SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos 73 migrantes que partiram do Líbano em uma embarcação em direção à Itália morreram na costa da Síria, segundo o balanço atual do acidente, ocorrido nesta quinta-feira (22).
É o naufrágio mais mortal registrado nos últimos anos no Líbano, país no qual o desespero com uma crise econômica gravíssima tem levado muitos a se aventurarem em barcos frágeis e superlotados na esperança de chegar à Europa pelo mar Mediterrâneo. Muitos se dirigem até à ilha do Chipre, que fica a 175 km da costa libanesa.
O ministro sírio da Saúde, Hassan Al Ghubach, afirmou em um comunicado que o balanço de 73 vítimas ainda é provisório e que 20 pessoas recebem atendimento em um hospital em Tartus, cidade costeira na Síria.
De acordo com relatos de sobreviventes, o barco partiu da região de Minyeh, no norte do Líbano, na terça-feira com entre 120 e 150 pessoas a bordo.
Segundo o ministro libanês dos Transportes, Ali Hamie, a maioria dos migrantes eram libaneses e sírios -há mais de 1 milhão deles vivendo no Líbano como refugiados de guerra. Palestinos que vivem em um campo de refugiados disseram que várias dezenas de pessoas a bordo vieram desse campo.
Hamie disse que o barco era “muito pequeno” e feito de madeira e que essas travessias ocorrem quase diariamente e são organizadas por pessoas que não se preocupam com a segurança.
Pessoas que temiam que seus parentes estivessem entre os mortos se reuniram na fronteira com a Síria, para onde os corpos deveriam ser levados no final do dia.
As autoridades continuam com as tarefas de busca para encontrar possíveis sobreviventes, em uma das maiores operações de resgate já organizadas na reunião.
Tartous é o mais meridional dos principais portos sírios e fica pouco mais de 50 quilômetros ao norte da cidade portuária libanesa de Trípoli.
Entre os sobreviventes, Wissam Al Talawi, um pai de família que vive em Trípoli e vem de Akkar, outra região pobre do norte do Líbano, foi hospitalizado, disse seu irmão Ahmad à AFP.
Os corpos de suas duas filhas, de cinco e nove anos, foram repatriados para o Líbano e enterrados nesta sexta, acrescentou Ahmad. A esposa e dois filhos de Talawi continuam desaparecidos.
“Eles partiram há dois dias”, disse Ahmad. Seu irmão “não podia cobrir os gastos diários nem o custo de matricular seus filhos na escola”, continuou ele.
Emigração recorde O Líbano vive uma das crises econômicas mais profundas do mundo, e o número de pessoas que deixaram ou tentaram deixar o país por mar quase dobrou em 2021 em relação a 2020.
Neste ano, aumentou novamente mais de 70% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo a agência de refugiados das Nações Unidas, a Acnur, informou à agência Reuters no início do mês. De janeiro a agosto, 1.826 pessoas tentaram escapar do país pelo Mediterrâneo.
Além dos próprios libaneses, muitos dos que embarcam em direção à Europa são refugiados da Síria e da Palestina que viviam no país.
Segundo o governo, traficantes de pessoas cobram o equivalente a R$ 20 mil para a travessia pelo Mediterrâneo.
Na segunda e na terça-feira desta semana, o Chipre mobilizou equipes de busca e resgate após, no espaço de horas, dois navios que transportavam imigrantes do Líbano emitiram sinais de socorro. Havia 300 pessoas em uma embarcação e 177 na outra. Todos a bordo foram resgatados, afirmou o Centro de Coordenação de Resgate Conjunto da ilha.
Em abril, um barco que partiu de perto de Trípoli afundou durante uma interceptação pela marinha libanesa na costa. Cerca de 80 imigrantes libaneses, sírios e palestinos estavam a bordo, dos quais cerca de 40 foram resgatados, sete foram confirmados mortos e 30 continuam oficialmente desaparecidos.
Os libaneses atualmente têm acesso esporádico a luz, combustível e água. Faltam também medicamentos.
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