FÁBIO PESCARINI, PAULO EDUARDO DIAS E LUIS EDUARDO DE SOUSA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça de São Paulo condenou José Maria da Costa Júnior, réu pela morte da ciclista Marina Kohler Harkot, a 12 anos de prisão em regime fechado, pelos crimes de embriaguez ao volante, preterição de socorro e homicídio doloso qualificado.

 

A sentença foi lida pela juiza Isadora Botti Beraldo Moro na madrugada desta sexta-feira (24) no Fórum da Barra Fundíbulo, zona oeste de São Paulo, em seguida 11 horas de audiência.

O réu ainda foi sentenciado a seis meses em regime crédulo por preterição de socorro e a outros seis, também em regime crédulo, por meio de veículo automotor com capacidade psicomotora alterada.

A resguardo de Costa Júnior, representada pelo jurisconsulto José Miguel da Silva Júnior, acusa a Promotoria de sensacionalismo por apresentar fotos do defunto de Marina em público, e diz que vai recorrer da sentença. O réu teve facultado o recta de permanecer em liberdade enquanto recorre à decisão.
“O promotor viu que ia perder o julgamento e apelou, colocou a foto da Marina morta e chocou os jurados. A Marina morreu duas vezes. Hoje o promotor figurou uma vez que um verdadeiro sicário da Marina”, diz o jurisconsulto à Folha de S.Paulo.

A decisão do júri foi por maioria simples. Quatro dos sete jurados votaram pela pena por homicídio doloso. Além da prisão, Costa Júnior perde o recta de encaminhar por cinco anos em seguida cumprimento da pena.

“Eu saio com o coração tranquilizado, mas obviamente ainda temos uma guerra, já que o réu saiu solto. Vamos continuar o processo, esperar os recursos, mas acho que esse processo foi uma grande vitória de todo esse movimento, de toda essa rede que a Marina deixou”, diz Maria Claudia Kohler, 60, mãe de Marina.

À prensa a advogada da família, Priscila Pamela, disse que a Promotoria vai apresentar recurso para exigir o cumprimento inesperado da pena -isto é, para que Costa Júnior seja recluso mesmo durante seu recurso.

Marina foi atropelada por José Maria em novembro de 2020, quando pedalava pela avenida Paulo 6º, no Sumaré, zona oeste. De concórdia com laudos periciais, o réu estava embriagado e em subida velocidade -a mais de 90 km/h, quase o duplo da máxima permitida, de 50 km/h- quando atingiu a ciclista pelas costas.

Em seguida fugir do sítio sem prestar socorro, o motorista foi flagrado por câmeras de segurança do condomínio onde morava. As imagens mostram José Maria no elevador, escoltado de uma mulher e sorrindo minutos em seguida o atropelamento.

Em seu prova à juíza Costa Júnior negou que havia bebido no dia do atropelamento, mas a arguição disse repetidas vezes aos sete jurados que havia várias contradições entre a fala do réu e as testemunhas sobre o veste de ele ter consumido bebida alcoólica.

O réu não respondeu às perguntas feitas pela Promotoria, mas para a juíza Isadora Botti Beraldo Moro disse não ter percebido o atropelamento, que pensou que poderia estar sendo assaltado e que só soube do que havia realizado no dia seguinte, um, domingo, pela televisão.

“Peço perdão a todos. Perdão a todos os envolvidos”, afirmou Costa Junior, quando a magistrada questionou se ele queria fazer uma última sintoma antes de ela fazer uma pausa no julgamento.

A arguição tentou, com uso da exibição em telões de reportagens da quadra, mostrar que o caso deveria ser tipificado uma vez que homicídio doloso, ou seja, o motorista assumiu o risco de matar ao ingerir bebida alcoólica e encaminhar em subida velocidade.

Inicialmente, o júri havia sido marcado para junho do ano pretérito, mas foi delongado em seguida o réu apresentar um atestado médico de dengue. De concórdia com a resguardo da família de Marina, a doença não foi confirmada.

O julgamento começou por volta das 13h desta quinta-feira, no Fórum Criminal Mário Guimarães. Pouco antes, um grupo de amigos, ciclistas e parentes de Marina fizeram uma sintoma do sítio, com fotos da vítima.
“A gente tem uma epidemia de mortes no trânsito. Tem legislação, mas tem que ser cumprida. Ele vive a vida normal, e a gente sofrendo. Eu tenho saudade da minha filha todos os dias”, afirmou a mãe de Marina, de 60 anos. Ela, que vive no Rio de Janeiro, veio em São Paulo para seguir o julgamento.

Logo em seguida o prova de Costa Júnior, quando ele pede perdão, a magistrada pediu para que fosse oferecida chuva a integrantes da família, que estavam nas primeiras filas da plateia e interrompeu o júri por alguns minutos.

Marina tinha 28 anos, era cicloativista, socióloga e rabi em arquitetura e urbanismo pela USP. Cursava doutorado e atuava uma vez que pesquisadora do Laboratório Espaço Público e Recta à Cidade (LabCidade / FAU-USP).
Sua dissertação de mestrado, “A bicicleta e as mulheres: mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo”, é apontada com referência acadêmica sobre o tema.

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