Uma professora gaúcha recorreu à uma ideia simples e eficaz para lidar com a dificuldade de pais e alunos em acessar o conteúdo das suas aulas pela internet.
Vera Lúcia Lisboa, professora há quatro décadas, criou um varal onde literalmente estende as lições de casa para seus alunos pegarem e levarem para casa.
Esse foi o jeito que a professora que vive em Vacaria (RS) encontrou para continuar ensinando seus 18 alunos, alguns deles que não possuem acesso à internet em casa ou cuja conexão é muito precária.
Foto: Vera Lúcia Lisboa Borges / Arquivo Pessoal
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“Na escola foi criada uma página no Facebook e um blog, em que os alunos pudessem fazer pesquisa e pegar as atividades. Mas percebi que depois de uns dias em que disponibilizei as atividades, nenhum dos meus alunos tinha acessado. Percebi então, que os meus alunos não estavam dentro daquele esquema, que a internet não estava ao alcance deles. Aí, eu pensei: “Bah, e agora?”, questionou Vera.
O desafio era grande: como converter sua pedagogia ao mundo virtual, sendo Vera uma professora tão enraizada no tradicional? Como ensinar seus alunos à distância?
“Muitos dos pais dos meus alunos trabalham em pomares, então eles não têm muito tempo para ficar organizando o material para os filhos. Quando chegam em casa, precisam jantar e dormir para descansar. Não é algo simples para os meus alunos“, desabafa.
Para resolver o problema, Vera, que dá aulas para o segundo ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Henrique Gelain, pensou em algo super simples, mas genial.
Em uma carta publicada no blog da escola, ela disse: “Pensando em sua aprendizagem e no nosso distanciamento devido ao coronavírus, peço que alguém responsável por você, dirija-se até a minha casa, localizada na rua Nova Vacaria, 367, bairro São José, perto da nossa escola. Chegando em minha casa, você responsável, encontrará no portão, um varal, nele estará pendurado um saco de plástico, com identificação, contendo o nome do aluno ou da aluna, você, responsável, pegue e leve para casa“.
Foto: Vera Lúcia Lisboa Borges / Arquivo Pessoal
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Ela ligou para cada responsável de cada aluno informando sobre a ideia, obtendo um apoio universal de todos.
“A questão da internet é bem séria, nossos alunos não têm acesso. A nossa escola fica em um bairro da periferia, onde os pais estão lutando para comprar comida e para se virar financeiramente. Então, eu quis pensar em uma maneira de incluir essas crianças, mesmo que de uma forma simples e até rudimentar, sem tecnologia”, revela a professora.
O ‘varal de lições’, acabou se tornando muito mais do que um recurso pedagógico, mas um elo de ligação entre a professora e seus alunos.
Foto: Vera Lúcia Lisboa Borges / Arquivo Pessoal
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“Saímos da escola já faz um mês, então tivemos pouco contato neste ano. Fica difícil trabalhar com os alunos sem ter contato, porque, nessa idade, eles se aproximam, fica muito evidente o carisma e o afeto. Na idade deles, a professora é importante, e dou muita ênfase a isso, de que eles me vejam, sim, como uma pessoa muito importante na vida deles, que deixa marcas. Porque eu entendo que a nossa vida é para deixar marcas na vida dos outros“, afirma Vera.
Ensinar e alfabetizar durante a pandemia é um grande desafio, mas ao estabelecer uma conexão com as crianças, mesmo que à distância, instruí-las passa a ser bem mais fácil do que antes.
“Tenho comprometimento com a questão da alfabetização, que para mim, é coisa séria. É difícil dizer que tu vais alfabetizar as crianças dessa forma, sem a socialização e o contato com eles. Mas estou elaborando atividades para reforçar o que já vimos em sala de aula. Porque me preocupo muito em manter esse vínculo, para que, quando pudermos voltar à sala de aula, nós tenhamos esse contato restabelecido”, defende Vera.
“Fico muito feliz de fazer o outro perceber que ele lê, porque ao ler, a pessoa conhece o mundo”, conclui a professora.
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Fonte: Clic RBS
EDUCAÇÃO – Razões para Acreditar