SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os atores que fariam a versão brasileira da peça “Harry Potter and the Cursed Child” já tinham sido escolhidos, mas receberam na tarde desta terça-feira (25) um e-mail da produtora Vinicius Munhoz Entretenimento, a VME, informando que a atração havia sido cancelada.

 

Entre os escolhidos para os papéis principais estavam o ator Hugo Bonemer, que interpretaria Harry Potter, Adriana Lessa, antiga apresentadora do programa TV Fama, que viveria Hermione Granger, e Arthur Berges, escalado para o papel de Rony Weasley, atualmente integrante do elenco do musical de “Meninas Malvadas”, em cartaz em São Paulo.

Estariam ainda na peça outros dois artistas de “Meninas Malvadas” -o ator Yudchi Taniguti, que já interpretou o leão Simba no musical “O Rei Leão” e agora faria Escórpio Malfoy, um dos protagonistas da trama, e Carol Roberto, a Milena do filme “Turma da Mônica Jovem”, que interpretaria Rosa, filha de Hermione e Rony.

Como foram as audições

Os atores foram orientados a interpretar tanto cenas enérgicas, com movimentação no palco, quanto as mais calmas.

Houve ainda testes de voo, em cenas nas quais os personagens são erguidos do palco e presos em cabos. Isso para garantir que os atores não teriam medo de altura e conseguiriam interpretar seus papéis com naturalidade. Em um desses testes, aliás, um ator caiu e machucou a língua.

As audições ocorreram em janeiro, e até hoje a produtora não havia comunicado o cancelamento da peça de forma oficial para os participantes. Produtores estrangeiros viajaram ao Brasil para acompanhar os testes e ajudar a escalar os atores brasileiros. Um deles foi Conner Wilson, que dirige a montagem da Broadway e também já trabalhou na versão japonesa do projeto, em Tóquio.

“Sempre é difícil definir o elenco, e desta vez estou vendo muitos bons talentos nos palcos”, disse ele à época, em vídeo publicado na página do Instagram criada para divulgar o espetáculo. “Os artistas brasileiros têm muita paixão e determinação. Vai parecer uma produção com muita alma.”

POR QUE A PEÇA FOI CANCELADA

“Harry Potter e a Criança Amaldiçoada” estrearia neste ano, em São Paulo, no Teatro Renault, e ficaria em cartaz por dois anos, de terça-feira a domingo. A reportagem apurou que o cancelamento aconteceu por causa de conflitos entre a produtora britânica que detém os direitos da peça e o principal patrocinador brasileiro, o Banco do Brasil.

Havia ainda conflitos em relação à estrutura do Teatro Renault, que é tombado como patrimônio histórica. A produção de “Harry Potter” têm o costume de enfeitar as construções, tanto no exterior quanto no interior, e alterações não poderiam ser feitas no Renault.

Procurado por email e pelo Instagram, o produtor brasileiro, Vinícius Munhoz, não se manifestou até a publicação desta reportagem.

O espetáculo custaria em torno de R$ 200 milhões, sendo que R$ 10 milhões seriam captados via Lei Rouanet. A maior parte do investimento viria do Banco do Brasil. Em nota, a instituição diz que “faz parte da rotina do Banco do Brasil avaliar projetos que reforçam os territórios da marca, e que neste caso específico optou por não concluir o patrocínio”.

Shannon Kingett, diretor global de marketing da Sonia Friedman Productions, dona direitos da peça, afirmou à coluna Painel S.A., da Folha de S.Paulo, que o espetáculo foi “adiado indefinidamente”. “Desafios significativos além do nosso controle nos impediram de lançar a produção no nível de qualidade que esperamos. Como resultado, tomamos a difícil decisão de nos separar da produtora local, a VME”, disse ele, acrescentando que ainda espera trazer a peça ao Brasil.

No email enviado aos atores, no entanto, a produtora brasileira disse que a decisão da ruptura partiu deles, não dos britânicos.

COMO É A HISTÓRIA

“Harry Potter and the Cursed Child” é considerada a oitava história do bruxo criado pela escritora britânica J. K. Rowling. No Brasil, até o momento, a narrativa só tinha sido publicada em formato de roteiro, em um livro. A peça estreou originalmente em Londres, em 2016, antes de ir para a Broadway, em 2018. Hoje, está ainda em cartaz em Los Angeles e deve viajar por outras capitais dos Estados Unidos.

A história acompanha Alvo Severo Potter e Escórpio Malfoy, filhos de Harry Potter e Draco Malfoy, respectivamente, e se passa quase duas décadas após a derrota do vilão Lorde Voldemort, vista no filme “Harry Potter e as Relíquias da Morte”. A dupla viaja no tempo para tentar evitar uma morte causada indiretamente por Harry em sua jornada para salvar o mundo bruxo.

“Harry Potter and the Cursed Child” estreou em 2016 em West End, em Londres. Premiada, a peça levou nove prêmios no Olivier Awards, a principal premiação do teatro britânico, e seis troféus no Tony Awards, a maior honraria do teatro americano. Em ambas as cerimônias, venceu na categoria de melhor peça.