BELO HORIZONTE, MG, E GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – O atleta Pedro Lucas, 22 anos, acordou antes das 4h na esperança de salvar sua viagem de férias. Ele é jogador de golbol, modalidade praticada por deficientes visuais, e tinha comprado uma passagem da ITA (Itapemirim Transportes Aéreos) para Natal, onde pretendia passar um mês com a família da esposa.
Com a suspensão das operações anunciada pela companhia na última sexta-feira (17), Pedro e a mulher ficaram sem voo e sem férias. A ideia de chegar cedo ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), para tentar uma reacomodação também não deu certo.
“Agora só vamos conseguir viajar no ano que vem. Perdemos a oportunidade”, afirma.
Pedro é um dos 45.887 passageiros que tinham serviços contratados pela Itapemirim entre os dias 17 e 31 de dezembro. Segundo a empresa, mais de 25 mil já tiveram pedidos de reacomodação ou reembolso atendidos.
“Nos dois primeiros dias úteis após a suspensão temporária de suas operações já foram processados R$ 7,8 milhões em pedidos de reembolso junto às operadoras de cartão de crédito”, disse a Itapemirim em nota.
De acordo com a companhia, os valores serão estornados diretamente na fatura do cartão de crédito num prazo de até 30 dias.
A Itapemirim orienta os passageiros a não realizarem check-in online ou comparecerem aos aeroportos antes de contatarem a empresa. Além disso, a empresa disponibilizou um chat em seu site e um número de telefone (0800 723 2121) para atender os clientes afetados, com funcionamento entre 6h e 21h.
Pedro conta que ficou sabendo da suspensão dos voos pela noticiário, e que procurou a agência de viagem onde comprou sua passagem para entender o que tinha acontecido. “Até eles ficaram perdidos, porque foi [algo] de repente.”
Sem um novo voo, Pedro pediu para a agência solicitar o reembolso, o que deve acontecer em até 60 dias. A ITA está priorizando para reacomodação em outras companhias aéreas aqueles clientes que estão retornando a seus domicílios
No entanto, passageiros nessa situação relatam dificuldades em voltar para casa. É o caso de Fernanda, 53 anos, que pediu para ter seu nome ocultado na reportagem.
Ela conta que mora no Recife e chegou em São Paulo no dia 10 de dezembro para fazer compras. Sua passagem de volta estava marcada para às 16h30 desta terça (21), mas, além de não conseguir outro voo, Fernanda diz que a opção dada pela Itapemirim é voltar de ônibus no próximo dia 25 para chegar no dia 28.
“Como eu vou ficar até o dia 25 aqui no aeroporto?”, questiona. “Eu não tenho ninguém em São Paulo para passar o Natal e ficar na casa dessa pessoa. Estamos eu e um grupo aqui na mesma situação”, acrescenta.
Segundo ela, a companhia arcou com um auxílio alimentação, mas não ofereceu ajuda com a hospedagem. “A gente vai dormir aqui [no aeroporto], porque não tem onde ficar”, diz.
Fernanda afirma que viajou a São Paulo para fazer compras e que agora não sabe como vai negociar os produtos. “Minhas mercadorias embarcaram na transportadora e eu não fui. Até no prejuízo das roupas eu vou ficar, porque como vou vender no Natal?”, questiona.
Mônica Modestino de Lima, 41, conta que comprou uma passagem para sua sogra, Lindalva Maria de Lima, ir à Recife cuidar da mãe que está doente.
Desde que descobriram que a Itapemirim suspendeu suas operações, elas tentam uma solução por parte da companhia, mas ainda não conseguiram.
“Ontem (20) eu consegui falar diretamente com a empresa. Eles me aconselharam a vir aqui [no aeroporto de Cumbica], para ter alguma orientação, ou ir no [terminal rodoviário do] Tietê para ver o que eles poderiam fazer”, afirma Mônica.
Segundo ela, o reembolso que a companhia oferece não compensa, porque uma nova passagem já está bem mais cara nessa época do ano.
Ela conta que chegou ao aeroporto às 10h e até o início da tarde não havia recebido nenhum apoio da companhia para alimentação.
“Eu conversei com o pessoal do aeroporto e eles ficaram de ver o que fazer. Se iam mandar ela [a sogra] de avião ou de ônibus. Estamos aqui esperando um contato da Itapemirim”, afirma.
A dificuldade em receber informações também é relatada por Rita de Cássia Rocha, 52 anos. Ela tinha uma viagem marcada para Fortaleza para visitar o pai, que tem 92 anos e está com alguns problemas de saúde.
“A viagem era para ter sido ontem (20), já transferiram para hoje e estamos aqui”, diz. “Eles não dão contato nenhum”, acrescenta.
Rita diz ter descoberto pelo jornal sobre o cancelamento das passagens da Itapemirim e que os problemas com a companhia já vêm de antes.
“Estamos [tentando entrar em contato com a Itapemirim] há um mês, desde quando compramos a viagem. Tinha um erro na passagem, a gente foi ligar e eles não atendiam.”
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