O que as potências globais esperam da Cúpula do Clima?

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Durante a Cúpula do Clima, que acontece nesta quinta (22) e sexta-feira (23), Joe Biden quer mostrar que os EUA estão de volta à liderança global, após quatro anos de isolacionismo de Donald Trump, mesmo em uma área em que os americanos são um dos maiores poluentes do mundo -atrás somente da China.

Como parte do retorno do país ao Acordo Climático de Paris, o democrata pretende anunciar uma nova meta de emissões de carbono para 2030. O presidente e seu enviado especial para o clima, John Kerry, também querem sinalizar que o compromisso será consistente e integrado às relações comerciais.

Entre os convidados do evento estão os líderes de 17 países que, junto aos EUA, fazem parte do Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, responsáveis por 80% das emissões globais de carbono.

A reunião também é um caminho preparatório para a conferência das Nações Unidas para a biodiversidade (COP15), marcada para outubro, na China, e para a conferência do clima (COP26), prevista para novembro em Glasgow, na Escócia. O esforço das cúpulas visa cumprir metas estabelecidas no Acordo de Paris, que prevê a contenção do aumento do aquecimento global entre 1,5 ºC e 2 ºC.

Saiba quais são os interesses políticos das potências globais no evento ambiental liderados pelos EUA.

BRASIL

Sob forte pressão internacional devido à política ambiental do governo Bolsonaro, o Brasil busca mais verbas internacionais para o combate ao desmatamento. Um dos compromissos a serem apresentados na cúpula foi adiantado em uma carta enviada a Biden pelo presidente brasileiro: a eliminação do desmatamento ilegal até 2030. Essa meta já havia sido apresentada pelo país em 2015, na assinatura do Acordo de Paris, mas foi retirada pelo governo Bolsonaro da revisão da meta, no fim do ano passado.

CHINA

Líder em emissões de gases causadores do efeito estufa, a China confirmou nesta quarta-feira (20), véspera do evento, a participação do dirigente Xi Jinping na cúpula. A presença ainda era incerta em meio a um cenário de crescente competitividade entre os EUA e o país asiático.

Recentemente, os países entraram em um acordo para estabelecer compromissos mais audaciosos para a área ambiental após reuniões entre Kerry e seu contraparte chinês, Xie Zhenhua, em Xangai. A China prometeu atingir o pico de suas emissões até 2030 e se tornar neutra em carbono em 2060 -entretanto, o país ainda não apresentou formalmente essas metas à ONU, e elas ainda podem mudar.

ÍNDIA

Kerry também visitou a Índia no início deste mês, embora a viagem não tenha rendido nenhuma promessa específica de fortalecer a ambição climática do país, que também é um dos maiores poluidores do mundo.

Um dos objetivos da viagem era fazer com que Nova Déli anunciasse sua adesão à meta de neutralidade de carbono até 2050 (uma meta parecida com a da China).

Apesar da intensa pressão internacional para que a Índia adote medidas mais ambiciosas, o país já se queixou das fortes cobranças a países menos desenvolvidos. Logo após a visita do enviado americano, inclusive, o ministro do Meio Ambiente indiano, Prakash Javadeka, disse não ser possível acompanhar o mesmo nível de promessas de redução de carbono de outros países.

RÚSSIA

Outro país que vive momento de tensão com os EUA, a Rússia também está entre os confirmados no evento. Embora os dois países tenham trocado sanções nos últimos dias, a presença de Vladimir Putin sinaliza que ele ainda está aberto ao diálogo com os Estados Unidos.

Em seu discurso, marcado para esta quinta, segundo comunicado do Kremlin, o líder russo deve falar sobre uma “ampla cooperação internacional” para combater os efeitos da mudança climática.

Embora a economia da Rússia seja altamente dependente de combustíveis fósseis, Washington e Moscou conseguiram realizar negociações sobre o clima no início deste ano.

Após uma conversa por videoconferência entre Kerry e o representante do Kremlin para o tema, Ruslan Edelgueriev, os países destacaram que as principais áreas de cooperação serão na proteção do Ártico e nos setores florestal e nuclear civil.

A Sibéria e o Ártico estão entre as regiões mais expostas à mudança climática e, nos últimos anos, registraram recordes de temperatura e de incêndios. Ainda que os países se enfrentem em diversas questões internacionais, a área ambiental pode representar um caminho de cooperação entre as potências, embora Putin não tenha dado sinais de que pretende dar passos tão largos quanto os de Biden.

ARÁBIA SAUDITA

A Arábia Saudita, dona de uma das maiores reservas de petróleo do mundo, quer passar a mensagem de que está ao lado de campanhas mundiais contra a mudança climática mesmo sendo a maior exportadora mundial da matéria-prima de combustíveis fósseis.

O reino saudita já anunciou o plano de plantar 10 bilhões de árvores para mitigar as emissões de CO2 e satisfazer 50% de suas necessidades domésticas de energia a partir de fontes renováveis ​​até 2030.

EUROPA

Às vésperas da cúpula, Reino Unido e União Europeia anunciaram metas ambiciosas para sinalizar a seriedade com que encaram os problemas ambientais. O bloco europeu fechou um acordo em torno de uma lei para reduzir em ao menos 55% a emissão de gases causadores do efeito estufa, em comparação com os níveis registrados em 1990 -no que deve ser também uma prévia do tom que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deve adotar no evento.

Já o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que o Reino Unido cortaria as emissões de carbono em 78% até 2035, também em comparação com os níveis de 1990, no que ele considerou a meta mais ambiciosa de mudança climática do mundo.

O novo cronograma exigirá uma reestruturação na forma como o Reino Unido abastece suas casas, carros e fábricas e no que faz para se livrar do dióxido de carbono. Boris, que já vinha defendendo uma mudança para uma economia mais verde como parte da recuperação econômica pós-pandemia, vai sediar a conferência do clima (COP26), prevista para novembro em Glasgow, na Escócia.

VEJA LISTA DOS 40 LÍDERES CONVIDADOS

Cyril Ramaphosa (África do Sul)
Angela Merkel (Alemanha)
Gaston Browne (Antígua e Barbuda)
Rei Salman bin Abdulaziz Al Saud (Arábia Saudita)
Alberto Fernández (Argentina)
Scott Morrison (Austrália)
Sheikh Hasina (Bangladesh)
Lotay Tshering (Butão)
Jair Bolsonaro (Brasil)
Justin Trudeau (Canadá)
Sebastián Piñera (Chile)
Xi Jinping (China)
Iván Duque (Colômbia)
Ursula von der Leyen (Comissão Europeia)
Charles Michel (Conselho Europeu)
Moon Jae-in (Coreia do Sul)
Mette Frederiksen (Dinamarca)
Xeique Khalifa bin Zayed Al Nahyan (Emirados Árabes Unidos)
Pedro Sánchez (Espanha)
Emmanuel Macron (França)
Ali Bongo Ondimba (Gabão)
David Kabua (Ilhas Marshall)
Narendra Modi (Índia)
Joko Widodo (Indonésia)
Binyamin Netanyahu (Israel)
Mario Draghi (Itália)
Andrew Holness (Jamaica)
Yoshihide Suga (Japão)
Andrés Manuel López Obrador (México)
Jacinda Ardern (Nova Zelândia)
Muhammadu Buhari (Nigéria)
Erna Solberg (Noruega)
Andrzej Duda (Polônia)
Uhuru Kenyatta (Quênia)
Boris Johnson (Reino Unido)
Félix Tshiseked (República Democrática do Congo)
Vladimir Putin (Rússia)
Lee Hsien Loong (Singapura)
Recep Tayyip Erdoğan (Turquia)
Nguyen Phú Trong (Vietnã)

RESUMO DA PROGRAMAÇÃO

Quinta-feira (22)
9h: O presidente Biden e a vice-presidente, Kamala Harris, abrirão a sessão inaugural da cúpula
12h45: Financiamento climático
13:45: Desafios de adaptação ao clima
15h: Desafios de segurança global

Sexta-feira (23)
9h: Inovações climáticas
10h15: Oportunidades econômicas

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