SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), admitiu nesta sexta-feira (10) que há determinados lugares onde a cracolândia não pode ficar, após afirmar reiteradamente que a movimentação dos usuários de drogas pelo centro da cidade obedece a uma dinâmica própria, sem interferência do poder público.
Grupos de dependentes químicos ocuparam trecho da rua Mauá, no Bom Retiro, região central, por duas noites seguidas, após dispersão da rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia, onde a cena de uso coletivo de crack se fixou há cerca de quatro meses.
Vídeos gravados por moradores do Bom Retiro mostram grupos grandes de usuários seguindo de forma ordenada para a rua ao lado da estação da Luz, e escoltados por carros da GCM (Guarda Civil Metropolitana).
“A cracolândia tem um fluxo próprio, mas tem locais que a gente vai dizer que eles não podem ficar porque [existe] o interesse público, a questão da ordem, do interesse das pessoas, da segurança deles, por exemplo. Ficar em uma via onde passa muito carro, ônibus, coloca em risco até a própria segurança deles”, disse o prefeito na manhã desta sexta em um evento da GCM, na praça da Sé.
O prefeito também disse que, se pudesse direcionar a cracolândia, pediria para “ficarem em um lugar bem longe de gerar incomodidade para as pessoas”. “Se eu pudesse falar onde eles vão ficar com certeza não seria na rua Mauá”, disse.
“Eles estão em uma condição de dependência química e gerando incomodo para milhares de pessoas, geram incomodo para a cidade”, disse o prefeito, que emendou em seguida: “Se eu pudesse direcionar para algum lugar, seria para tratamento”, emendou em seguida.
A GCM e a Polícia Militar aumentaram o policiamento no entorno da rua dos Gusmões, onde houve caso recente de arrombamento de uma loja de produtos eletrônicos. Esse teria sido o motivo, segundo a gestão municipal, para os usuários migrarem para a rua Mauá, fechada parcialmente para uma obra do metrô. A via também tem poucos comércios em comparação com a Santa Ifigênia.
Cerca de duas semanas antes, um motorista que afirmou ter sido vítima de assalto acelerou contra a aglomeração e atropelou 16 pessoas no cruzamento da rua dos Gusmões e a avenida Rio Branco, local de concentração do fluxo. Grades foram colocadas no local pela prefeitura após o episódio.
A Folha de S.Paulo apurou que integrantes da gestão Nunes e da Polícia Militar divergiram sobre a nova estratégia de fixar a cracolândia na rua Mauá. Segundo pessoas ligadas à administração municipal, a ideia de transferir os grupos de dependentes químicos foi sugerida pelo prefeito, que escolheu o local no Bom Retiro junto com a secretária de Segurança Urbana, Elza Paulina.
Oficiais da PM e agentes da GCM que atuam na cracolândia, porém, discordaram da movimentação por avaliarem que a estratégia irá apenas dispersar ainda mais os dependentes químicos pela região central da cidade. Nunes negou ingerência sobre o fluxo e a Secretaria de Segurança Pública informou em nota que atua na requalificação da rua dos Gusmões após atuação da GCM.