O governo federal avalia comprar mais 100 milhões de doses da vacina contra covid-19 da Pfizer a US$ 12 a unidade – 20% mais caro do que o negociado no primeiro contrato da farmacêutica americana com o Ministério da Saúde, em que foi adquirida quantidade igual do imunizante. Ao todo, a oferta para nova compra fica perto de R$ 6,6 bilhões, cerca de R$ 1 bilhão a mais do que o valor anterior.
As informações sobre o preço global e o valor por dose constam em nota técnica assinada por Laurício Cruz, diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da pasta, e obtida pelo Estadão. O governo publicou ontem em edição extra do Diário Oficial da União extrato de dispensa de licitação, com valor global de R$ 6,6 bilhões. Na CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a pasta estava na “iminência de fechar novo acordo com a Pfizer de cem milhões de doses”.
No fim de 2020 e no início do ano, porém, a gestão Jair Bolsonaro tinha outra postura em relação à empresa. O governo acusou a farmacêutica de incluir cláusulas “leoninas” na proposta, travou a negociação e perdeu lugar na fila. Bolsonaro reclamava que a empresa não queria assumir o risco de possíveis efeitos colaterais da vacina.
A nota do ministério agora pede que a entrega desse novo lote seja em duas etapas. A primeira, de 30 milhões de doses, deve chegar ao País entre 1.º de julho e 30 de setembro. A entrega do segundo lote, com 70 milhões de doses, é prevista entre 1.º de outubro e 31 de dezembro.
O documento recomenda a compra pelo governo, mas diz que o valor é maior que o pago no contrato anterior e pede negociação do preço. Os técnicos destacam que talvez seja preciso aplicar doses de reforço, tendo em vista mutações do vírus. “Caso essa necessidade venha a se concretizar, a necessidade de doses irá aumentar substancialmente”, diz o trecho.
Não há no documento os motivos para a mudança de preço. À reportagem, a Pfizer disse não comentar negociações e afirmou trabalhar com o governo para a imunização dos brasileiros. Já o ministério informou ao Estadão que a compra ainda está em negociação e destacou já ter contrato assinado para cem milhões de doses. A 1.ª remessa, de 1 milhão de unidades, chegou ao Brasil em abril.
A Pfizer tem variado propostas para os governos. O preço cobrado do Brasil é inferior ao cobrado da União Europeia, que desembolsou por volta de US$ 14,70 por dose, e dos Estados Unidos (US$ 19,50). Israel, um dos países com a vacinação mais adiantada, pagou US$ 23,50 por dose para receber antes e em grande escala. A farmacêutica já disse que países mais pobres teriam preços menores.
Perda de doses
Com logística complicada, a vacinação com a Pfizer no Brasil está restrita às capitais na maioria dos Estados. Com a ampliação do volume adquirido, a pasta ressalta a necessidade de adaptar a rede de frio para cidades do interior com mais de 100 mil habitantes. A nota técnica propõe compra inicial de 183 congeladores a serem distribuídos entre Estados e Distrito Federal.
O imunizante da Pfizer sobrevive apenas cinco dias em refrigeradores comuns, com temperatura entre 2ºC e 8ºC. Para ser armazenado por prazos maiores, de até seis meses, precisa estar em congeladores cujas temperatura variem entre 60ºC e 80ºC negativos.
O documento também diz que a aquisição tem elevado risco de perdas. O cálculo do governo é de que 30% das doses da Pfizer sejam perdidas por questões operacionais, bem acima da taxa de 10% calculada para Coronavac e vacina Oxford/AstraZeneca. Para chegar a esse índice, a Saúde considera informações da França, que estima desperdício entre 25% e 30%. Sobre as projeções de perda de doses feitas pelo governo, a Pfizer afirmou que “fica a critério dos programas de imunização de cada país, baseados em sua experiência, qualquer estimativa acerca do tema”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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