previdência por ter deixado isso ocorrer”, critica.

“Em qualquer empresa privada, se tem uma despesa que normalmente é 100 e, no mês passa a ser 102, o gerente passa a olhar com desvelo. Se no mês seguinte passa a ser 104, o presidente fica sabendo. Se um mês depois sobe para 106, o gerente é deposto”, acrescenta. Na sua avaliação, o aumento dos gastos com o mercê mostram uma fiscalização frouxa.

Giambiagi prevê que as projeções mais altas vão impactar o projeto de Orçamento do ano que vem, que será votado ainda pelo Congresso. Para 2025, o governo estimou no projeto um gasto de R$ 1 trilhão com os benefícios do INSS.

SEM CORTE DE GASTOS
Na expectativa das medidas do pacote do governo, o pesquisador critica a prensa ao usar o termo golpe de gastos para se referir ao pacote fiscal.
“A prensa está comendo mosca na linguagem utilizada. Ela fica falando o tempo todo de golpe e o coitado do leitor acha que vai se gastar menos do que se gasta hoje. Não vai. O gasto continuará aumentando. O que estamos falando é do perfil do gasto”, alerta.

Segundo o pesquisador, o pacote do ministro da Herdade, Fernando Haddad, tem o único e restrito término de penetrar espaço fiscal para que as despesas discricionárias não sejam enxugadas excessivamente.

Ele lamenta que hoje a discussão seja se o salário mínimo vai aumentar 2,5% ou 3% ao ano, em referência a uma das principais medidas em discussão no governo para limitar o proveito real do piso pátrio, com o objetivo de alinhar a política de valorização às regras do busto fiscal –de quem limite de despesas tem expansão real de 0,6% a 2,5% ao ano. “É uma medida tímida”, avalia.

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