Pior praga da laranja avança e gera eliminação de 10 milhões de pés em SP e MG

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Considerada a pior praga da citricultura, o greening apresenta crescimento pelo quarto ano seguido nos pomares de laranja no cinturão citrícola formado pelo interior paulista e Triângulo Mineiro e foi responsável pela eliminação de ao menos 10 milhões de árvores no último ano.

Nunca os pomares foram tão afetados como agora, mostra levantamento anual produzido pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura). Em duas regiões paulistas, Limeira e Brotas, a incidência da doença já atinge mais da metade das laranjeiras plantadas.

No total, 22,37% dos pés de laranja plantados estão afetados pelo greening, o que representa 43 milhões de árvores doentes, num universo de 194 milhões existentes.

As áreas mais contaminadas são, também, as que registraram mais eliminações de árvores. Sete em cada dez plantas foram eliminadas nas regiões de Limeira (61,75% de incidência), Brotas (50,4%), Porto Ferreira (37,84%) e Duartina (26,15%).

“Sempre tivemos a consciência de que era a doença mais séria que existia na citricultura mundial, porque ela afeta todas as variedades de laranja, limão, tangerina. Ela não mata a planta, mas faz a produtividade cair gradualmente para menos de um terço do potencial”, disse Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus.

Transmitida por um inseto, o greening é uma doença que provoca crescimento irregular da laranja. Se ela não cair do pé, crescerá com tamanho reduzido e deformada, além de ficar amarga.

A propagação é muito rápida, razão pela qual especialistas apontam que a vigilância constante do citricultor é fundamental.

No Brasil, foi identificada em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. Argentina e Paraguai também têm a doença em seus pomares.

“Todos os municípios de São Paulo que têm citros têm a doença. Nosso concorrente [Flórida, EUA] não fez o manejo, de pulverizar, erradicar etc. Produzia em 2005 perto de 200 milhões de caixas de laranja e hoje produz 52 milhões. Caiu drasticamente por causa do greening.”

Há duas semanas, o Fundecitrus reduziu a previsão de safra 2021/22 em SP e MG devido à seca. Das 294,17 milhões de caixas (de 40,8 quilos cada) previstas inicialmente, a reestimativa apontou para uma produção de 267,87 milhões de caixas, 9% menos.

A queda foi motivada pela combinação da severa falta de chuvas com as geadas de julho, que provocou quedas e fez com que os frutos ficassem miúdos.

O trabalho do Fundecitrus para conhecer a incidência da doença nos pomares foi feito de abril a setembro, com levantamento amostral de cada uma das 12 regiões em que o cinturão citrícola é dividido.

Foram analisadas 1.300 áreas, segundo o pesquisador científico do Fundecitrus, Renato Bassanezi.

O greening foi Identificado pela primeira vez no Brasil em 2004, no interior paulista. A política para a doença até 2010 era a eliminação das plantas contaminadas, para que não se alastrasse pelo pomar.

Porém, a resistência de muitos citricultores fez com que a medida fosse substituída em alguns casos por uma tentativa de controle da própria planta no pomar.

“O greening reduz a produção, mas muitos produtores diziam ‘não quero arrancar a planta’, porque ela ainda estava com produção. Pequena, mas estava. Só que isso é perigoso, porque se ele não fizer o controle das plantas doentes, vira uma bomba de produção de bactérias e pode transmitir não só para seu pomar, como para vizinhos. A recomendação é que a planta doente seja eliminada”, disse Bassanezi.

Foi o que fez o produtor José Benedito dos Santos, de Mogi Mirim, que teve de eliminar nos últimos meses 200 plantas –que ocupavam pouco mais de meio hectare de área no total, segundo ele.

“Eram árvores no auge da produção, mas se não tiro contaminariam todo o resto”, disse o citricultor, que tem cerca de 20 mil pés no sítio da família.

Em Cordeirópolis, o produtor Carlos Eduardo Mendes também precisou eliminar no fim do ano passado cerca de 500 laranjeiras, incluindo plantas novas, na área em que cultiva a fruta em parceria com um primo e um cunhado.
“A gente relutou, não queria por causa do prejuízo, mas acabaram nos convencendo”, disse, em referência às orientações recebidas de um agrônomo.

O cenário identificado pelo levantamento do Fundecitrus, porém, pode ser ainda pior, já que a situação é reflexo de até dez meses atrás, prazo para que os problemas causados pela doença fiquem visíveis.

Além dos 10 milhões de pés de laranja erradicados, outros cerca de 7 milhões também foram eliminados por conta da seca, da idade avançada do pomar ou outras doenças da citricultura.

“O sinal está vermelho, não é nem amarelo. Tem de declarar guerra contra essa doença, até porque tivemos duas coisas importantes: os dois últimos anos foram extremamente secos e quentes, o que fez a produtividade do pomar cair, e a temperatura mais quente favorece a multiplicação do inseto transmissor”, disse Ayres.

Além disso, desde as restrições impostas pela pandemia, em março do ano passado, houve em alguns locais um distanciamento maior do produtor com seu pomar, segundo ele.

Mas, apesar dos problemas, há esperança de controle no campo. O exemplo vem da região central do estado, no entorno de Araraquara e Matão, que passou de 14,47% de incidência, no ano passado, para os atuais 9,77%.

A redução ocorreu, segundo o Fundecitrus, com a eliminação dos pomares mais contaminados, rigor na renovação de pomares e a criação de um consórcio de produtores.

“Embora não exista cura, produtores que apliquem medidas de forma coletiva e integrada conseguem manter a doença em patamares baixos. É como a dengue. Eu controlar no meu quintal apenas não resolve, se no bairro as pessoas não estiverem controlando”, disse o pesquisador científico.

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