Parcelado sem juros tem que continuar sendo usado sem virar bola de neve, diz Campos Neto

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Banco Central quer que pessoas continuem comprando no parcelado sem juros, mas “sem gerar bola de neve nos juros do rotativo”, afirmou Roberto Campos Neto, presidente da instituição.

“Estamos tentando achar uma solução para que consigamos equilibrar as coisas, para que as pessoas continuem comprando no parcelado sem juros, para que a gente não tenha uma bola de neve no efeito do rotativo”, disse Campos Neto em evento do jornal O Estado de S. Paulo em parceria com a B3, nesta segunda-feira (23).

Na segunda passada (16), o BC se reuniu com representantes de bancos, adquirentes, cartões e varejo para discutir a regra da lei do Desenrola, que limita a dívida do rotativo a 100% do valor original caso o próprio setor não chegue a outra fórmula para reduzir as altas taxas. Atualmente, os juros dessa modalidade estão em 445,7% ao ano.

Para Campos Neto, “a regra de que a dívida não pode dobrar não abaixa os juros, o seu efeito seria marginal”.

O texto da lei aprovada não cita compras parceladas nem parcelamento sem juros, mas bancos têm defendido que reduzir o número de parcelas sem juros ajudaria a baixar a taxa do rotativo, porque reduziria a inadimplência. Não há contudo estudos públicos independentes que mostrem essa relação de causa e efeito.

Nesta segunda, Campos Neto afirmou que houve crescimento no Brasil tanto do parcelamento sem juros no cartão de crédito (hoje equivalente a 15% do crédito) quanto da taxa de juros do rotativo e da inadimplência. “Talvez não fazer nada não seja uma solução.”

“Para ter solução estrutural, várias peças precisam estar dispostas a ceder um pouco. Esse tipo de autorregulação é superdifícil porque são vários setores que pensam diferente”, disse o presidente do BC.

Para ele, o saudável seria que o mercado de crédito fosse mais diverso, com um tipo de crédito para cada objetivo. “O CDC [Crédito Direto ao Consumidor], que é o crédito natural do consumidor, cresce pouco, talvez porque o parcelado sem juros cresceu demais”.