SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Horas após terremoto de magnitude 7,2 na manhã deste sábado (14), causando destruição principalmente no sul do país e deixando ao menos 304 mortos, além 1.800 feridos, o Haiti foi atingido por um novo tremor, de menor intensidade, com magnitude 5,8.
O primeiro sismo foi registrado às 8h29 locais (9h29 de Brasília) e seu epicentro foi no sudoeste da ilha de Hispaniola, a 160 km da capital haitiana, Porto Príncipe. Dez minutos depois, houve uma réplica de magnitude 5,2.
O embaixador do Brasil em Porto Príncipe, Marcelo Baumbach, afirmou que não há brasileiros entre as vítimas da tragédia. As autoridades já entraram em contato com os residentes na ilha.
“O terremoto atingiu principalmente a região de Jérémie, onde as construções são mais precárias. Foi sentido também em Porto Príncipe, mas menos.”, disse. “A internet está funcionando na capital e tem sido o principal meio de comunicação para informar sobre o ocorrido.”
Nas redes sociais, vídeos gravados por moradores mostravam prédios residenciais derrubados e pessoas correndo em meio a escombros e gritando.
Os principais danos teriam ocorrido nas cidades de Jérémie e Les Cayes. Há imagens de edifícios religiosos, casas e escolas que teriam sido afetados.
O primeiro-ministro da Haiti, Ariel Henry, decretou estado de emergência com duração prevista para um mês.
Em rede social, o premiê, que tomou posse há menos de um mês, prestou solidariedade. “Apresento minhas condolências aos parentes das vítimas do violento terremoto que ocasionou muitas perdas em vidas humanas e materiais em vários departamentos do país”, escreveu.
O senador Gabriel Fortuné, ex-prefeito de Cayes, foi encontrado morto, soterrado pelos escombros de um hotel na cidade onde participava de uma reunião.
A Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA chegou a emitir um alerta de tsunami na costa do Haiti, que logo foi cancelado.
“Eu estava fazendo exercícios pela manhã, quanto perdi o pé e caí no chão. Olhei para o teto e vi o lustre balançando”, disse à reportagem Akim Kikonda, líder da ONG Catholic Relief Services, desde Porto Príncipe.
Segundo informações de sua equipe, que está em Les Cayes e em Jérémie, vários edifícios vieram abaixo, principalmente moradias, mas também uma igreja e estabelecimentos do governo. Os hospitais estão lotados e tendo de recusar pacientes por não poderem dar atendimento a todos.
As ambulâncias e outros veículos com doações enviadas por várias ONGs, por sua vez, não conseguem chegar à região, porque a principal estrada que liga Les Cayes a Porto Príncipe sofreu um deslizamento por conta do terremoto e está bloqueada.
“Nosso desafio agora é como chegar lá com os elementos que essas pessoas precisam: alimento, água, remédios.”
Sephora Pierre Louis, moradora de Porto Príncipe, disse à agência de notícias Reuters que ouviu “pessoas gritando” em seu bairro. “Pelo menos elas sabem que precisam sair de casa. [No terremoto de] 2010, não sabiam o que fazer. As pessoas ainda estão nas ruas”, ela afirmou.
“Acordei e não tive tempo de colocar os sapatos. Nós vivemos o terremoto de 2010, e tudo o que pude fazer foi correr, minha cama estava tremendo. Todos gritavam para que saíssemos às ruas”, disse Naomi Verneus, 34, à agência de notícias Reuters.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse no Twitter que está acompanhando “a mais recente tragédia em curso no Haiti”. “Envio meus sentimentos a todos os afetados pelo terremoto. Minhas profundas condolências a todos que perderam familiares e amigos. A ONU está trabalhando para apoiar os esforços de resgate e assistência”, afirmou.
Em comunicado, o Itamaraty confirmou que não há brasileiros entre as vítimas da tragédia. “O governo brasileiro manifesta sua solidariedade ao povo haitiano e reafirma seu firme compromisso com a continuidade da ajuda humanitária prestada àquele país”, disse a pasta.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aprovou ajuda “imediata” ao Haiti e designou a diretora da Usaid (a agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), Samantha Power, para coordenar o esforço, disse um funcionário da Casa Branca a repórteres.
“Estou entristecido pelo terremoto devastador” no Haiti, afirmou Biden em comunicado, no qual afirma que ordenou “uma resposta imediata dos Estados Unidos” para socorrer os feridos.
Em rede social, o presidente da República Dominicana, Luis Abinader, expressou “consternação” pelo terremoto no país vizinho. “Instruí ao ministro das Relações Exteriores que se comunique com o primeiro-ministro haitiano para facilitar qualquer ajuda dentro das nossas possibilidades”, escreveu.
O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, também se manifestou. “Em nome do povo paraguaio, quero expressar nossa solidariedade a todos os afetados pelo terremoto no Haiti. Estão em nossas orações”, disse no Twitter.
A tenista Naomi Osaka, cujo pai é haitiano, prometeu doar aos esforços de resgate o dinheiro que receberia por sua participação no torneio Western & Southern Open na semana que vem. “Dói muito ver a devastação no Haiti”, ela escreveu no Twitter.
O terremoto chega em um momento de instabilidade política e de crise econômica do país. No último dia 7 de julho, o então presidente Jovenel Moïse foi assassinado a tiros em sua casa por um grupo de mercenários. A primeira-dama Martine também ficou ferida.
Os tremores deste sábado foram sentidos também na ilha de Cuba, na Jamaica e até no sul da Flórida, embora não haja, até o momento, relatos de mortes, feridos ou danos materiais. O centro de sismologia cubano disse ter registrado um terremoto de magnitude 7,4.
“Todo mundo está realmente com medo. Já se passaram anos desde um terremoto tão grande”, disse Daniel Ross, morador da província cubana de Guantánamo, à Reuters. Ele informou que sua casa está firme, mas a mobília balançou.
Há 11 anos, um terremoto de magnitude 7 causou uma terrível destruição no Haiti. Foram mais de 200 mil mortos, 300 mil feridos e 1,5 milhão de desabrigados. Milhares de casas, edifícios administrativos e escolas, além de 60% do sistema de saúde haitiano, foram destruídos na ocasião.
A tragédia se refletiu em uma década de instabilidade e promessas não cumpridas de desenvolvimento que sao sentidas até hoje. O país vive crônica instabilidade política, que não raro se traduz em manifestações violentas nas ruas e no fortalecimento de gangues locais.
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DESASTRES NATURAIS E EPIDEMIAS NO HAITI
2004
Chuvas torrenciais no mês de maio provocam inundações que destroem vilarejos inteiros e matam cerca de 2.400 pessoas.
Em setembro do mesmo ano, a passagem em série de dois furacões, Ivan e Jeanne, causou danos em várias partes do país, deixando 3.000 mortos e mais de 300 mil desabrigados.
O desmatamento e a degradação crônica do solo pela agropecuária tornam o terreno do Haiti suscetível a inundações e deslizamentos de terra, agravando os efeitos de desastres naturais.
2010
Em 12 de janeiro, um terremoto de magnitude 7 e com epicentro a apenas 25 quilômetros de Porto Príncipe destrói a infraestrutura do país e deixa mais de 200 mil mortos, além de 1,5 milhão de desabrigados. As vítimas incluem a médica sanitarista brasileira Zilda Arns, da Pastoral da Criança, e 18 militares brasileiros. Trata-se de um dos terremotos mais letais de que se tem registro. A estrutura de casas e prédios no Haiti é precária e incapaz de suportar os efeitos de tremores fortes.
Em outubro do mesmo ano, tem início uma epidemia de cólera que viria a matar quase 10 mil pessoas e infectar 820 mil. Acredita-se que o surto tenha partido de tropas da ONU, lideradas pelo Brasil, que contaminaram um importante curso d’água.
2016
A passagem do furacão Matthew em 4 de outubro deixa ao menos 546 mortos, além de 175 mil desabrigados. Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pela tragédia, que destruiu o equivalente a 22% do PIB do país naquele ano, de acordo com o Banco Mundial.
2020
A chegada da pandemia de Covid-19 paralisa a economia do país, dificultando ainda mais a recuperação após a sequência de desastres naturais. Até a última sexta-feira (13), o Haiti havia registrado 20 mil casos e 576 mortes pela doença, mas, devido à falta de testes, acredita-se que esses números sejam bem maiores.
O Haiti foi um dos últimos países no mundo a iniciar a vacinação contra o coronavírus, aplicando suas primeiras doses somente em julho de 2021. Um carregamento inicial de vacinas da AstraZeneca, fornecido pela Covax, foi recusado em maio, em razão de receio com possíveis efeitos colaterais.2021
Terremoto de magnitude 7,2 atinge o Haiti em 14 de agosto.
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