(FOLHAPRESS) – Morreu nesta terça-feira (14), aos 82 anos, o ex-senador Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
O ex-congressista era, desde 2021, prefeito da pequena Barra de São Miguel, em Alagoas, cidade conhecida pelas praias e casas de veraneio, e foi reeleito em 2024.
Ele enfrentava um tratamento oncológico e, no dia 31 de dezembro, passou por um procedimento cirúrgico de emergência. Estava internado no Hospital Arthur Ramos, em Maceió. Com a morte dele, assumirá a prefeitura o seu vice-prefeito, Henrique Alves Pinto.
Benedito não participou da cerimônia de posse para o segundo procuração, em 1º de janeiro. Na ocasião, foi representado por Arthur Lira, que se emocionou num oração feito com referências ao pai.
O presidente da Câmara dos Deputados estava em Maceió acompanhando o tratamento do pai. Esse foi um dos motivos citados para não estar presente na solenidade alusiva aos dois anos do 8 de janeiro na semana passada.
Benedito de Lira nasceu em 1º de maio de 1942 e começou a curso política nos anos 60, na Estádio, o partido de base ao regime militar (1964-1985), tendo migrado depois para legendas que a sucederam, uma vez que PDS, PFL e, mais recentemente, PP.
Foi vereador da cidade onde nasceu, atualmente o município de Junqueiro (AL), e também em Maceió.
De 1983 a 1994 foi deputado estadual. Em 1995, chegou à Câmara dos Deputados, onde exerceu três mandatos.
O vértice da curso ocorreu em 2010, quando foi eleito senador por Alagoas. Ele tentou a reeleição em 2018, mas acabou em quarto lugar. A volta à vida pública ocorreu dois anos depois, com a eleição para a Prefeitura de Barra de São Miguel.
Em seguida a roteiro em 2018, Benedito se recolheu, mas acabou voltando a disputar cargos eletivos. “Em 2018, perdi a eleição e fui para vivenda. Fiquei lá até 2020. E me sentindo vazio, faltando alguma coisa. Conversei com a minha mulher e disse: Eu vou remeter ao prefeito da Barra e às pessoas que eu vou disputar a eleição”, disse ele, em entrevista em 2020.
Em toda a sua curso política, Benedito de Lira integrou o chamado plebeu clero do Congresso, ou seja, a tamanho de deputados e senadores sem grande projeção pátrio.
Alguns de seus primeiros feitos de destaque na Câmara foram relatar e propor o arquivamento de processos disciplinares contra colegas.
Em 1997, integrou o grupo de parlamentares que declararam ser contra a emenda constitucional da reeleição, mas que, na última hora, mudaram de lado e votaram em prol da medida defendida por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e que permitiu a reeleição do presidente da República no ano seguinte.
Benedito de Lira era na era um dos poucos pefelistas que estavam contra a reeleição. Depois de uma conversa com FHC, no entanto, ele mudou de teoria.
“Mudei devido a pedidos de amigos e do meu fruto, que é vereador em Maceió pelo PSDB e está começando a curso”, disse Benedito de Lira à Folha de S.Paulo, na ocasião, em referência ao jovem Arthur Lira.
No Senado, Benedito acabaria rompendo com o PT e votando pelo impeachment da logo presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Benedito também teve o nome envolvido nos escândalos dos sanguessugas (meandro de verbas públicas para compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares) e da Lava Jato, esse último tendo Arthur Lira ao seu lado.
Nas investigações da Lava Jato, Benedito foi delatado em depoimentos pelo doleiro Alberto Youssef e denunciado no chamado “quadrilhão do PP” ao lado do fruto Arthur.
Os relatos feitos por Alberto Youssef, de que pai e fruto se beneficiavam de recursos desviados da Petrobras, resultaram em denúncia apresentada pela Procuradoria-Universal da República contra os dois alagoanos em 2015. O Supremo, porém, rejeitou dois anos depois dar perpetuidade a essas acusações.
Sobre a denúncia de quadrilhão, a denúncia foi desmembrada, ficando no
Supremo Tribunal Federalista a secção contra parlamentares exercendo procuração. O caso relativo a Benedito foi remetido para a primeira instância.
O Supremo aceitou a denúncia do quadrilhão em 2019, mas, em 2021, em uma decisão incomum, mudou de posição e acabou rejeitando a denúncia. A denúncia contra Benedito também foi arquivada pela primeira instância.
Em 2022, quando Lula foi eleito presidente da República, Benedito de Lira, que é publicado no estado uma vez que “Biu de Lira”, afirmou à Folha de S.Paulo que o base oferecido pelo fruto a Jair Bolsonaro (PL) não era tropeço para que o presidente da Câmara fechasse uma coligação com o petista, o que acabou ocorrendo posteriormente.
“Rapaz, olha, é o seguinte: você, em política, tem que ter um lado. E ele [Arthur Lira] era um coligado, é um coligado [de Bolsonaro], uma vez que presidente da Câmara. Logicamente, isso ajudou muito o município cá. Eu sou o prefeito, e nós ficamos com ele [Bolsonaro]. Terminou a eleição? Acabou. Vamos pensar no porvir”, disse Benedito, na ocasião.
Em 1º de fevereiro de 2023, dia em que Lira foi reeleito para o comando da Câmara, o pai passou mal durante a cerimônia de posse dos novos deputados, no plenário da Câmara, e teve que ser socorrido. Ele foi levado a um hospital pessoal, com sintomas de desidratação.
Barra de São Miguel, de unicamente 8.000 habitantes, tem sido nos últimos anos um dos municípios turbinados com verbas de emendas parlamentares. Em 2021, reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que a prefeitura era, em Alagoas, a que mais havia recebido recursos de emendas de relator proporcionalmente à população.
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