Um dos descobridores dos receptores Toll-Like (moléculas nas células de defesa responsáveis pelos sinais que levam à produção de citocinas pró-inflamatórias), o imunologista Ruslan Medzhitov é frequentemente citado como merecedor de um Prêmio Nobel.
Um dos mais respeitados estudiosos do papel da inflamação na manutenção do equilíbrio fisiológico (a homeostase) e nos processos que contribuem para a maior parte das doenças, ele diz, em entrevista ao Estadão, que o intestino é muito mais que um tubo processador de comida e tem impacto poderoso na fisiologia e no comportamento.
Novos estudos apontam que a inflamação está associada a quase todas as doenças e, também, à manutenção do equilíbrio do organismo. Como isso contribui para a atenção à saúde?
Como a inflamação está associada a quase todas as doenças, é importante descobrir a causa dela em diferentes situações. Isso permitirá desenvolver terapias que previnem a inflamação indesejada.
Isso pode levar à criação de medicamentos melhores?
A maioria dos métodos para tratar doenças inflamatórias se baseia no bloqueio da produção de sinais inflamatórios. A alternativa que sugiro é bloquear a resposta dos tecidos e órgãos-alvo aos sinais inflamatórios. Uma analogia: o que fazer quando a música alta perturba? Você pode diminuir o volume ou pôr tampões no ouvido e não se incomodar. Baixar o volume é como suprimir a inflamação, o que nem sempre funciona. Pôr tampões é como reduzir a resposta a sinais inflamatórios. Ainda não foi testado, mas acho que seria uma direção valiosa para futuras pesquisas.
Como processos inflamatórios no intestino podem afetar o cérebro e contribuir para depressão e doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e outras?
Provavelmente é parte da resposta fisiológica normal ao adoecimento. Quando estamos doentes por infecção, a reação normal do corpo é ficar quieto na cama, diminuir o apetite, evitar luzes e sons altos etc. Sabemos por que algumas dessas reações ocorrem, mas ainda não compreendemos todas. A depressão é uma resposta de proteção quando há risco ao organismo, provavelmente porque reduz a exploração do ambiente, mas se torna patológica quando é excessiva. No caso do Alzheimer, é diferente. Se a doença neurodegenerativa é causada por infecção ou por micróbios intestinais, isso não está bem estabelecido.
É correto chamar o intestino de segundo cérebro?
É correto pensar dessa forma. É um órgão subavaliado. Acham que é só um tubo processador de comida. Na verdade, é uma máquina computacional sofisticada que avalia constantemente o que comemos e o que deve ser feito. Ele tem um impacto poderoso na fisiologia e no comportamento. Da mesma forma, está envolvido na inflamação direcionada contra micróbios e contra certos componentes de alimentos. Se desregulada, a primeira pode levar a doenças inflamatórias intestinais e a segunda à alergia alimentar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Notícias ao Minuto Brasil – Lifestyle