BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Pesquisa realizada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) mostra que 27,5% dos médicos relataram que os pacientes abandonaram ou postergaram tratamento médico ao longo da pandemia de Covid-19.
Para 42% dos profissionais houve uma redução significativa no número de atendimentos diários por doenças que não estavam relacionadas à enfermidade causada pelo coronavírus.
A pesquisa foi realizada com 1.549 médicos cadastrados nos CRMs (Conselhos Regionais de Medicina) e que atuam nos setores público e privado.
Os dados foram coletados entre setembro e dezembro do ano passado. Dos entrevistados, 53% atuam na região Sudeste e fazem atendimento em consultórios.
Os médicos também indicaram mudanças no relacionamento com pacientes durante o último ano. Um comportamento comum é a exigência de mais tempo e atenção pelas pessoas que estão sendo atendidas, em especial para tirar dúvidas relacionadas a como prevenir e tratar a Covid-19.
O vice-presidente do CFM, Donizetti Dimer Giamberardino Filho, disse que pacientes com doenças crônicas estão deixando de procurar atendimento médico por medo de contágio e até por falta de vagas. Ele alerta para consequências futuras.
“Isso vai ter um efeito mais para frente, a pandemia tem interferido no acesso da população a outros tratamentos de saúde. Uma pessoa que retardar o diagnóstico de câncer pode ter um resultado pior no tratamento.”
A pandemia também alcançou os lares e a saúde mental dos profissionais de saúde com a ampliação da atuação. Para 96%, houve impacto na vida pessoal e profissional.
Dos entrevistados, 22,9% disseram acreditar que a principal causa foi a elevação do nível de estresse. Para 14,6%, o motivo foi a sensação de medo ao lidar com uma doença até então desconhecida.
O vice-presidente do CFM afirmou que esse impacto negativo pode ter consequências no bem-estar, podendo ainda agravar a depressão e levar ao aparecimento da síndrome de Burnout.
A sobrecarga de trabalho e a falta de condições para atuar também explicam esse impacto, segundo Giamberardino Filho. “Todo esse cenário afeta os profissionais de saúde, como a falta de leitos. No entanto, esse esgotamento do sistema de saúde não pode ser jogado nas costas desses profissionais.”
O médico intensivista e clínico geral da Santa Casa de Belo Horizonte Hermann Alexandre Vivacqua von Tiesenhausen disse que a sobrecarga de trabalho diante de uma doença desconhecida acarreta exaustão para os profissionais de saúde. Esse sintoma é agravado pela sensação de que o profissinal não está conseguindo realizar todo o trabalho.
“A maior angústia é quando você não consegue uma vaga, isso tem nos deixado à beira da exaustão, estamos enfrentando um inimigo difícil de lidar e ainda não sabemos quando tudo isso acaba.”
Em apoio aos médicos e às ações de fiscalização, Giamberardino Filho ressaltou que o CFM, em parceria com o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e o MPF (Ministério Público Federal), vai lançar o projeto Luna, um canal para que os profissionais possam relatar a falta de condições e de infraestrutura de trabalho.
Por meio da plataforma, também será possível informar situações que têm contribuído para o aumento do estresse e da tensão nos ambientes de atendimento, em especial nos locais que acolhem casos suspeitos ou confirmados de Covid-19.
Ao receber os dados, os órgãos procederão à análise do conteúdo em busca de indícios de potenciais impactos sistêmicos. Desse modo, será possível não só identificar cenários de crises pontuais como antecipar o aparecimento de problemas que podem influenciar negativamente o atendimento.
Giamberardino Filho disse acreditar que todo o foco no momento deve ser concentrado nas vacinas. Mas enquanto boa parte da população não é vacinada é importante manter as medidas de higiene sanitária para reduzir a capacidade de transmissão do vírus.
O vice-presidente do CFM disse ainda que é a favor de medidas mais severas para evitar a disseminação do vírus, como o lockdown. No entanto, ele disse acreditar que deva ser aplicado de acordo com a situação de cada macrorregião do país.
“Quando houver o esgotamento da capacidade de atendimento e a transmissibilidade alta não tem outro caminho que não seja esse [lockdown].”
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