Para 83% dos professores de redes municipais de todo país, a adaptação às ferramentas tecnológicas de ensino é considerada boa. A maioria usa grupos de professores nas redes sociais e aplicativos de trocas de mensagens para trocar ideias, experiências e conversar.
“Muitos professores buscaram se atualizar diante dos novos desafios impostos pela pandemia. Seja com apoio das redes de ensino, seja na troca com outros colegas, eles se adaptaram ao uso de novos recursos tecnológicos, e isso é muito positivo”, disse Daniel de Bonis, diretor de políticas educacionais da Fundação Lemann, ao acrescentar: “essas ferramentas serão especialmente importantes daqui em diante para a superação das defasagens educacionais acumuladas durante a pandemia”.
Para entender a prioridade da educação nas redes municipais brasileiras, a Rede Conectando Saberes, uma iniciativa da Fundação Lemann, realizou o estudo Vozes Docentes. A pesquisa contou com mais de 8,7 mil respostas de professores de escolas municipais de 87 cidades, em todas as regiões do país.
A pesquisa foi dividida em seis eixos temáticos: Participação política, Educação na pandemia (ensino remoto e reabertura de escolas), Formação de professores, Diagnóstico de defasagens e plano de reforço escolar, Saúde mental e clima escolar, e Adequação e priorização do currículo.
Outro dado da pesquisa mostrou que, apesar da adaptação, 42% afirmam que a pandemia trouxe dificuldades em avaliar seus alunos, seja por não conseguirem acompanhar tão de perto o desenvolvimento dos estudantes pelo vídeo, seja por não saberem se as respostas dos testes aplicados são realmente deles.
Os educadores também responderam sobre a percepção da saúde mental dos estudantes, sendo que somente 25% dos professores dizem que seus alunos raramente ou nunca estão emocionalmente equilibrados.
Em relação à participação política, 97% dos educadores afirmam que se sentiriam valorizados se pudessem participar da formulação de políticas públicas de seus municípios. Apenas 31% dos professores conhecem e concordam com os planos de retomada de aulas presenciais municipais.
“A pesquisa vem para reforçar algo que acreditamos e trabalhamos muito na Conectando Saberes, o(a) professor(a) precisa ser mais ouvido e ser uma parte ativa da tomada de decisões sobre a educação na sua cidade. 77% deles dedicariam tempo de trabalho não remunerado para essa construção”, afirma o gestor de projetos da Conectando Saberes, Lucas Corrêa do Bomfim Costa.
Tanto para aqueles que defendem a reabertura das escolas quanto para os que preferem o ensino remoto, o aprimoramento do reforço escolar para redução das defasagens é prioridade.
A professora Angélica dos Santos Benith Belo, que leciona na rede municipal de ensino de Sã Paulo, contou que se adaptou às ferramentas tecnológicas de ensino, mas que apesar do treinamento recebido da prefeitura para algumas ferramentas, teve que aprender a gravar aula na prática:
“A utilização das ferramentas foi boa porque procuramos nos aperfeiçoar, nos aprimorar, tivemos um treinamento da prefeitura e deu para administrar essa parte, mas algumas coisas em relação a gravação de aula, a elaboração de conteúdo, foi muito de aprender a fazer com a mão na massa, porque esse cenário de pandemia trouxe essa possibilidade e essa necessidade para todos os educadores, acredito que de todas as esferas”, diz Angélica.
Para ela, dar dar aula através de uma tela foi desafiador. “Porque quando a gente está numa sala de aula a gente tem um feedback instantâneo do aluno, que é norteador para o nosso planejamento e para que a nossa prática tenha significado”.
Ela concorda que é difícil avaliar os estudantes com o ensino remoto: “as avaliações foram difíceis porque por um meio digital não tem como a gente dizer se no momento da prova aquele aluno estava tenso ou nervoso, ou se estava consultando algum material, então a falta desse parâmetro inviabilizou uma avaliação significativa”.
Confira os principais dados da pesquisa:
• 97% dos professores dizem que se sentiriam valorizados se pudessem participar da formulação de políticas públicas de seus municípios;
• 25% dos professores relatam que gostariam de colaborar apenas sendo informados sobre as decisões feitas pelas gestões municipais, enquanto outros 49% gostariam de opinar sobre as decisões a serem tomadas;
• 39% dos respondentes estariam dispostos a dedicar uma hora de trabalho não remunerada para participar das políticas públicas de seu município; 31% dedicariam entre uma e três horas.
• 83% dos professores se sentem bem adaptados às ferramentas tecnológicas de ensino, em parte devido à cooperação realizada entre os docentes através de grupos de WhatsApp durante a pandemia;
• 42% dos professores não conseguem avaliar estudantes com o ensino remoto;
• Apenas 31% dos professores conhecem e concordam com os planos de retomada de aulas presenciais de seus municípios.
• Apenas 25% dos respondentes dizem que seus municípios sempre fazem diagnósticos educacionais;
• 35% sempre elaboram planos de recuperação e 28% implementam planos de recuperação de aprendizagem;
• O aprimoramento do reforço escolar para redução das defasagens é prioridade comum tanto para professores que defendem o retorno às aulas presenciais, quanto aqueles que preferem o ensino remoto no contexto de pandemia.
• 52% afirmaram que não veem responsáveis participarem da vida escolar de seus filhos e filhas;
• 25% afirmaram que nunca ou raramente percebem seus estudantes emocionalmente equilibrados.
• 91% dos professores indicam que conhecem e utilizam o novo currículo baseado na Base Nacional Curricular Comum (BNCC);
• Apenas 50% apontam que sempre conseguem adaptar suas aulas para que estejam alinhadas com o novo currículo.
Com informações da Agência Brasil
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