(FOLHAPRESS) – Bob Dylan, 83, tem a fama de não assistir a nenhuma produção sobre si próprio. É por isso que Timothée Chalamet, 29, ficou surpreso quando o músico usou as redes sociais para dizer que achava que o ator seria “completamente crível” fazendo o papel dele (“ou uma versão mais jovem”) em

 

“Um Completo Desconhecido”, que estreia na quinta-feira (27) no Brasil.

“Eu fiquei atônito”, diz o americano à reportagem sobre a mensagem, na qual também foi chamado de “ator brilhante”. “Fiquei apenas imensamente grato, sabe?”, comenta. “Estou muito, muito agradecido, do fundo do meu coração. Nem sei mais o que dizer.”

A aparente modéstia não combina com o currículo do astro que está do outro lado da tela durante a videoconferência para promover o filme, pelo qual recebeu sua segunda indicação a melhor ator no Oscar (ao todo, o filme concorre a oito estatuetas, incluindo melhor filme). Desde James Dean (1931-1955), nenhum outro homem com menos de 30 anos alcançou o feito.

Apesar de trabalhar desde criança, foi em 2017 que o jovem de nome difícil de pronunciar, rosto anguloso e olhar penetrante chamou a atenção. Ele encantou meio mundo na pele do delicado Elio de “Me Chame pelo Seu Nome”. De lá para cá, não parou mais de trabalhar e se firmou como um dos principais nomes de sua geração, calando a boca de quem diz que não há mais estrelas de primeira grandeza em Hollywood.

O papel de Bob Dylan veio na esteira. Anunciado inicialmente em 2020, o filme precisou ser adiado por causa da pandemia e, depois, por causa da greve dos atores. Chegou-se a duvidar que a obra sairia do papel. Mesmo assim, Chalamet continuou ensaiando para cantar e tocar como se fosse o músico. E para não precisar usar playback caso o filme fosse realmente rolar.

“Sentir-me confortável fazendo isso foi uma alegria”, conta. “Bem, eu tive tanto tempo para trabalhar nisso que, quando começamos, foi honestamente muito divertido e eu tinha uma certa confiança em fazê-lo, o que eu acho que tornou todo o processo realmente agradável, do início ao fim.”

Foi também depois do convite que ele começou a se aprofundar no universo de Dylan. Correndo o risco de cometer um “sincericídio”, ele admite que não sabia tanto sobre o músico folk que se tornou ícone da contracultura, está entre os maiores vendedores de discos de todos os tempos e tem até um prêmio Nobel na estante.

“Bem, antes de pegar o papel, eu realmente não sabia muito sobre o legado musical dele”, afirma. “Eu realmente não sabia muito sobre os anos 60 e o impacto cultural e musical dos anos 60. Então eu era bastante ingênuo em relação a tudo isso.”

Após esse período de imersão, ele diz que as coisas mudaram. “Agora, sou completamente devoto da igreja do Bob”, brinca. “Sou um grande fã de toda a sua música e muito respeitoso com seu trabalho e também com toda a música em torno de Bob dos anos 60, sabe? Todos os artistas que ele influenciou e os artistas dos anos 50 que o influenciaram.”

No filme, o foco é um período bem específico da vida do músico. É mostrada a chegada dele a Nova York, no começo dos anos 1960, e sua ascensão no meio folk, até que ele decide romper as expectativas e introduzir novos instrumentos, como a guitarra elétrica. Tudo isso permeado por alguns dos amores da vida de Dylan, como a cantora Joan Baez (vivida por Monica Barbaro, que concorre ao Oscar de atriz coadjuvante).

Apesar das indicações, a campanha do filme vinha em fogo lento, com mais menções que vitórias de fato. Mas Chalamet ganhou impulso na reta final do Oscar ao vencer no último domingo (23) o SAG Awards, o prêmio do sindicato dos atores de Hollywood. Trata-se, tradicionalmente, de um dos maiores termômetros do principal prêmio do cinema mundial.

Caso vença, ele vai se tornar o mais jovem vencedor do prêmio de melhor ator. Desde 2003, o título pertence a Adrien Brody, que também concorre neste ano por “O Brutalista”. Ralph Fiennes (“Conclave”), Colman Domingo (“Sing Sing”) e Sebastian Stan (“O Aprendiz”) completam o páreo.

Seja qual for o resultado, Chalamet sente que já ganhou. Só tem um troféu que ele ainda gostaria de conquistar: que Bob Dylan, o próprio, assistisse ao filme que já elogiou mesmo sem ver.

“Sim, quero dizer, ouvi que ele não assistiu a nenhum dos documentários sobre ele ou a qualquer um dos filmes, então eu não esperaria que ele visse”, resigna-se. “Mas certamente trabalhamos muito duro nisso. Então estamos definitivamente muito orgulhosos do que fizemos.”

E ele entrega que, mesmo com as chances de Dylan assistir sendo remotas, teve essa possibilidade em mente durante as filmagens. “Acho que não tem como não afetar de certa forma, né?”, afirma. “Ele é uma figura real, que está viva e bem.”

Só que isso não o impediu de dar sua própria visão sobre o que estava sendo mostrado na tela. “Tivemos grande liberdade por parte de Bob Dylan e de sua equipe”, elogia. “Não encaramos nada como se fosse um fato, porque existem muitas filmagens por aí e as pessoas conhecem as histórias [do Dylan]. Então o filme é definitivamente uma interpretação, para a qual todos nós nos esforçamos ao máximo e demos o nosso melhor.”

“UM COMPLETO DESCONHECIDO”

Quando Estreia 27/2 nos cinemas
Classificação 14 anos
Elenco Timothée Chalamet, Edward Norton, Monica Barbaro e Elle Fanning, entre outros.
Direção James Mangold

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