(FOLHAPRESS) – A pandemia represou consultas e procedimentos de saúde ocular, prejudicando pacientes que tratam doenças como o glaucoma, que acomete o nervo óptico e causa perda irreversível no campo de visão.
Rapidez no diagnóstico é essencial para que as doenças da visão sejam devidamente tratadas e a qualidade de vida do paciente, a melhor possível. A opinião foi compartilhada por especialistas no seminário Saúde dos Olhos, promovido pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 14.
O seminário teve mediação de Cláudia Collucci, repórter especial do jornal. O patrocínio foi da biofarmacêutica Allergan, uma empresa Abbvie.
“Atualmente recebemos pacientes com condições mais críticas por terem tido dificuldade de controle da doença na pandemia”, afirma Roberto Vessani, chefe da divisão de glaucoma do Departamento de Oftalmologia da Unifesp.
O período de maiores perdas veio com as medidas mais restritivas de isolamento, em 2020, que “deixaram um grande revés no setor”, afirma Sérgio Pimentel, chefe do serviço de retina do Hospital das Clínicas da USP.
“A chave para ter saúde a vida toda é prevenir e não tratar apenas quando a doença for avançada”, afirma Pimentel.
Entre as especialidades monitoradas pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), a oftalmologia registrou a maior queda de atendimentos entre 2019 e 2020, 34%.
Consultas, exames de mapeamento de retina e aferição da pressão intraocular caíram de 18,5 milhões para 12,2 milhões no período.
Nesse cenário, mais pessoas tiveram casos graves de catarata, por exemplo, que torna a visão opaca ao longo do tempo. A doença é a principal causa de cegueira reversível, segundo a OMS.
A enfermidade é comum em pessoas acima dos 55 anos e, quanto mais cedo for tratada, melhor a recuperação e a qualidade de vida do paciente, explica Bruno Machado Fontes, diretor da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa. O médico diz que a tecnologia é um dos principais recursos da oftalmologia, o que aumenta a segurança das cirurgias.
De acordo com dados do Conselho Federal de Oftalmologia, o número de cirurgias de catarata dobrou na última década. Entre 2009 e 2019, o total de procedimentos feitos pelo SUS passou de 302 mil para 601 mil.
Paciente com baixa visão e diretora da Escola Estadual Professor Jacob Casseb, em São Bernardo do Campo (SP), Ellen Pouseiro ressalta a importância de consultas com oftalmologista na infância, desde o primeiro ano de vida. Assim, é possível identificar o desenvolvimento e o crescimento dos olhos da criança.
A gestora escolar conta que nasceu com baixa visão, 5% no olho esquerdo e 10% no olho direito, devido a uma infecção por toxoplasmose congênita, quando a doença é transmitida ainda na gestação.
A enfermidade é causada por um protozoário, que chega ao corpo pela ingestão de alimentos mal lavados ou carne mal cozida.
Pimentel, da USP, diz que a infecção pode afetar diversos sistemas do corpo e a manifestação na visão é uma das mais comuns. “A prevenção é o mais importante, consumindo alimentos sempre bem higienizados e cozidos.”
O médico diz também que suplementos vitamínicos para a visão são indicados só em casos específicos, com orientação médica. O melhor para a população em geral é ter alimentação balanceada.
Os debatedores também falaram sobre a associação entre maior tempo de exposição às telas, tônica da pandemia, e prejuízos aos olhos.
“A tecnologia causa muito mais fadiga do que lesão. O cansaço é grande, mas o prejuízo não é permanente”, afirma Pimentel.
Fontes, da associação de catarata, completa dizendo que o cansaço ocular pode causar dores de cabeça, secura e ardência. “Pausas, hidratação e eventualmente o uso de colírios ajudam nesses sintomas.”
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