SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Passado o período de festas de fim de ano e feriados, o número de novas mortes por Covid-19 apresenta tendência de estabilidade no estado de São Paulo. É a primeira vez que o ritmo da epidemia dá sinais de que pode estar cedendo desde novembro, quando a contaminação voltou a crescer.
Especialistas alertam, contudo, que é cedo para identificar uma tendência de médio ou longo prazo. A taxa de mortes ainda é alta, e fatores como a disseminação de novas variantes do coronavírus podem voltar a piorar o quadro.
Na semana encerrada em 7 de fevereiro, foram registrados, em média, 233 óbitos por dia em todo o estado, 8% a mais do que na semana final de janeiro. Segundo infectologistas, variações de até 15% para mais ou para menos na média móvel de novos casos e mortes em relação ao período de 14 dias indicam estabilidade.
O valor é menor que os 289 observados no pico da pandemia, em agosto, mas consideravelmente maior que a média de 50 óbitos diários registrada na semana do dia 10 de novembro, o volume mais baixo desde o início da pandemia.
Considerando o número de novos casos, parece também começar a haver uma estabilização, apesar de os números ainda estarem próximos do pico da primeira onda, em agosto. O monitor do jornal Folha de S.Paulo, que considera a aceleração de novos casos, ainda aponta o estado como acelerado.
Infectologista do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, Leonardo Weissmann afirma que não há motivo para comemoração pela aparente estabilização no número de novas mortes e casos. Para ele, as medidas atuais de contenção do vírus não são suficientemente eficazes para controlar a pandemia.
“A transmissão sustentada não ocorre de forma uniforme em todo o estado de São Paulo, onde se observam diferentes condições, e essa dita estabilidade significa que ainda existem muitos novos infectados e indivíduos perdendo a vida. Situação semelhante foi observada no meio de 2020, quando alguns comemoravam o platô da pandemia, e nós já alertávamos que não havia sentido”, diz.
Entre as regiões do estado, há diferentes cenários. Na capital, as mortes vêm caindo desde o fim de janeiro, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde, e parecem ter chegado à estabilidade. Em Santos, no litoral, também há um platô no mês de fevereiro.
Tanto a cidade de São Paulo quanto a região da Baixada Santista estão atualmente na fase amarela do Plano São Paulo. O programa do governo estadual determina medidas de isolamento e impõe restrições ao funcionamento de estabelecimentos de acordo com fatores como o nível de contaminação e ocupação de leitos hospitalares.
Neste momento, academias, salões de beleza, restaurantes, cinemas, teatros, shoppings, concessionárias, escritórios e parques estaduais podem funcionar com 40% da ocupação. Eventos como festas, baladas e shows estão vetados.
Até o dia 5, a capital estava na fase laranja, com regras mais rigorosas –o comércio, por exemplo, só podia funcionar até as 20h.
No interior do estado, por sua vez, a situação da Covid-19 é mais preocupante. Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, Franca e Bauru apresentam, embora em graus variados, alta na média móvel de mortes desde o fim de novembro.
As últimas duas estão na fase vermelha do Plano São Paulo, a mais rigorosa, que só permite o funcionamento de serviços essenciais. A ocupação dos leitos de UTI passa de 90% na região de Bauru e de 80% na de Franca, segundo o governo do estado.
Em Bauru, a Justiça derrubou na segunda (8) decreto municipal que ampliava o leque de atividades consideradas essenciais, o que flexibilizava a fase vermelha. A lei permitia o funcionamento, por exemplo, de shoppings, bares e salões de beleza.
Ribeirão e Sorocaba, com cerca de 70% de ocupação nas UTIs, estão na fase laranja. Já Campinas está na fase amarela, embora também tenha lotação de aproximadamente 70%.
De acordo com dados da secretaria estadual de Saúde, contudo, a cidade registrou queda nas internações nos últimos sete dias (redução de 17%), diferentemente das demais, que tiveram estabilidade ou alta no número de internados.
Campinas é a terceira cidade paulista com maior número de mortes (1.734). Fica atrás de Guarulhos, com 1.952, e da capital, com 17.822, segundo números desta quarta-feira (10). As três cidades são também as mais populosas do estado.
Para Weissmann, do Emílio Ribas, não é possível dizer que o fim das festas de fim de ano e das férias de verão vão ajudar a reduzir os números de contágio.
“Não se pode relacionar essa tendência de estabilidade com feriados e o verão. No verão, por exemplo, as pessoas se aglomeram nas praias; no inverno, em casa, com ambientes fechados, para fugir do frio”, diz.
Ele afirma ainda que, se não forem adotadas medidas mais rigorosas para promover o isolamento social, pode haver espaço para o surgimento de novas variantes do coronavírus, com consequente descontrole de casos e mortes.
“As novas variantes parecem ter maior capacidade de transmissão, por uma maior multiplicação do vírus. Observamos a circulação de pessoas e aglomerações, sem medidas de contenção, e, com isso, poderemos ter outras variantes, e a situação ficar mais complicada do que já está”, completa.
Desde o início da pandemia, em fevereiro do ano passado, o estado de São Paulo soma 1,9 milhão de casos e 55,4 mil óbitos por Covid-19.
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