Mortes por ingestão de álcool de posto geram alerta em Campinas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O CIATox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) de Campinas emitiu um alerta nesta quarta-feira (16) sobre o aumento de casos de intoxicação por metanol associado ao consumo de etanol obtido em postos de gasolina. De abril de 2016 a 20 de julho deste ano, foram 14 ocorrências na região de Campinas, sendo 10 em 2022 e 2023. Onze desses pacientes morreram.

“O presente alerta indica uma situação grave e possivelmente representa a ‘ponta de um iceberg’ quanto ao número de casos semelhantes ocorridos ou ainda ocorrendo na região e, provavelmente, em outros estados do país”, diz o documento.
Segundo o CIATox, os pacientes que morreram -uma mulher e dez homens- tinham entre 28 e 37 anos, e seus casos foram registrados em Campinas (2), Sumaré (2), Santa Bárbara d’Oeste (2), Limeira (1), Itu (2), Jundiaí (1) e Rio Claro (1).

Os registros não letais ocorreram em Campinas (1), Limeira (1) e Araras (1), envolvendo uma mulher de 32 anos e dois homens de 47 e 48 anos. Esses pacientes deixaram o hospital com sequelas neurológicas ou perderam a visão.

“A abstinência alcoólica e dificuldades financeiras para obtenção de bebidas legalizadas foram consideradas as motivações na maioria dos casos, sendo dois casos de indivíduos em situação de rua e dois abrigados em serviço de apoio a indivíduos em situação de vulnerabilidade”, diz o documento, que será detalhado em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (17).

O alerta do CIATox de Campinas é o segundo emitido em agosto. No último dia 8, o CFF (Conselho Federal de Farmácia) também chamou atenção para a questão, informando que nos últimos meses alguns CIATox das regiões Sul e Sudeste reportaram aumento de casos.

FALTA DE ANTÍDOTO E COMBUSTÍVEL ADULTERADO

Além do consumo de etanol de postos em si, o texto do CIATox alerta para outros problemas, entre eles o longo intervalo entre a ingestão e a 1ª consulta ao centro de toxicologia (mediana de 39 horas), comprometendo a eficácia terapêutica do antídoto e o início da hemodiálise.

Em relação ao antídoto, os autores afirmam que em praticamente todos os casos em que a substância foi empregada ela foi cedida do estoque do CIATox, mantido pelo setor de farmácia do HC-Unicamp, indicando a carência do produto na rede regional de atenção às urgências e emergências do SUS e resultando em atraso no tratamento.

“O único antídoto disponível no Brasil para o tratamento dessas intoxicações é o etanol, de preferência na apresentação farmacêutica de álcool absoluto para uso IV, disponível de imediato apenas em alguns poucos serviços de urgência”, afirmam Fábio Bucaretchi, Eduardo Mello De Capitani, Camila Carbone Prado, Rafael Lanaro e José Luiz da Costa.

Eles também destacam que os pacientes foram expostos a amostras de etanol com concentração de metanol acima do limite legal de 0,5%. “Nesse sentido, nos parece necessária investigação da origem do metanol e tipo de adulteração do combustível pelos órgãos competentes, visando coibir tal prática e prevenir futuros casos de intoxicação.”

O grupo defende ainda alertas aos serviços de urgência e emergência para que consigam diagnosticar de forma precoce os casos de intoxicação por metanol; a formulação de um documento nacional; e um pedido para que os serviços de medicina forense realizem investigações mais abrangentes nas autópsias de indivíduos que estavam em situação de rua ou abrigados com dificuldades financeiras, principalmente aqueles com antecedentes de alcoolismo ou de consumo de outras substâncias psicoativas.