(FOLHAPRESS) – As DIIs (doenças inflamatórias intestinais) ainda são um tabu. Com difícil diagnóstico, ela atinge cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo. Podem aparecer sob o nome de Crohn e retocolite ulcerativa, doenças crônicas que não têm cura.
No Brasil, a prevalência aumentou de 30 a cada 100 mil habitantes em 2012, para 100 a cada 100 mil habitantes em 2020, segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia.
O tratamento envolve corticoides, imunossupressores e um cicatrizante intestinal.
Para conscientizar a população sobre os perigos da doença, foi estabelecido que 19 de maio seria o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais. Desde de 2010, especialistas, pacientes e ativistas se unem em todo o mundo para conscientizar sobre a condição.
A estudante Joice Cruz, 24, é uma das atingidas pela enfermidade. Desde 2012 ela vive com a doença de Crohn. Os sintomas começaram aos 11 anos com uma anemia severa, mas ela só recebeu o diagnóstico um ano depois, quando passou a sentir muito desconforto intestinal.
Joice, que mora em Uberlândia (MG) já passou por mais de 20 cirurgias. Um dos procedimentos foi uma colostomia, intervenção que exterioriza parte do intestino no abdômen quando a pessoa apresenta qualquer problema que a impeça de evacuar.
No início da doença, Joice passou 6 meses sofrendo com um abcesso – uma dolorida inflamação anal – porque tinha vergonha de falar sobre o assunto.
Hoje, depois de dez anos de tratamento, Joice está em remissão – quando a doença não gera mais crises inflamatórias e o uso de corticoides não é mais necessário.
Agora, ela pretende terminar o curso de Biomedicina, viver uma vida sem pensar na doença e seguir carreira científica para poder ajudar outras pessoas.
Causas e sintomas DIIs são doenças crônicas autoimunes que atingem o trato digestivo. Enquanto a retocolite é mais superficial e ataca principalmente o intestino grosso e o reto, a doença de Crohn pode causar inflamações profundas desde a boca até o ânus.
Não existe uma única causa para as doenças. O paciente precisa ter predisposição genética, mas fatores como alimentação, alcoolismo e desregulação da microbiota humana (bactérias, vírus e fungos que vivem espalhados pelo corpo) também têm um papel crucial. O tabagismo é o principal motor conhecido por desencadear a doença de Crohn.
De acordo com o médico Rogerio Serafim Parra, responsável pelo Ambulatório de DIIs do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, um especialista deve procurado quando forem observados diarreia por mais de 3 semanas, emagrecimento progressivo, sangramento nas fezes, anemia e feridas na boca ou no ânus.
Os médicos especialistas recomendados são os gastroenterologistas e os coloproctologistas.
TRATAMENTO
O tratamento inicial é feito com corticoides, medicamentos imunossupressores que não agridem o intestino, e Mesalazina, um cicatrizante intestinal.
Os pacientes com sintomas mais graves precisam receber imunobiológicos. Esses medicamentos agem contra moléculas específicas no corpo. O principal deles é o anti-TNF, que atua contra uma molécula do sistema inflamatório envolvida em doenças autoimunes.
Os medicamentos para tratamento das DIIs podem custar mais de 10 mil reais. Alguns deles são oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas segundo Parra, as diretrizes não são atualizadas com frequência. Isso faz com que os medicamentos mais novos e eficazes não estejam disponíveis.
Para ter acesso aos medicamentos mais recentes, os pacientes precisam recorrer à justiça ou a planos privados, cujas diretrizes são mais avançadas.
Os pacientes diagnosticados precocemente têm menos chances de precisarem de cirurgia, mas alguns podem precisar de colostomia, mesmo que por um período curto, diz o médico.
Medidas auxiliares
Em adição ao tratamento medicamentoso, outras medidas também podem ajudar os pacientes. O auxílio de nutricionistas, nutrólogos e psicólogos faz muita diferença na qualidade de vida.
Como essas doenças podem estar associadas a comorbidades como doenças autoimunes e cardiopatias, o acompanhamento de reumatologistas e cardiologistas também são essenciais.
Além disso, associações de pacientes com doenças inflamatórias intestinais também têm um papel importante na sensação de acolhimento dessas pessoas. Nesses grupos ocorrem eventos de socialização, troca de experiencias, indicações de profissionais e doações de medicamentos.
“Quanto às pessoas que chegam até nós, encaminhamos às lideranças estaduais, onde elas podem interagir com outros portadores que funcionam como uma rede de apoio, inclusive para conseguir acesso a médicos e tratamentos” diz Patrícia Mendes, presidente da Associação de Pessoas com Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa.
Pesquisa
Tanto a pesquisa básica quanto a pesquisa clínica são importantes para entender as causas das doenças inflamatórias e para desenvolver novos medicamentos.
Anderson dos Santos Ramos, mestre em Biologia Celular e Molecular pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e doutorando em Imunologia pela USP (Universidade de São Paulo), estudou o papel da microbiota no tratamento das DIIs e hoje investiga o papel do sistema imune para o desenvolvimento das doenças. Segundo ele, um tratamento específico para cada paciente é necessário e isso só pode ser desenvolvido com o investimento em pesquisa.
Para Parra, as pesquisas clinicas desenvolvidas em centros como a Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu e a o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto são a principal maneira de oferecer novos tratamentos aos pacientes, principalmente para aqueles que não respondem a terapia tradicional.
Remissão e cura
As doenças inflamatórias intestinais ainda não têm cura, mas quando o médico encontra o melhor tratamento para o paciente, ele pode entrar em estado de remissão.
“Se a gente tratar adequadamente, no período certo e com drogas boas, a maioria dos pacientes consegue ter uma vida próxima do normal”, completa Parra.
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