SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com alta popularidade, o OnlyFans, rede social de conteúdo exclusivo (em especial, adulto), começa a seguir o modelo de outras plataformas e a adotar padrões mais rígidos para se blindar judicialmente.
Criado na Inglaterra em 2016, o site funciona como um pay-per-view de conteúdo sensual e sexual, embora abrace outras finalidades. O usuário se registra gratuitamente e acessa fotos e vídeos de canais de celebridades, influenciadores e anônimos, como em qualquer rede. A diferença é que grande parte do acesso é pago, base do modelo de negócios da companhia.
O OnlyFans não é 100% pornô, mas é assim que ficou reconhecido. Uma leva de atores e atrizes optaram por divulgar seu trabalho sexual (de nudes a vídeos explícitos) e receber por isso, deixando de lado sites pornográficos gratuitos.
Um fã (Onlyfans significa “Só para Fãs”) paga uma assinatura mensal, que varia de US$ 5 a US$ 50 (R$ 27,30 e R$ 273), para acessar o canal do criador de conteúdo, que fica com 80%. A empresa recebe 20% e arca com taxas.
A reportagem procurou o OnlyFans para obter números atualizados sobre inscrições no site, mas não teve resposta. As estimativas em sites especializados vão de 26 milhões a 50 milhões de usuários inscritos.
Tim Stokely, presidente da companhia, afirmou ao BuzzFeed que a plataforma era acessada por 200 mil novos usuários a cada 24 horas e que até 8.000 novos criadores de conteúdo se inscreviam por dia. Essa declaração é de maio de 2020, após Beyoncé mencionar a marca em uma música.
Com a pandemia e a migração de famosos e seus grupos de fãs para a plataforma, a tendência é de crescimento -ao menos de visibilidade na mídia. Celebridades como Cardi B, Bella Thorne e as brasileiras Anitta e Rita Cadillac têm perfis na plataforma.
No Brasil, muitos usam a rede para ganhar dinheiro diante do desemprego na pandemia.
Com o aumento da visibilidade e o receio de pressão regulatória, o site incluiu duas cláusulas em seus termos de uso em abril. As mudanças estão relacionadas a direito de imagem.
A primeira delas proíbe vídeos ou transmissões ao vivo de lugares públicos. Isso evita, por exemplo, a divulgação da imagem de um transeunte desavisado que passa próximo a uma performance sexual.
“Vídeos mais ousados geram mais engajamento e repercussão, e a sociedade inglesa tem um histórico de passar regras que tentam regular essa esfera da pornografia”, diz Caio Machado, diretor do Instituto Vero e pesquisador de Oxford.
Vídeos ao ar livre agora devem ser gravados em locais privados. A empresa terá um desafio para distinguir o que é espaço público ou privado nas gravações. O monitoramento, feito de forma automatizada, já gerou reclamações de usuários que tiveram conteúdos banidos. Eles alegavam que foram filmados em locais privados.
A segunda norma determina que todos os participantes de um vídeo sexual devam estar inscritos no OnlyFans. Assim, a plataforma tenta garantir que um usuário não divulgue um vídeo pornô com pares que não tenham expressado autorização, mesmo que os corpos não sejam facilmente identificados.
Por cinco anos foi viável subir um vídeo de duas pessoas sem o consentimento expresso de uma delas.
“Do ponto de vista comercial, o risco de permitir a imagem de alguém que não concordou com os termos de uso é alto”, diz Francisco Brito Cruz, presidente do Internet Lab. “Assim como outras plataformas, eles não vão querer assumir a responsabilidade sobre os produtores de conteúdo, e começam a passar essa responsabilidade para a ponta.”
Mesmo que possam parecer óbvias, as novas regras já têm levado criadores de conteúdos a migrar a outras plataformas do nicho, de acordo com usuários ouvidos pela reportagem. É até uma forma de diversificar a receita. Entre as preferências estão os sites JustForFans e o 4myFans.
“A maioria das pessoas começa gravando vídeos com anônimos porque não tem o networking para gravar com quem está na plataforma”, diz Pedro Amaral, cuja renda na pandemia sai do Only Fans. Segundo ele, vários canais temáticos são pautados por fetiches, como sexo em local público.
Outro usuário, que preferiu não ter o nome identificado e relata ganhar US$ 2.000 por mês, diz que acha a mudança positiva porque ela assegura a preservação do direito de imagem. Pondera que atrapalha a produção de quem vive em cidade pequena. Ele diz que é fácil achar pessoas com OnlyFans em São Paulo, mas que o mesmo não deve acontecer em Mococa (cidade do interior paulista).
Especialistas alertam para outras discussões que podem vir ao debate público com a popularização do trabalho sexual na internet.
Enquanto parte enxerga a divulgação de vídeos sexuais como uma fonte de renda e de empoderamento, já que exclui, no caso da mulher, a submissão a intermediários do mundo físico, outros apontam para a mercantilização de corpos feita por uma empresa de tecnologia (a uberização do sexo), que pode atrair pessoas em vulnerabilidade econômica.
O OnlyFans tem mais barreiras de entrada do que outras redes. É preciso comprovar a maioridade com documentos.
Ao New York Times, uma influenciadora do Reino Unido já afirmou ter recebido US$ 52 mil em um mês com seu canal. A atriz Bella Thorne, ex-estrela da Disney, fez mais de US$ 1 milhão em sua estreia.
Nem mesmo influenciadores com grande audiência podem esperar cifras do tipo. Um levantamento de um pesquisador do Canadá chamado Thomas Hollands mostra que 10% dos criadores recebe 73% do dinheiro gerado na plataforma e que 1% das contas fica com 33% do total.
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