GIULIANA MIRANDA
LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – A entrevista à TV portuguesa de um brasileiro indignado após uma série de voos cancelados viralizou e se tornou uma síntese da situação vivida por muitos viajantes no aeroporto de Lisboa nos últimos dias.
Descrito pela repórter como “uma imagem muito gráfica”, o relato do passageiro contemplava falta de banho, um consequente fedor, constrangimentos fisiológicos e o uso da mesma cueca por seis dias.
Desde sexta (1º), mais de cem voos com origem ou destino na capital portuguesa foram cancelados. Só neste domingo (3), até o período da tarde em Lisboa, já havia ao menos 42 cancelamentos. De acordo com o aeroporto e as companhias aéreas, a situação seria motivada por greves de trabalhadores em outros países e por um incidente com um jato comercial ocorrido na sexta. A aeronave teve problemas com os pneus durante o pouso, o que interrompeu a circulação na pista por cerca de duas horas.
Embora os voos cancelados sejam de diversas companhias, a maior parte das viagens afetadas é da TAP.
Protagonista do depoimento que viralizou, o humorista pernambucano Abdiás Melo está entre os que tiveram voos cancelados pela empresa portuguesa. Ele tenta, desde quinta-feira (30), retornar ao Brasil, depois de um mês trabalhando na Europa. Ele, que tem mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais, voltou a enumerar à Folha os problemas relatados na entrevista para a emissora pública RTP.
“Eles não me dão voucher de hotel, nada. Um descaso total. Só não dormi no chão do aeroporto porque um fã entrou em contato com vários amigos, que conseguiram uma casa para eu ficar. Mas o apartamento está com o chuveiro quebrado, nem banho consegui tomar.” Procurada para comentar o relato do brasileiro à emissora portuguesa, a TAP não respondeu até a publicação desta reportagem.
A viagem de volta ao Recife começou em Paris, e Abdiás deveria fazer apenas uma conexão em Lisboa. Na tarde deste domingo, ele publicou um vídeo no Instagram no qual afirma que conseguiria embarcar.
A funcionária pública Patrícia Martins, que também tenta voltar ao Recife pela TAP, já teve dois voos cancelados. Na sexta, precisou passar a noite no aeroporto. “A empresa distribuiu vouchers para algumas pessoas com crianças e para idosos, mas eles acabaram antes da minha vez”, afirma ela. O segundo cancelamento ocorreu na noite de sábado. Dessa vez, porém, conseguiu se abrigar na casa de uma amiga.
Na fila de atendimento no aeroporto, onde esperava havia mais de três horas, ela disse não ter recebido auxílio da TAP e que não pode ficar mais tempo em Portugal devido a motivos profissionais. A falta de informações e de apoio para custear hospedagens e alimentação é uma queixa recorrente entre os passageiros. O período não programado no país europeu, em um momento de câmbio desfavorável, em que cada euro equivale a R$ 5,56, fez com que muitos viajantes enfrentassem dificuldades financeiras.
Em nota, a empresa portuguesa informou que, “devido a constrangimentos em vários aeroportos em que a TAP opera, incluindo o incidente com um jato privado na sexta, muitos voos da companhia foram afetados e, consequentemente, toda a operação”. A companhia afirma que, apesar do grande número de viagens canceladas e da alta temporada turística, está fazendo o “melhor para minimizar o impacto” da situação.
A empresa diz ainda que os afetados devem “aguardar uma mensagem com um novo horário de voo”.
Os cancelamentos em série vêm se repetindo em vários aeroportos europeus devido a uma combinação de fatores, a começar por greves em diversos países por melhores remunerações e condições de trabalho.
Os terminais do continente também atuam com equipes reduzidas. Muitos dos trabalhadores foram demitidos durante as restrições de viagens provocadas pela pandemia da Covid. Agora, com a retomada das atividades, há uma grande dificuldade para recontratar funcionários para esses postos. No aeroporto Charles de Gaulle, o maior de Paris, cerca de 20% dos voos foram cancelados no último sábado (2).
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