(FOLHAPRESS) – “Eu estou apavorada de ficar sem energia novamente”, relata Cíntia Matielo de Carvalho, 52, que tem uma filha de 11 anos com síndrome de Edwards. Por isso, a criança depende de diversos aparelhos hospitalares para sobreviver.
Após fortes chuvas nesta segunda-feira (8), a família que vive no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo, ficou sem luz às 15h30. A energia só retornou mais de 24 horas depois, às 19h30 desta terça-feira.
A síndrome é uma condição genética que causa alterações físicas e de desenvolvimento. O cromossomo 18, que deveria ser composto por um par de cromossomos, possui três. Por isso, a condição também é chamada de trissomia do cromossomo 18.
No início do apagão, o nobreak garantiu que o respirador da menina funcionasse. Porém, o equipamento estava quase sem bateria.
A jovem também depende de outros aparelhos, como oxímetro, bomba de difusão, base aquecida da traqueostomia e ar-condicionado -devido à síndrome, a menina não regula a temperatura do corpo e, por isso, depende do equipamento para manter o quarto refrigerado em 24ºC.
“Pedi mais um nobreak para o home care porque o respirador dela ia parar. Veio o nobreak e ficamos apenas com a ventilação mecânica dela ligada. Passamos sufoco e ninguém dormiu”, relata a mãe.
Por meio de um grupo do WhatsApp do bairro, vizinhos souberam da situação da criança na manhã desta terça e cederam um motorhome para abastecer os aparelhos.
“Só não passamos mais sufoco e não tivemos que ir ao hospital por causa deste casal que trouxe o motorhome para a porta de casa”, relata a mãe.
Em novembro, após a tempestade que deixou mais de 2 milhões de pessoas sem energia na região metropolitana, Cíntia também ficou sem energia durante 20 horas. Naquele episódio, os mesmos vizinhos do motorhome ajudaram.
“Minha filha passou muito mal nesta noite”, diz Cintia. A filha é cadastrada na condição de “sobrevida”, que é quando o cliente tem prioridade máxima na solução quando há falta de luz. Segundo ela, isso não ajudou a resolver a situação.
“Não serve para nada esse cadastro, disseram [a Enel] que tinham outras pessoas com prioridade. Foi um descaso total.”
A reportagem procurou a Enel na noite desta terça e questionou o que aconteceu na região em que vive Cíntia e sua família, mas a concessionária não respondeu até a publicação desta reportagem.
Na segunda, a Defesa Civil afirmou que foram registradas rajadas de ventos de até 75km/h no aeroporto de Congonhas, região onde fica a casa de Cintia.
Segundo o órgão, foram registrados quase 200 chamados de queda de árvore na capital paulista e 11 chamados para enchentes ou alagamentos.
Nesta terça, um novo temporal foi registrado na capital. Em nota, a Enel afirma que os ventos do segundo dia consecutivo de chuva chegaram a atingir 96 km/h.
“Desde a tarde de ontem, a companhia reforçou seu plano de ação com aumento das equipes em campo e cerca de 800 equipes seguem trabalhando ininterruptamente para restabelecer o fornecimento a todos os clientes impactados”, diz a empresa.
Ainda segundo a Enel, diversos pontos as quedas de árvores destruíram trechos inteiros da rede e que o trabalho de reconstrução em cada uma dessas ocorrência é complexo e muitas vezes demorado, pois envolve a substituição de cabos e postes, entre outros equipamentos.
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