Mucormicose: Infeção rara mutila e mata doentes com Covid-19 na Índia

Na última semana foram diagnosticados na Índia aproximadamente nove mil casos de mucormicose, uma infeção provocada por um fungo que está levando a múltiplos casos de mutilação e morte.

De acordo com uma reportagem realizada pela BBC News, alguns pacientes só conseguiram sobreviver devido a terem sido rapidamente submetidos a uma cirurgia de remoção de um dos olhos – sendo que a  taxa de mortalidade entre os infectados atinge os 50%.

Até ao momento já foram identificados milhares de casos de mucormidose entre doentes recuperados da Covid-19 ou que se encontravam a recuperar. O que valida que existe de fato uma relação entre a patalogia rara e a pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2. 

Médicos e especialistas dizem que a relação potencialmente letal está nos esteroides utilizados no tratamento da Covid-19. Mais ainda, alertam que indivíduos diabéticos correm um risco significativamente mais elevado de sofrerem de mucormicose.

Afinal, o que é mucormicose?

Conforme explica a BBC, a mucormicose, vulgarmente denominada de ‘fungo preto’, é uma infeção extremamente rara, provocada pela exposição ao fungo mucoso, integrante da família Mucoraceae, geralmente presente em plantas, no solo, esterco e frutas e vegetais em estado de decomposição.

“É onipresente e pode ser encontrado no solo e no ar e até mesmo no nariz e muco de pessoas saudáveis”, contou Akshay Nair, um cirurgião oftalmologista de Mumbai, na Índia, à BBC News.

Este fungo perigoso afeta a face, o cérebro e os pulmões, podendo matar no caso de pessoas com diabetes ou gravemente imunossuprimidas, como por exemplo indivíduos que padecem de câncer ou de HIV/AIDS.

Qual é a causa para o desenvolvimento da infeção?

Os médicos creem que a mucormicose surge como consequência do uso de esteroides, substâncias farmacológicas utilizadas ​​para tratar pacientes graves com Covid-19.

Tal ocorre, porque apesar de combaterem o SARS-CoV-2, diminuem igualmente a imunidade e aumentam os níveis de açúcar no sangue, em doentes diabéticos e não-diabéticos. A redução da imunidade poderá assim promover o surgimento de quadros de mucormicose.

Quais são os sintomas do ‘fungo negro’?

Os pacientes tendem a apresentar sintomas de congestão nasal e sangramento, além de inchaço e dor nos olhos, pálpebras caídas, visão turva e, nos casos mais graves, perda de um olho. Podem ainda aparecer manchas pretas na pele ao redor do nariz.

Segundo os médicos, a maioria das pessoas procura ajuda demasiado tarde, quando já estão a perder a visão. Momento em que é imperativamente necessário remover cirurgicamente o olho infectado para evitar que o fungo alcance o cérebro.

Mais ainda, por vezes os doentes perdem a visão em ambos os olhos, e os médicos podem ainda ter de remover cirurgicamente o osso da mandíbula de modo a impedir a propagação da doença.

A mucormicose pode ser tratada através da administração de uma injeção intravenosa antifúngica que tem de ser dada diariamente por até oito semanas – sendo, que este se trata do único fármaco eficaz contra a patologia.

A mucormicose é contagiosa?

Não, a doença não é contagiosa entre pessoas ou animais. Os especialistas garantem ainda que o fungo só se desenvolve em pacientes com as ‘condições certas’, como diabetes ou imunossupressão provocada por outras condições clínicas. 

Todavia, como este se dissemina por esporos de fungos presentes na atmosfera ou no ambiente, é praticamente impossível evitá-lo. Já pessoas saudáveis não devem recear o contágio.

“Bactérias e fungos estão presentes no nosso corpo, mas o sistema imunológico mantêm-nos sob controle”, afirmou à Reuters K. Bhujang Shetty, diretor do Hospital Narayana Nethralaya na Índia.

“Quando o sistema imunológico está enfraquecido devido ao tratamento de tumores, diabetes ou uso de esteroides, esses organismos aproveitam-se e multiplicam-se”, acrescentou.

“A cepa parece ser virulenta, elevando o açúcar no sangue a níveis muito altos. E estranhamente a infeção fúngica está a afetar muitos jovens”, disse Raghuraj Hegde, médico da cidade de Bangalore, no sul do país.

Renuka Bradoo, do Hospital Sion, em Mumbai, salientou: “já estamos a ver dois ou três casos por semana aqui. É um pesadelo dentro de uma pandemia”. 

 

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