SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os procedimentos estéticos com preenchedores são cada vez mais procurados por homens e mulheres que querem dar mais volume a algumas partes do rosto e do corpo. Essas intervenções se tornam mais populares e desejadas à medida que celebridades como a cantora Anitta falam abertamente sobre o que já fizeram para se sentirem mais bonitas.
No mês passado, o humorista Rico Melquiades, campeão da última edição do reality show A Fazenda, mostrou em suas redes sociais que fez preenchimento com PMMA para aumentar coxas e glúteos. A revelação provocou um debate sobre a segurança desse produto.
O polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, é um preenchedor definitivo em forma de gel utilizado em procedimentos estéticos e para correção de lipodistrofia, uma alteração da quantidade de gordura no corpo que pode ocorrer em pacientes com HIV.
É um componente plástico, portanto não é reabsorvível pelo organismo. Uma vez introduzido no organismo, ele se adere a estruturas como músculo, pele e osso, de forma que sua remoção completa é quase impossível mesmo com cirurgia.
O dermatologista Newton Morais, diretor da Clínica Mais, em São Paulo, não recomenda a utilização do produto. “A maior parte das pessoas fica iludida com a ideia de ser algo definitivo, mas esse é um aspecto negativo para um preenchedor com fim estético”, afirma
“O processo de envelhecimento é contínuo e nosso corpo está mudando constantemente com o passar dos anos. A nossa pele afina, há perda de gordura e de músculo, reabsorção óssea. Então esse preenchimento definitivo que teve um resultado satisfatório hoje, não vai mais estar em harmonia com o rosto da pessoa daqui a dez anos”, observa.
Foi o que aconteceu com a esteticista Yllana Maiara de Freitas Figueiredo, 32. Ela conta que há quatro anos, após fazer preenchimentos com ácido hialurônico algumas vezes –uma substância presente no corpo humano, mas que também pode ser produzida em laboratório– e decidiu optar pelo produto definitivo. “Fiz com um cirurgião plástico e foi aplicado na região do sulco nasogeniano”, diz.
“Fiquei deformada. Foi colocado muito produto e ele migrou de local”, explica a esteticista, que não quis voltar no mesmo médico para reclamar do resultado.
“Fiquei uns quatro meses esperando desinchar, pensava que iria diminuir, que era só uma fase. Quando cai na real, comecei a procurar na internet por médicos que tiravam o produto e fiquei chocada ao descobrir que pouquíssimos profissionais fazem esse procedimento”, relata.
Yllana já fez quatro cirurgias para se livrar do polimetilmetacrilato, a última foi há um mês. “Estou me recuperando, ainda um pouco inchada. No total, já saiu cerca de 95% do PMMA, mas nunca dá para tirar tudo.”
Hoje ela faz parte de um grupo no WhatsApp que reúne mulheres que tiveram problemas com procedimentos estéticos de vários tipos.
Muitas delas se conheceram por meio do perfil Vítimas da Bioplastia, no Instagram, que publica relatos de pacientes que tiveram reações com PMMA, silicone industrial –substância cuja aplicação no corpo humano é proibida– e outras intervenções estéticas.
O perfil é administrado por Simone, que prefere não divulgar o sobrenome porque diz sofrer ameaças de profissionais que fazem esses procedimentos. Em 2018, ela fez uma rinomodelação com PMMA e gostou tanto do resultado que decidiu aumentar os glúteos com o mesmo produto.
Logo após o procedimento, a administradora conta que se sentiu muito mal, teve febre e não conseguia respirar direito. Simone procurou outro médico, fez um exame de ultrassonografia e descobriu que era silicone industrial, e não PMMA, que ela tinha no corpo.
Simone já fez duas cirurgias para tirar a substância. Em 2020, após surgirem algumas feridas no nariz, ela também fez a retirada da substância.
“Todos os dias recebo mensagens de mulheres que tiveram seus corpos mutilados. Não posto nem a metade do que chega para mim”, diz.
Procurada pela reportagem, a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) afirma que não recomenda o uso do polimetilmetacrilato porque o produto pode ocasionar complicações de difícil resolução. A exceção se aplica apenas a pacientes com lipodistrofia de HIV.
“O PMMA não é absorvível e, em caso de complicação, não há como dissolvê-lo. Dentre as ocorrências indesejáveis estão o surgimento de nódulos, processos inflamatórios e infecciosos e danos irreversíveis”, destaca em nota.
O cirurgião plástico Alberto Goldman realiza cirurgias de remoção da substância há 15 anos. “As complicações que vejo em consultório costumam ser formações de granulomas [nódulos de caráter inflamatórios], dificuldades funcionais, como para falar e sorrir, dependendo do lugar que polimetilmetacrilato foi introduzido. Recebo muitos pacientes com assimetrias faciais, com reações inflamatórias importantes, que incham e desincham de tempos em tempos”, diz.
A retirada do produto deve ser muito bem planejada, reforça o cirurgião, já que é praticamente impossível removê-lo totalmente devido à aderência a músculos, pele e ossos.
O polimetilmetacrilato, no entanto, é liberado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para fins estéticos e reparadores.
Questionada sobre a segurança do produto, a agência respondeu em nota que o PMMA “só deve ser administrado por profissionais médicos treinados. Para cada caso, o médico deve determinar as doses injetadas e o número de injeções necessárias, dependendo das características cutâneas, musculares e osteocartilaginosas de cada paciente, das áreas a serem tratadas e do tipo de indicação”, ressalta.
O médico Tulio Souza, com especialização internacional em cirurgia cosmética, faz preenchimentos com polimetilmetacrilato há 14 anos e confia na segurança do produto. Ele afirma que, assim como outros procedimentos médicos, a indicação deve ser avaliada de acordo com as necessidades e particularidades de cada paciente.
“De forma geral, o PMMA deve ser usado para volumizações mais profundas. No músculo da mandíbula, por exemplo. Em regiões mais superficiais é possível utilizar o polimetilmetacrilato de densidade mais baixa, mas nesses casos, na maioria das vezes, o ácido hialurônico tem resultados melhores”, revela.
Atualmente, os dois produtos à base de polimetilmetacrilato que têm aval da Anvisa são o Biossimetric, fabricado pela MTC Medical, e o Linnea Safe, do laboratório Lebon.
A MTC Medical declara que inchaços, inflamações e infecções não são causados pelo produto em si. “Qualquer procedimento (corte, injeção, cirurgia), especialmente com corpo estranho infiltrado, vai gerar uma reação de inchaço.”
A fabricante reforça que nenhum acontecimento ou efeito indesejável grave foi observado até hoje desde o lançamento do produto em 2008, desde que observadas as indicações, recomendações, técnicas de implantação e cuidados com o manuseio.
O laboratório Lebon destaca que o Linnea Safe tem registro na Anvisa desde 2006 e também é comercializado no México, no Equador e na Argentina, sendo aprovado pelas agências regulatórias dos respectivos países.
“Além disso, o preenchimento com PMMA é recomendado pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), comprovando a segurança, eficácia e qualidade do produto para as finalidades recomendadas”, diz em nota.
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