Pomadas de cabelo causam cegueira temporária e Anvisa tira produtos do mercado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Anvisa atualizou, nesta terça-feira (31) as medidas de fiscalização referentes às pomadas modeladoras de cabelo causadoras de efeitos adversos graves como queimaduras nos olhos e cegueira temporária. A agência recomenda suspender o uso dos produtos indicados no documento.

As pomadas modeladoras são utilizadas para penteados, desde modelos para casamentos até tranças e o chamado baby hair. São produtos muito usados em cabelos crespos e cacheados para trazer definição, mas podem ser aplicados em qualquer tipo de cabelo.

A psicóloga e professora universitária Jaqueline de Jesus relata que usa tranças há dois anos e nunca havia tido problema com as pomadas, até dezembro. “Não consegui fazer a manutenção com a minha trancista, e utilizei a pomada Braid Fix para arrumar a parte de cima do cabelo para um evento”, conta.

Após tomar chuva, Jaqueline começou a sentir dor nos olhos e dificuldade para enxergar. Sua visão ficou completamente embaçada. A pomada havia escorrido para o seu olho direito, causando danos no tecido oftalmológico.

Jaqueline foi atendida na emergência no Ibol (Instituto Brasileiro de Oftalmologia) de Botafogo, onde a médica aplicou um analgésico e uma pomada oftalmológica, além de um tampão no olho direito. Depois, a professora passou mais uma semana utilizando uma lente de contato terapêutica e dez dias aplicando colírios.

“Tive condições de pagar o tratamento e em uma semana já tinha recuperado a visão, mas precisei utilizar o atendimento particular”, relata. Ela diz que já notificou a Anvisa sobre o ocorrido e suspendeu o uso do produto. “Nunca se imaginou que pudesse ter esse risco, mas acho recomendável evitar o uso por enquanto. Não é um produto essencial para fazer as tranças.”

A pomada utilizada por Jesus, Braids Fix, teve sua comercialização, distribuição, fabricação, uso e publicidades associadas proibidas após determinação da Anvisa.

COMO EVITAR PROBLEMAS AO USAR AS POMADAS?

A trancista Helo Silva diz que as pomadas são muito utilizadas porque, diferente de géis e outros modeladores -que tendem a ser muito úmidos-, deixam o cabelo mais consistente e fácil de modelar. “Facilita o trabalho e deixa o acabamento mais bonito.”

Ela diz que sempre orienta suas clientes a tomar cuidado com os olhos e, em mais de dez anos trabalhando na área, nunca viu casos de queimaduras ou cegueira temporária.

“O primeiro cuidado é nosso, não pode colocar muito produto. A melhor opção é usar no cabelo seco e orientar a cliente para, quando lavar, colocar a cabeça para trás”, afirma. A profissional também indica não entrar na praia ou na piscina antes da primeira lavagem.

As dicas são reforçadas pela dermatologista Fernanda Porphirio, especialista em Dermatologia e Estética pelo Hospital Mount Sinai em Nova York. “As pomadas não foram testadas oftalmologicamente, não têm autorização para esse uso”, aponta.

Porphirio diz que muitos cosméticos têm em sua composição o álcool propilenoglicol, que em altas taxas podem causar danos oftalmológicos. “É possível que esses produtos tenham excedido a concentração permitida pela Anvisa.”

A agência ainda não emitiu uma posição oficial sobre é o componente responsável pelos problemas, e informa que as amostras estão em análise. Enquanto isso, é recomendado suspender o uso das marcas que estiveram ligadas a casos de efeitos adversos.

Porphirio destaca que as pomadas em geral não são necessariamente danosas, mas sim algum componente que está sendo usado por algumas marcas. Ao usá-las, a dermatologista indica uma série de cuidados:

Consultar o site da Anvisa para checar se o produto tem autorização;
Atentar-se às orientações de uso no rótulo e não utilizar o produto para outros fins;
Evitar atividades que façam suar muito ou molhem os fios;
Lavar as mãos após o uso do produto;
Respeitar a data de validade;
Não utilizar o produto em caso de alteração de cheiro, cor ou consistência;
Se houver contato com os olhos, lavar abundantemente com soro fisiológico imediatamente.

O Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro também lançou uma cartilha com orientações para o uso dos cosméticos.
A trancista Lu Safro opta por evitar o uso das pomadas enquanto as incertezas sobre os riscos permanecem, e prefere outros produtos mais tradicionais.

“A explosão de uso de pomada para trançar cabelo é de quatro anos para cá. Vem de uma referência muito estadunidense, é algo que elas usam muito lá”, relata. Ela diz que as pomadas já existem no mercado há muito tempo, mas eram mais utilizadas em outros penteados.

“Por uma necessidade de mercado, muitas empresas pequenas passaram a produzir esses produtos, que acabam chegando sem fiscalização”, comenta.

A trancista afirma que também nunca teve problemas. “Acho que os casos que temos visto vêm mais do uso doméstico do que profissional,” opina. Em casa, muitas vezes o produto é usado de maneira inadequada.

“As pessoas usam até mesmo nas sobrancelhas, o que não é recomendado”, afirma Safro. Muitos também utilizam as pomadas para fazer o baby hair, o que a trancista também não aconselha.

Apesar disso, ela destaca que a responsabilidade não é de quem está usando os produtos, mas sim das marcas. “Um produto usado no cabelo não deveria ter efeitos tão graves”, diz.

Enquanto as pomadas ainda estão em investigação, a recomendação de especialistas é reforçar os cuidados e priorizar outros tipos de produtos, sempre verificados pela Anvisa.

PRODUTOS PROIBIDOS PELA ANVISA

Desde os primeiros casos de queimadura e cegueira temporária, a Anvisa tomou medidas de fiscalização em relação a mais de 80 produtos. As diretrizes podem ser preventivas, como recolhimento dos lotes, ou de cancelamento da autorização. Em todos os casos, os produtos não devem ser comercializados ou utilizados.

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