MICHELE OLIVEIRA
MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Em entrevista concedida à emissora pública italiana Rai, antes de ser eleito papa, Robert Prevost contou como a família influenciou sua opção pela Igreja e a importância dos conselhos do pai para enfrentar as dúvidas sobre a vocação para a carreira eclesiástica.
“Muitas pessoas foram importantes no meu caminho. Alguns sacerdotes, alguns agostinianos, mas também dentro da família. Me lembro de conversar com meu pai, que não era exatamente um diretor espiritual, mas que falava de coisas muito concretas”, disse o agora papa Leão 14. “Das dúvidas que podiam surgir quando um jovem pensa se não seria melhor deixar aquela vida e se casar, ter filhos. Uma vida normal, inclusive como a conheci na minha família”, contou ao jornalista Stefano Ziantoni, diretor do canal Rai Vaticano.
“Meu pai, com sua experiência, me falava de quanto a intimidade entre ele e minha mãe era importante, mas também, na vida de uma vocação ao sacerdócio, o quanto era importante ter uma proximidade com Cristo, conhecer Jesus e conhecer realmente o amor de Deus por todos os cristãos”, contou Prevost.
“Mesmo se tivesse escutado isso cem vezes de formadores, padres, quando meu pai me falava assim, de uma forma muito humana e profunda, percebia que ali tinha algo a ser ouvido”, disse ele, que descreveu o pai como um educador, um professor de escola com grande capacidade de falar.
A entrevista foi publicada na noite do conclave que elegeu Prevost, nesta quinta (8), sem a informação da data exata de quando foi realizada. No perfil do jornal da emissora no Instagram, diz apenas que a conversa aconteceu “faz algum tempo”.
Nascido e crescido em Chicago, nos EUA, o americano lembrou dos anos de criança, vendo o empenho dos genitores na paróquia local. “Cresci em uma família muito católica. Tive conhecimento da Igreja pela experiência paroquial, no nível local mesmo, vendo essa dedicação dos meus genitores”, disse Prevost.
De amigos da escola católica e da proximidade com alguns padres teria nascido a ideia de se tornar sacerdote. “Depois conheci minha família religiosa, os agostinianos, e após um breve tempo de discernimento, conhecendo mais jovens que foram para os agostinianos, escolhi. Disse ’tá bom, vou para esse seminário e depois vemos'”, afirmou, dizendo ter 14 anos à época. Aos 27, em 1982, Prevost se tornou padre.
Na entrevista, o novo papa também comenta sobre os desafios da Igreja. “Muitas vezes deixamos a Igreja se tornar uma instituição, em parte ou totalmente. Penso ao Vaticano, à Santa Sé. Existem as dimensões institucionais, mas isso não é o coração do que é e do que deve ser a Igreja.”
“Penso que hoje a voz da Igreja, não da instituição, mas da Igreja vivida realmente como comunhão de fiéis, com a presença e o testemunho de homens e mulheres que doam suas vidas, muitas vezes em situação de violência, guerra, conflito, é uma voz que oferece muita esperança ao mundo”, disse.