(FOLHAPRESS) – Aos 32 anos, Gypsy Rose Blanchard começa de fato a viver. Alegação estranha para quem tem mais de três décadas de vida. Mas, desde o nascimento, nada em sua trajetória foi normal e seu caso ficou famoso no mundo inteiro -nos Estados Unidos ela é uma pop star.
A jovem é conhecida por, em 2015, ter pedido ao namorado que matasse a própria mãe após anos de abuso. Acreditando que foi destinada a uma péssima genética, sofrendo com distrofia muscular, deficiência intelectual, apneia do sono, asma e leucemia, ela descobriu que todos os diagnósticos foram inventados por Dee Dee Blanchard, sua mãe e cuidadora.
Por quase 20 anos, Gypsy usou uma cadeira de rodas sem que fosse necessário, se alimentou por sonda sem precisar, respirou com tanque de oxigênio, tomou medicações e fez cirurgias para tratar problemas de saúde que não tinha.
Gypsy foi sentenciada a uma pena de dez anos após se declarar culpada pela morte da mãe, e cumpriu sete anos. “A primeira vez na minha vida que me senti livre foi no meu primeiro dia na prisão”, diz ela em entrevista exclusiva ao F5 sete dias após ser solta. “Eu percebi que realmente sou capaz de começar a minha vida e vivê-la da minha maneira, o que me colocou numa jornada de autodescoberta.”
Sua história já foi tema de documentário, série, livro e agora é recontada na série documental “As Confissões de Gypsy Rose”, que estreia em 17 de janeiro no canal Lifetime. Durante seis episódios, gravados quando ela ainda cumpria pena, a jovem relembra sua vida, os excessos da mãe e o controle psicológico ao qual foi submetida por grande parte da vida.
Mais tarde, Dee Dee foi apontada como portadora de uma condição mental chamada Transtorno Factício Imposto a Outro (TFIA), ou síndrome de Munchausen por Procuração, distúrbio psicológico em que os pais buscam simpatia por meio de doenças exageradas ou inventadas de seus filhos para serem vistos como cuidadores altruístas.
Livre da tutela da mãe e construindo a vida que sempre quis, em 2022 se casou com Ryan Scott Anderson, um professor de ensino médio com quem começou a trocar correspondências em 2020.
Confira abaixo a entrevista.
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PERGUNTA – Como estão sendo seus primeiros dias fora da prisão?
GIPSY ROSE BLANCHARD – Estão indo muito bem até agora. Passo muito tempo com a minha família e meu marido. Está passando rápido, ainda estou tentando me adaptar a tudo.P –
Por que acha que a sua história se tornou tão popular?
GRB – Porque as pessoas se relacionam e pensam ‘se aconteceu com ela, pode acontecer comigo’. Eu realmente não esperava toda essa atenção, sou uma pessoa um pouco tímida. Ainda estou me ajeitando, mas o apoio que estou recebendo nas redes sociais é incrível e está sendo muito positivo, sou muito grata por isso.
P – Você gosta dessa atenção?
GRB – Nem eu e nem meu marido gostamos, estamos tentando ser pessoas privadas, mas ao mesmo tempo é o que é.
P – Você acredita que agora vai começar a viver de fato?
GRB – Sim. Na verdade, a primeira vez que me senti livre na vida foi no primeiro dia na prisão porque, pela primeira vez, eu realmente pude respirar e perceber que sou capaz de começar a minha vida e vivê-la da minha maneira, e isso me colocou numa jornada de autodescoberta.
P – O que você vem descobrindo?
GRB – Que eu não tenho mais ninguém me dizendo o que posso ou não fazer. As pessoas imaginam que a prisão é restritiva, mas algumas coisas, como fazer amigos, eu conseguia fazer lá, o tipo de coisa eu não tinha quando vivia com a minha mãe, então descobri a liberdade. Lógico que, depois de oito anos, percebi que essa liberdade também era restritiva. Agora, estando no mundo real, com liberdade total, eu estou tipo ‘isso é demais. O que vem a seguir?’.
P – Fez amigos na prisão?
GRB – Sim, fiz três boas amigas. Eu não tenho muitos amigos no meu círculo social, então quero manter amizades genuínas ao meu redor, para quem eu possa ligar em qualquer situação e que vão estar lá por mim.
P – Se sente culpada por ter mandado matar a sua mãe?
GRB – Com certeza, me sinto arrependida por isso. Na verdade, é o maior arrependimento da minha vida. Se eu pudesse, faria diferente. Acho que o motivo de não ter agido de outra maneira na época é que eu não tinha a educação e a consciência de que eu tinha outros meios de pedir ajuda. Olhando para trás, percebo que poderia ter feito de outra maneira, mas não consigo mudar o passado, então o que faço é trabalhar para construir um futuro melhor para mim.
P – Tem contato com a sua família por parte de mãe?
GRB – Tenho alguns primos que querem ter uma relação comigo, mas é um misto. Alguns querem manter contato, mas a outra metade quer distância, pelo menos por agora. Até decidirem sobre como se sentem após a morte da minha mãe e tudo o que aconteceu. Com alguns parentes eu falo, outros não.
P – Você parece bem próxima da sua madrasta e do seu pai.
GRB – Eu sou, tenho uma relação mais forte com a minha madrasta porque meu pai trabalha muito, fica muito tempo fora de casa. Eu conto com ela para tudo, construímos essa relação de mãe e filha.
P – Você acredita que os médicos, as autoridades ou até mesmo a sua família falharam ao não perceberem o que de fato acontecia?
GRB – Sim, acho que existem vários níveis de responsabilização que devem ser atribuídos aos médicos. Algumas coisas eles não suspeitaram por causa dos registros médicos. Eu dizia ‘acho que a minha mãe tem a Síndrome Munchausen por Procuração’ e isso não era levado a sério e nem investigado. A polícia não era acionada. Então realmente sinto que fui abandonada.
P – Quais seus planos para a partir de agora?
GRB – Quero fazer faculdade mais para frente, tem que ser algo que eu goste de fazer, o que ainda estou descobrindo. Não sei se quero exatamente fazer faculdade, mas uma especialização em algum ramo. Gosto muito de fazer cabelo e maquiagem, então posso estudar para isso e trabalhar em um salão ou algo do tipo. Mas quero apenas viver um dia de cada vez e aproveitá-lo do jeito que for. Quero que coisas boas aconteçam, mas você não pode planejar toda a sua vida, obviamente.
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