Dentro da área de infectologia, as meningites são uma das maiores emergências médicas, devendo ser prontamente suspeitada e reconhecida nos prontos-socorros. Informação é a principal forma de prevenir a propagação desta doença, que causa tantos danos. Pegando como gancho o Dia Mundial de Combate à Meningite, celebrado em 24 de abril, a Inspirali, principal ecossistema de educação médica do país, convidou sua embaixadora na área de Neurologia, Dra. Leticia Rebello, para tirar dúvidas da população sobre o assunto. Confira:
O que é meningite?
R: Meningite é a inflamação grave das meninges, que são as membranas que revestem o cérebro e toda a medula espinhal. Pode ser causada, principalmente, por vírus e bactérias, e, em menor frequência, por parasitas ou fungos.
Quais os principais sintomas?
R: A doença possui uma tríade de sintomas clássica: febre; rigidez de nuca e alteração do estado mental. Além desses sintomas, pode ocorrer cefaleia e vômitos de repetição, muitas vezes com característica “em jato”. Os sintomas são, em grande parte dos casos, refratários a analgésicos sintomáticos.
Como é feito o diagnóstico?
R: Deve-se avaliar a presença de sinais meníngeos, sendo os principais deles a rigidez de nuca e os sinais de Kernig e Brudzinski, junto com alteração de nível e conteúdo de consciência (muitos pacientes apresentam-se mais sonolentos) e febre. Na suspeita de meningite, recomenda-se ainda a realização de exame de imagem com o objetivo de se descartar formações expansivas (exemplo: abcesso cerebral) que poderiam contraindicar a coleta do Líquido Cefalorraquidiano (LCR). O passo seguinte na propedêutica, é a coleta imediata do LCR com o objetivo de se identificar o agente causador da meningite, e assim, guiar a escolha terapêutica. No entanto, em casos de impossibilidade de realização do LCR, não se deve atrasar o início da terapia, mesmo que de forma empírica, com amplo espectro. O atraso no início do tratamento tem relação direta com o prognóstico do paciente. Em geral, para o tratamento empírico, emprega-se antibióticos e antiviral.
Quais os tipos e principais causas existentes? Quais as diferenças?
R: Elas podem ser causadas principalmente por bactérias, vírus ou fungos. As meningites bacterianas e virais, em geral, têm um curso de evolução mais agudo (menor do que 7 dias), enquanto as meningites crônicas, causadas por fungos, tuberculose e sífilis, possuem um curso mais arrastado (maior do que 7 dias), muitas vezes dificultando o diagnóstico.
Como é realizado o tratamento?
R: O tratamento com antiviral ou antibiótico deve ser direcionado para o tipo de patógeno isolado no líquor. A antibioticoterapia pode ser escalonada a depender da condição de base do paciente (casos de imunossupressão, infecção nosocomial), severidade do quadro, além de resposta inadequada a terapia inicial.
Como a doença é transmitida?
R: As principais meningites podem ser transmitidas por contiguidade em casos de sinusites e otites complicadas, além de contato com pessoas infectadas, pela via aérea (gotículas de secreções do nariz e garganta).
Como prevenir a doença?
R: A melhor forma de prevenção das meningites é mantendo a caderneta de vacinação atualizada: vacina meningocócica C e pneumocócica 10. De fato, com a implementação da vacinação contra a meningite no calendário vacinal, a incidência da doença reduziu de forma drástica.
Todo mundo está sujeito a contrair a doença? Quem corre mais risco de contrai-la de forma grave?
R: As meningites mais graves acontecem em pacientes em extremos de idades: crianças e idosos. Uma parcela da população que merece cuidado especial são pacientes portadores de doenças que afetam o sistema imunológico, como o câncer, HIV e uso de medicamentos imunossupressores.
Meningite pode levar à morte? Em quais casos?
R: A meningite é uma doença grave e pode levar a morte, principalmente quando há atraso no diagnóstico e início do tratamento. Além disso, pode evoluir para duas outras formas de alta severidade e letalidade: a encefalite (quando atinge a estrutura cerebral) e a meningoencefalite (quando acomete ambos o cérebro e medula). Além do alto potencial de letalidade, a meningite, quando complicada com encefalite, pode gerar sequelas importantes, tanto motoras, quanto de linguagem e comportamental, a depender da estrutura cerebral mais afetada. Os pacientes com maior fragilidade, múltiplas comorbidades, imunossuprimidos e extremos de idades são os casos mais graves.
A doença deixa sequelas? Quais?
R: Dependendo da severidade, a doença pode deixar sequelas irreversíveis. As principais são: alterações comportamentais e cognitivas (perda de memória), perdas visuais e auditivas, além de perda de força em membros e alterações de linguagem.