O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinian, anunciou sua renúncia neste domingo (25), a pouco menos de dois meses das próximas eleições legislativas, como forma de tentar solucionar a crise política que se abateu sobre o país após o guerra do ano passado em Nagorno-Karabakh.
Com a decisão, todos os membros de seu governo também apresentaram suas demissões, conforme exigido pela lei armênia. Pashinian, entretanto, deve permanecer no cargo como interino até o resultado do próximo pleito.
Ele é considerado por seus adversários um traidor por ter aceitado assinar o acordo de cessar-fogo que pôs fim ao conflito com o Azerbaijão. Pashinian afirma que foi compelido a concordar com o acordo de paz para evitar maiores perdas humanas e territoriais.
A renúncia ocorre um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificar de genocídio o massacre de cerca de 1,5 milhão de armênios mortos a partir de 1915 pelo antigo Império Otomano (que deu lugar à atual Turquia).
Celebrando o anúncio do líder americano com “grande entusiasmo”, Pashinian disse que “as ideologias que levaram ao genocídio armênio ainda estão vivas hoje”, citando “atrocidades” cometidas contra a a população de seu país durante a guerra em Nagorno-Karabakh.
Em uma publicação em sua página no Facebook, o premiê disse que decidiu renunciar neste domingo, em que se comemora o Dia do Cidadão na Armênia, como um ato simbólico de devolver aos armênios o poder recebido para que eles “decidam o futuro do governo com eleições livres, justas e competitivas”.
As críticas contra Pashinian ganharam força no início deste ano, cerca de três meses depois da assinatura do acordo de cessar-fogo. De um lado, o Exército somou-se às vozes que exigiam a renúncia do premiê, em parte devido à sua conduta durante o conflito. De outro, o próprio Pashinian alegava estar sendo vítima de uma tentativa de golpe de Estado orquestrado pelos militares.
Em fevereiro, o premiê tentou exonerar o general Onik Gasparian, chefe do Estado-Maior do Exército da Armênia, e de seu auxiliar, Tigran Khachatrian, mas as demissões foram bloqueadas pelo presidente Armen Sarkissian.
Após várias manifestações de ambos os lados, o governo e a oposição concordaram em organizar eleições legislativas antecipadas em 20 de junho. O partido do Contrato Civil, de Pashinian, pode não conquistar os mais de 50% dos votos necessários para formar um novo gabinete, mas pode manter a maioria no Parlamento compondo uma coalizão com outros partidos.
É o que indica uma pesquisa do Instituto Gallup publicada no mês passado, segundo a qual 31,7% dos entrevistados declarou intenção de voto na aliança My Step, da qual Pashinian faz parte. Seu principal rival, o ex-presidente Robert Kocharian, aparece na segunda posição, com apenas 5.9% das intenções.
O centro do conflito contra o Azerbaijão foi o enclave de Nagorno-Karabakh, uma região internacionalmente reconhecida como parte do território azeri, mas habitada e controlada por grupos étnicos armênios.
Segundo levantamentos feitos pela Rússia, que mediou o acordo de paz entre os dois países, a guerra deixou mais de 5.000 mortes, mas os números ainda são imprecisos.
Apesar de prever que os armênios sigam controlando a maior parte de Nagorno-Karabakh, o cessar-fogo foi encarado por opositores do governo de Pashinian como uma derrota para o país e uma humilhação de âmbito nacional por permitir um ganho territorial significativo para o Azerbaijão, principalmente de cidades simbólicas como Shusha, conquistadas durante conflitos semelhantes nos anos 1990.
Pashinian, um ex-jornalista de 45 anos, emergiu como o líder de uma onda de protestos contra o governo que se espalhou pelas ruas da Armênia em 2018.
Inicialmente estimuladas pela eleição do ex-presidente Serzh Sarksian, como primeiro-ministro, as manifestações rapidamente tomaram o clientelismo político do governo como alvo.
À época, o atual premiê, que já cumprira mandatos como congressista, cultivou sua imagem de político próximo do povo vestindo roupas casuais e bonés de beisebol em oposição aos ternos formais utilizados pelos membros do Partido Republicano, que governava o país.
Os protestos culminaram na renúncia de Sarksian e, após uma união dos partidos de oposição em torno da figura de Pashinian, ele conquistou a maioria e garantiu seu cargo como primeiro-ministro em maio de 2018.
Com um discurso reformista e de combate à corrupção, o premiê obteve grande apoio popular. Demitiu membros da elite política e processou ex-servidores públicos por desfalques nas verbas do Estado.
Como resultado de sua popularidade, a coalizão da qual fazia parte obteve uma confortável vitória nas eleições parlamentares daquele ano, conquistando 88 dos 132 assentos da Assembleia Nacional.
Pashinian, porém, sempre foi alvo de críticas dos militares por, segundo eles, ser muito brando em determinadas questões. Pouco depois de assumir o cargo, por exemplo, armênios e azeris entraram em conflito no enclave de Nakhchivan. Os embates duraram pouco, mas o premiê foi criticado por não ter respondido de maneira mais agressiva.
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