Novos ataques deixam mais mortos em Gaza e Israel

Israel voltou a atingir Gaza com ataques aéreos, e militantes palestinos lançaram mais foguetes contra o território israelense neste sábado (15), em um sinal claro de que o fim da pior escalada de violência na região desde 2014, após seis dias de conflito e em meio a um crescente número de mortos, está distante.

Diplomatas americanos e árabes tentam acalmar a situação depois de mais uma noite de violência em que militantes dispararam cerca de 200 foguetes contra cidades de Israel, cujos aviões atingiram o que eles disseram ser alvos usados pelo Hamas, o grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza.

Ao menos 139 pessoas foram mortas em Gaza desde o início desta nova fase de hostilidades, incluindo 39 crianças e 21 mulheres, e outras 950 ficaram feridas, segundo médicos palestinos. Neste sábado, um israelense de 50 anos foi morto em Ramat Gan, nos arredores de Tel Aviv, após um ataque lançado de Gaza, de acordo com serviços de emergência e o porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld. Agora, a cifra de mortos do lado israelense chegou a nove –um soldado na fronteira e oito civis, dois dos quais crianças.

Durante a noite, o bombardeio israelense matou ao menos 12 palestinos em Gaza, ainda de acordo com médicos, incluindo uma mulher e quatro de seus filhos, que morreram após a casa deles, em um campo de refugiados, ser atingida. Em Israel, milhares de israelenses correram para abrigos enquanto sirenes de alerta soavam. Um foguete lançado de Gaza atingiu um prédio residencial em Beersheba, no sul de Israel, segundo a polícia. Há relatos de que, na cidade, pessoas que correram para se proteger ficaram feridas.

Em Gaza, Akram Farouq, 36, deixou sua casa às pressas com a família depois de um vizinho contar que um oficial israelense ligou para avisar que seu prédio seria atingido. “Não dormimos a noite toda devido às explosões, e agora estou na rua com minha esposa e filhos, que choram e tremem.”

De acordo com militares israelenses, os bombardeios atingiram locais de lançamento de foguetes –um deles teria sido a base de um disparo contra Jerusalém– e apartamentos que pertencem a militantes do Hamas, facção radical que iniciou a ofensiva após tensões em torno de um processo judicial que determinou o despejo de famílias palestinas de Jerusalém Oriental e em retaliação aos confrontos entre a polícia israelense e palestinos na mesquita de al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do islã.

As Forças Armadas israelenses, porém, também destruíram um edifício em Gaza que abrigava veículos de imprensa, como a Al Jazeera e a agência de notícias Associated Press. Os militares, assim como descreveu o palestino Farouq, telefonou para avisar os ocupantes do prédio de que o local seria atacado em uma hora e enviou um míssil que não provoca danos graves como um alerta para evacuação.

Os esforços diplomáticos regionais e internacionais ainda não mostraram sinais de interrupção das hostilidades. O Egito enviou ambulâncias por meio de sua fronteira com Gaza para levar palestinos a hospitais egípcios, e Hady Amr, subsecretário-assistente dos EUA para Israel e assuntos palestinos, voou para Israel na sexta, antes da reunião do Conselho de Segurança da ONU marcada para este domingo. Washington diz que pretende “reforçar a necessidade de trabalhar em prol de uma calma sustentável”.
Desde sexta-feira, as baixas palestinas se estendem além de Gaza. Após manifestantes e forças israelenses entrarem em confronto, houve o relato de 11 mortos na Cisjordânia ocupada. Em Israel, de pequenas cidades na fronteira com Gaza a Beersheba e Tel Aviv, muitos correm para se proteger ao receberem avisos na rádio e na TV e mensagens de alerta em seus telefones celulares. Em uma praia de Tel Aviv, houve correria após o disparo de sirenes que avisam do perigo de foguetes.
As hostilidades entre Israel e Gaza foram acompanhadas de violência nas comunidades mistas de judeus e árabes de Israel. Sinagogas foram atacadas, lojas de propriedade de árabes e de judeus foram vandalizadas e brigas ocorreram de rua. O presidente de Israel, Reuven Rivlin, que desempenha um papel essencialmente cerimonial, alertou sobre a possibilidade de uma guerra civil.
O Egito vem pressionando por um cessar-fogo para que negociações pudessem começar, de acordo com duas fontes de segurança do país. Cairo tem apoiado o Hamas e pressionado outros atores do conflito, como os Estados Unidos, para garantir um acordo com Israel. Os chanceleres egípcio e jordaniano discutiram os esforços para encerrar o confronto em Gaza e evitar “provocações” em Jerusalém.

Segundo uma autoridade palestina, as negociações tomaram um caminho “real e sério” na sexta-feira, com os mediadores do Egito, do Qatar e da ONU intensificando contatos de todos os lados numa tentativa de restaurar a calma na região, ainda que um pacto não tenha sido alcançado. Os Emirados Árabes Unidos também pediram a interrupção dos ataques e negociações. Em setembro, o país e o Bahrein se tornaram os primeiros estados árabes em um quarto de século a estabelecer laços formais com Israel.

As companhias aéreas emiradenses Etihad Airways e FlyDubai, que passaram a operar em Israel após os acordos diplomáticos, anunciaram o cancelamento de voos para Tel Aviv a partir deste domingo, acompanhando a decisão de empresas americanas e europeias para evitar as hostilidades na região.

O Exército israelense disse neste sábado que cerca de 2.300 foguetes foram disparados de Gaza contra Israel desde segunda-feira, com cerca de 1.000 deles interceptados por defesas antimísseis, e 380 caindo na Faixa de Gaza. A agitação civil entre judeus e árabes em Israel desferiu um golpe nos esforços da oposição israelense para destituir o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu após uma série de eleições inconclusivas, aumentando a perspectiva de uma inédita quinta eleição em pouco mais de dois anos.

Naftali Bennet, líder do partido ultranacionalista Yamina, anunciou ter abandonado as negociações para formar um novo governo com uma coalizão de siglas de centro e com partidos de esquerda.

O cenário pós-eleitoral continua basicamente o mesmo: Netanyahu teve a chance de formar um novo governo e falhou. Agora, o principal bloco de oposição a ele, liderado pelo centrista Yair Lapid, da legenda Yesh Atid, também não tem um caminho claro para reunir maioria no Parlamento de 120 membros.
Bennett disse ter abandonado as conversas por uma coalizão para priorizar um governo de união mais amplo, que atenda ao interesse da nação em tempos de crise. Analistas dizem que o colapso da parceria entre Lapid e Bennett no contexto da violência atual em Israel dá a Netanyahu tempo extra para fazer um movimento político para se manter no poder.

“A partir do momento em que o fogo começou, o governo de mudança morreu, e Netanyahu, ressuscitou”, escreveu o comentarista Ben Caspit no jornal Maariv na sexta-feira. Lapid tem mais três semanas para formar um governo de coalizão. Um “acordo rotativo”, em que Lapid e Bennett se revezariam como premiês, foi cogitado, mas precisaria do apoio de legisladores árabes para obter maioria.

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